
Lateja o encanto da beleza
Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira... (Cecília Meireles)







FONTE: Final Sports - Porto Alegre, Brazil - http://www.finalsports.com.br/


A militância política feminista marcou desde início da década de sessenta a carreira da poetisa portuguesa Maria Teresa Horta. Empenhada na luta feminista, sempre fez da palavra uma maneira de enfrentar a opressão social/sexual e buscar liberdade de expressão. Na leitura do conjunto da obra é perceptível a marca de duas vertentes que se cruzam e dialogam: o erotismos e o engajamento político.
Na década de sessenta ocorre a publicação do primeiro livro de poesia Espelho inicial (1960), seguido por Tatuagem e Cidades submersas (1961). Nesses livros há uma surpreendente ruptura radical da linguagem poética, visto que Horta já se fazia membro atuante dos mais sugestivos Movimentos de Vanguarda que começavam a agitar os meios intelectuais e acadêmicos portugueses (Poesia 61 e Poesia Experimental). A ruptura com a discursividade da linguagem, como um dos aspectos mais significativos na proposta das vanguardas, faz da poesia um jogo de imagens caóticas feitas de metáforas e sinestesias:
Só
Só de solidão
Nos olhos
E um mundo de silêncio
Entre os braços
No mar os pescadores
Sem barcos
As searas nas lágrimas
-as algas
E a louca vontade
De poder dormir
Mar
Amar
Mercadores de pérolas
Sem lágrimas
E uma hidra
Pescadores
De dor
... (HORTA, 1983)
A poetisa não conseguiu, entretanto, ser totalmente fiel aos princípios dos movimentos, ou seja, romper com elementos simbólicos que se constituíram como uma marca primordial de seus poemas. A presença do simbólico é o aspecto revolucionário da poesia mais intensivo, pois o comprometimento com os movimentos sociais, sobretudo o feminismo, fez a poesia de Horta uma verdadeira revolução de linguagem poética. Uma poética que foi muito além dos jogos de linguagem para buscar um envolvimento da poesia com as questões humanas que vão além das adversidades de seu tempo e de seu país.
Nesse sentido, a força do erotismo aparece em 1962 em Verão coincidente de maneira clara e, sobretudo, através do ponto de vista da mulher, até então sempre filtrado pela tradição patriarcal, mesmo na voz de poetisas distantes das questões do feminismo. Esse ponto de vista feminino se consolida como um fato inédito na poesia portuguesa, pois até então o erotismo só se manifestara como presença velada, como já revelara a poesia de Florbela Espanca, no início da década de vinte do século passado, perturbando intensamente a crítica literária da época que não poupou Espanca de suas farpas preconceituosas em relação à dicção feminina que, ao ver dos críticos, deveria ser mais contida.
Além do erotismo emergente, a palavra poética revela significativamente o aspecto datado, devido ao engajamento da Horta na luta pela emancipação feminina e pelo envolvimento nas questões políticas revolucionárias que marcaram decisivamente as décadas de sessenta e setenta em Portugal. Assim, o início da valorização do corpo como lugar privilegiado de prazer e de expressão se torna um indício de que a luta das mulheres começa a surtir efeito:
Pedir-te da vertigem a
Certeza
Que tens nos olhos quando
Me desejas
Pedir-te sobre a mão
A boca inchada
Um rasto de saliva na
Garganta
(...) (HORTA,1983)
A repressão sexual (controle da sexualidade feminina) começa a ser desafiada, mostrando o envolvimento da poetisa com a causa das mulheres. Desta forma, a palavra poética deixa evidente a contextualização histórica, pois a partir de fatos da vida da mulher portuguesa, chega-se às condições das mulheres na História, ou seja, partindo do particular para o universal. É uma poesia de tom político, sem dúvida, já que reflete a questão da memória (ancestralidade) através das histórias ‘apagada’ das mulheres. Essas ‘heroínas’ que não constam da História, justamente porque seu universo sempre fora reduzido ao domínio do espaço privado. A poesia pretende mostrar que mesmo nestas condições reduzidas de mundo, a mulher teve a participação na luta revolucionária, sobretudo aquelas que aos poucos entraram na vida pública através do trabalho, principalmente, o trabalho operário:
Mulheres
Há nas mulheres
O sono duma ausência
Como uma faca aberta
Sobre os ombros
À qual a carne adere
Impaciente
Cicatrizando já durante
O sonho
E há também o estar impaciente
Todo o corpo
Sorrir não devagar
Claramente
Lugares inventados sobre
Os olhos
E há ainda em nós
O estar presentes diariamente calmas
E seguras
Mulheres demasiado
serenamente
Nas casas
Nas camas
E nas ruas
(...) (Horta, 1983)
Na década de setenta são publicados dois livros de poesia extremante provocadores:Minha Senhora de mim (1971) e Educação Sentimental (1975), um ano após a revolução portuguesa. No primeiro, fica evidente a hora do protesto através da poesia de contestação: protestar contra o silêncio da voz e do corpo é a palavra de ordem. Os poemas revelam os desencontros amorosos através de diálogos com a tradição das cantigas trovadorescas e palacianas. Nesse diálogo, aparece a revelação dos universos opostos de homens e mulheres. Há uma incessante busca das vozes ‘emudecidas’ ao longo dos séculos. Um verdadeiro resgate da vida das mulheres comuns, revelando sua participação ativa na construção da sociedade portuguesa que se torna metáfora de participação e gestação de mundo:
Minha senhora de mim
Comigo me desavim
Minha senhora de mim
Sem ser dor ou ser cansaço
Nem o corpo que disfarço
Comigo me desavim
Minha senhora
De mim
Em Educação sentimental, o ato amoroso se torna matéria de poesia revelado na poética livre de convencionalismo das figuras de linguagem que mascaram, muitas vezes, através de eufemismos o jogo erótico revelador da dinâmica da sexualidade. A presença das palavras ‘não-poéticas’ é uma forma de transgressão que quebra o convencionalismo da linguagem. Assim revela a intenção de quebrar o tabu em relação ao corpo, ou seja, todas as partes do corpo, sobretudo, as ‘impróprias’ à poesia (axilas, joelhos, etc...). É a celebração do corpo em todos os aspectos mais ‘proibidos’ que a poesia consagra.
O diálogo com a tradição literária (A educação sentimental de Gustave Flaubert) confirma o aspecto desafiador, pois, se há na obra de Flaubert um sujeito educado pelas convenções patriarcais, na poesia também há um sujeito receptor da educação, mas é conduzido por um sujeito feminino que leva o receptor da ‘educação’ à descoberta de todas as partes do corpo e de todas as formas de prazer, através do jogo erótico. Os poemas revelam o poder da palavra que desmistifica e ao mesmo tempo denuncia todas as formas de repressão e de convenção da sexualidade na formação (educação) sentimental/sexual.
São poemas que dão voz ao corpo, marcando na linguagem a oposição: palavra x silêncio. A palavra quebra o silêncio simbólica que representa o corpo reprimido pelo moralidade cristã, metáfora do pecado e da perdição mundana. O ato sexual se torna transcendência pela valorização do corpo que simboliza a revelação da voz feminina libertada do silêncio que marca a história de opressão das mulheres.
Geografia
Deitar-me sobre o
teu corpo
país da minha evasão
geografia de agosto
com um mês em cada mão
O rio que corre
em teu ventre
deságua em tuas pernas
Meu amor
a minha sede
é uma fêmea – uma égua
(HORTA, 1983)
Em Cronista não é recado (1967) os poemas fazem o registro da história pelo olhar do sujeito feminino. Neles aparece o reflexo do passado histórico, mas com um novo olhar para a história oficial, a partir do ponto de vista do dominado, sobretudo a mulher, eleita na poesia, a grande heroína renegada pela História oficial. Assim, os sujeitos dos poemas são: Mulheres, camponeses e operários.
A questão da mulher se confunde com a luta de classe, justamente por ser ela também a grande protagonista nas lutas do espaço público quando, por necessidade, entra neste domínio masculino, ou seja, o mundo do trabalho.
Os poemas marcam o período pré-revolucionário e registram os acontecimentos políticos e sociais que antecederam e provocaram a Revolução portuguesa. É através da polifonia das vozes de mulheres que contam a história do povo: voz do dominado, que passamos a conhecer esse universo desconhecido. Quem são essas mulheres? Como a história pôde calá-las? Elas deixaram, entretanto seus vestígios através da memória oral. As histórias contadas, as lendas populares, as cartas, as marcas nas artes, nos artesanatos, nos cantos, nos ‘causos’ e tantas outras formas de manifestações populares está registrada a presença da mulher na História.
São poemas narrativos nos quais as mulheres contam suas histórias. A vida cotidiana revelando a história não oficial do ponto de vista da própria mulher. Essa mulher aparece então diferente dos simulacros de mulher presentes em muitas narrativas e poesias nos quais não há uma enunciação comprometida com o feminismo. O eu-lírico assume aspecto de personagem e se transforma em personalidade histórica: A Mulher:
Pequena cantiga à mulher
Onde uma tem
o cetim
a outra tem
a rudeza
Onde uma tem
a cantiga
a outra tem a firmeza
Tomba o cabelo
nos ombros
O suor pela
Barriga
Onde uma tem
a riqueza
a outra tem
a fadiga
procura o pão
na gaveta
(...) (1983)
Em Mulheres de abril (1977), o destaque é a gestação da consciência política feminista que se funde à gestação da consciência revolucionária (questão datada?). A poesia marca a presença da mulher na luta revolucionária, mostrando o papel ativo na luta pela liberdade, partindo para um contexto mais amplo que é a condição feminina ao longo da História, ou seja, a luta silenciosa e árdua que há séculos as mulheres travam para conseguir vencer as barreiras da repressão. Na contestação a luta feminista se confunde com a luta operária, pois ambas se fazem grito de protesto contra o uso do corpo/mente das mulheres: o corpo político – a interdependência entre o político e o poético, como bem situa o poema:
Basta
Basta
-digo
Que se faça
Do corpo da mulher:
A praça – a casa
A taça a águas
Com que se mata
A sede do vício e da desgraça
(...) (HORTA, 1983)
Na década de oitenta, a obra poética ganha um novo direcionamento sem perder sua alta carga de eroticidade encontrada nos livros: OS Anjos (1983) Minha mãe meu amor (1986) e Rosa sangrenta (1987). Destaca-se a retomada do símbolo sagrados da poesia: Anjo e mãe, temas caros à tradição da poesia portuguesa. Desvinculando assim a imagem do anjo da mística religiosa tão presente na tradição literária portuguesa. Os símbolos do anjo e da mãe perdem a imagem de seres assexuados para se tornarem seres erotizados, desmistificando a imagem negativa da sexualidade. Há uma evidente integração entre o erótico e o sagrado na ligação íntima que aparece entre as imagens do corpo e do anjo na grande maioria dos poemas.
Anjos Mulheres – VIAs mulheres voamcomo os anjosCom as suas asas feitasde cristal de rocha da memóriaDisponíveispara voarsoltas...Primeirolentamente uma por umaDepois,iguais aos pássarosfundas...Nadando,juntasSecreta a rasar ochãoa rasar a fendada luano menstruopor entre a fenda das pernasÀs vezes é o açoque se prendena luzA dobrarmos o espaço?Bruxaspomos asas em vassourasde ventoE voamosComo as asaslhe cresciam nas coxasdiziam delaque era um anjo do marRondo alto,postas em nudez de ombrose pernasperseguindo,pelos espaços,lunaresda menstruaçãoe corpo desavindoNão somos violênciamas o vôoquando nadamosde costas pelo ventoaté à foz do tempono oceano denso(...) (HORTA,193)
Fonte: Literatura e Arte no Plural - Cronocópios - http://www.cronopios.com.br/
A revelação da sexualidade através da presença da menstruação como elemento significante desmistifica sentido negativo da feminilidade (tabus e crendices ligados à sexualidade feminina). O sangue aparece como símbolo da vida e da morte, mostrando que o corpo material, que exala impurezas, também participa da transcendência através do ato erótico na poesia. O ato de ousadia está em ligar a intimidade ‘proibida’ à descoberta do prazer, do desejo e da liberação que se constituem como experiência de prazer erótica/sagrado:
São os rios mais antigos
que se desprendem da maciez as estradas
a caminho
da branda foz dos pássaros
e das pernas (HORTA, 1987, p.65)
Em Destino (1998) e Só de amor (1999) a redução drástica de metáforas destaca uma certa mudez. O corpo além de ser o elemento de captação do mundo através das sensações ainda se manifesta como a grande presença no mundo através do rompimento de seu silêncio. É o corpo como símbolo de libertação na matéria da poesia. Apesar da presença do corpo, a provocação erótica perde força, pois fora conquistada ao longo das últimas décadas, período de conquistas feministas, sobretudo, no domínio da palavra.
Sabor
O teu travo a madrugada
A erva doce
O teu cheiro a madeiro
Nos cabelos
O teu sabor a noite
A lua cheia
O teu odor a cravo
Que se enleia
Nas axilas brandas e vagueia
Entranhando-se doido
Nos teus pêlos
(HORTA, 1999)
As barreiras e interdições, de certa maneira estão derrubadas graças à luta das mulheres engajadas no feminismo, rompendo suas amarras. O amor é o grande tema de todos os tempos que não perde nem um pouco de sua força. Ele se transforma em Só de amor pela busca de um novo significado para o nosso tempo de banalização. A força da poesia de sacudir e balançar a ordem determinada do mundo, pode também devolver à temática amorosa o poder de encantamento que sempre seduziu os seres humanos em todos os tempos.
Miriam Bittencourt é doutora em Letras e professora universitária de Literatura brasileira e Literatura portuguesa. Desenvolve pesquisa sobre o gênero e estudos culturais. E-mail: miriam_mbitt@hotmail.com.



Fonte: YourHub.com - Denver, CO, USA - http://br.f338.mail.yahoo.com/


Questionado sobre a expectativa para 2007, qualquer judoca da equipe brasileira logo vai falar em treinos intensos e preparação. Certamente dirá que é uma grande oportunidade de representar o país em uma competição de nível internacional, e que conta com o apoio da torcida e com a vantagem de lutar em casa. Afinal, em 2007 o Rio de Janeiro será sede... do Mundial de judô.
Fala-se muito no Pan, mas meu sonho sempre foi, desde criança, participar de uma Olimpíada e de um Mundial", afirma Leandro Guilheiro, que já tem meio caminho andado. Em Atenas 2004, conquistou o bronze."Tenho confiança de que o nosso será um grande Mundial, que será um grande evento que dará notoriedade ao judô brasileiro", torce o judoca. A base de compearação também ajuda. "No ano passado, no Cairo, a estrutura era precária, o lugar era sujo, foi horroroso. Nada pode ser pior do que aquilo." Após ter viajado para o Mundial de equipes em Paris como convidado, o meio-pesado Luciano Corrêa é um dos mais otimistas. "Este ano tivemos o exemplo do basquete, que teve o apoio da torcida aqui em seu Mundial. No ano que vem, teremos a mesma recepção", anima-se Correa. "Quem sai ganhando é o judô brasileiro, que fica mais forte."
Mas, e o Pan? Questionado sobre os Jogos, marcados para um mês antes do Mundial, também no Rio, o veterano Mário Sabino não esconde o cansaço. Não pelas duas horas de treinamento que tinham terminado minutos antes, mas da pergunta. "Há uma inversão de valores pela imprensa, que prefere o Pan, mas para nós, o Mundial conta muito mais", responde Sabino, que dispara a crítica. "A gente escuta desde já sobre o Pan, que temos ir bem para "fazer bonito" por causa do COB (Comitê Olímpico Brasileiro)." Medalhista Olímpico em Atenas-04 e figurinha carimbada nos últimos pódios Pan-Americanos - bronze em Mar del Plata-05, prata em Winnipeg-99, ouro em Santo Domingo-03 -, Flávio Canto é mais político.
"Há uma inversão de valores pela imprensa, que prefere o Pan, mas para nós, o Mundial conta muito mais", responde Sabino, que dispara a crítica. "A gente escuta desde já sobre o Pan, que temos ir bem para "fazer bonito" por causa do COB (Comitê Olímpico Brasileiro)." Medalhista Olímpico em Atenas-04 e figurinha carimbada nos últimos pódios Pan-Americanos - bronze em Mar del Plata-05, prata em Winnipeg-99, ouro em Santo Domingo-03 -, Flávio Canto é mais político.
"O Pan ganha status por ser aqui. Aumenta o interesse pelo esporte e é muito importante principalmente a longo prazo, para as gerações que estão começando", filosofa.Hora da transição para veteranos
Essas novas gerações, inclusive, terão as últimas oportunidades para assistir aos ídolos no Rio de Janeiro. Após uma trajetória de vitórias para o judô brasileiro, veteranos como Flávio Canto, 31, e Mário Sabino, 34, já pensam na vida pós-tatame."Está chegando a hora da famosa transição", brinca Canto. "Atleta vive síndrome de Peter Pan, nunca pensa no depois, mas eu já tenho minha fundação e hoje mesmo o judô já é secundário", conta o judoca.Tão secundário que até mesmo a conquista olímpica tem menos valor. "Depois que você descobre como mudar a vida das pessoas com o esporte, a sua conquista parece menor", afirma Canto, que ainda prefere não marcar a despedida. "Prefiro ser imediatista, não quero ficar pensando demais."
Grande ícone da geração 2004, Canto assegura ter confiança de que os novos nomes da seleção manterão a rotina de bons resultados. "O judô tem muitas flechas, o que é um grande trunfo nosso. Uma delas eu sei que sempre vai acertar."Já Mário Sabino, capitão da seleção brasileira, já tem planos definidos. "Vou fechar o ciclo olímpico e, após Pequim, quero seguir no judô, mas do lado de fora do tatame", afirma o judoca que participou da seletiva para as Olimpíadas de Barcelona-92.
Fonte: UOL Esporte - São Paulo, SP, Brazil - http://esporte.uol.com.br/


Nota do Original - Carlos Machado - Poesia.Net: Nascido em Garanhuns, PE, em 1973, o poeta Fabiano Calixto mora em Santo André, na área metropolitana de São Paulo. Graduado em letras, ele tem poemas, resenhas e traduções editados em revistas e jornais literários daqui e do exterior. Em poesia, estreou em 1998 com o livro Algum. Em seguida, publicou Fábrica (2000) e Um Mundo Só para Cada Par (2001), este último em parceria com Kleber Mantovani e Tarso de Melo. Sua coletânea de poemas mais recente é Música Possível, lançada este ano. Segundo Calixto, o livro Fábrica nasceu de sua experiência pessoal como trabalhador numa indústria mecânica do ABC. Vem desse volume o primeiro poema transcrito ao lado. Aliás, é o texto que dá título ao livro. O poeta destaca a estranha química que (não) se estabelece entre o corpo do trabalhador e os rigores da operação fabril: "o pé inoxidável / retalhando odores". Ou, ainda: "uma gota de suor / suspensa no óleo / reafirma uma / reação química". Observe-se a ironia: suor e óleo não se misturam. Portanto, a reação parece estar aí no sentido de rejeição.Os poemas seguintes vêm todos da coletânea Música Possível. "Da Cidade" é o poema de abertura do livro. Na paisagem urbana, o poeta enxerga "um exagerado estrangulamento de tempo" e uma chuva metafórica que cai sobre "esse declínio civilizado". Outra visão da cidade é mostrada em "Oratório". Por fim, em outro momento do volume, ele retorna à terra natal, no poema "Garanhuns, PE". Um traço interessante que se pode notar no trabalho de Fabiano Calixto é que, mesmo com a secura e a contenção perseguidas em cada verso, sempre sobram frestas por onde vazam incontroláveis gotas de emoção.
Abraço,
Carlos Machado


A Federação Espanhola de Judo levou a efeito, no dia 23 de Setembro, o Torneio Internacional de “ San Mateo” para Seniores em Oviedo, Espanha.
O judoca do Judo Clube de Ponta Delgada, Nuno Carvalho, participou no referido torneio, na categoria de -60Kg, por ter sido seleccionado para o efeito, pela Federação Portuguesa de Judo.Nuno Carvalho Alcançou a segunda posição do pódio na sua categoria de peso. No seu “percurso” rumo ao pódio, Nuno carvalho, venceu 3 combates, só conhecendo o sabor da derrota na final, frente ao Moldavo Olienic, como resultado de um Shido (castigo-penalização) do qual resultou uma vantagem mínima para o seu oponente. Fruto do seu desempenho Nuno Carvalho irá representar a selecção de Portugal, na categoria de -60Kg, no Torneio Internacional K. KOBAYASHI a 1 de Outubro próximo.
Fonte: Acores.Net - Ponta Delgada, Portugal - http://www.acores.net/


Algumas imagens chegam até nós provocando uma sensação de estranhamento. Pela força indescritível de sua presença, vão cada vez mais atraindo, arrastando e seduzindo-nos como um canto de sereias. Não há miragens, o inferno é ver. Essa viagem nos causa um quase mal-estar, mas sua força, seu modo de nos arrancar os olhos, consiste nesse quase. A imagem mantém-se em nós tão somente por ser esse fora indescritível, pelos lances que vimos, mas não conseguimos apreender, como um vulto. Assim encontramos as fotografias de Francesca Woodman, figura curiosa que, como suas imagens, seduziu sem deixar pistas. Woodman entrou para a fotografia usando o corpo como experiência, como laboratório de si. Fez uma viagem sem volta ao limiar do corpo, como se percorresse seus limites para encontrar o inevitável: seu devir-outro-fotográfico, sua imagem-vulto: trata-se de uma quase assinatura como se no meio do tumulto animal da vida, uma outra imagem, ou sombra, se intercalasse, não como pólo gerador daquelas imagens, como autor da obra inscrita mas, pelo contrário, como o que deixa apenas um rastro secreto, como aquele que ao movimento, ao que é animado, confundindo-se com a pedra, tornada para nós tumular – aquela que guarda o segredo do nascimento da arte. Não é, portanto, uma alma ou subjetividade criadora, mas um corpo deitado, na dor, no sono ou na morte. É a dispersão do corpo, do rosto e do próprio olhar, de um corpo que jaz enterrado na fronteira entre a ausência, a aparição, o desaparecimento. De um corpo que sempre reflete à sombra de uma outra imagem, uma imagem falha; que quando mirado, se dispersa entre as coisas do mundo. Nessa esfera não há representação do rosto nem, portanto, do olhar. Seu rosto nada revela. A verdade de sua aparência é um enigma, um exílio. Sua substância acontece, fora de si, no espaço que há entre a força que o move e o mundo que o acolhe. Sua imagem não é a revelação de uma realidade, mas de uma sombra, de algo que é inteiramente vivo e no entanto não orgânico. Há nas fotografias de Francesca algo que nos força a pensar. Este algo nos arremessa de encontro a realidades em que muitas vozes se atravessam, por vezes ouvimos Artaud: o pulsar o corpo sem órgãos; por vezes Bataille: a febre e a intensidade; mas por vezes, entre a sombra e a claridade o canto silencioso de Rilke: a sombra da morte. Mas isso, esse turbilhão de coisas e vozes, nas fotografias de Francesca Woodman, só pode ser apreendido a partir de uma perspectiva da sensação, em vôos que o olhar mergulha no diverso e nele se perde, sob a égide da paixão, da dor ou da morte. Em sua primeira característica, e sob qualquer tonalidade, essas imagens só podem ser sentidas. Não é uma estrutura, mas uma abertura, a fissura pela qual os olhares se atravessam. Ela é também, de certo modo, o incomunicável; segundo o caso da arte, o incomunicável, passível no entanto de comunicação. Nas suas fotos, cada imagem parece perdida de uma atmosfera identitária, em cada foto é sempre outra, como se seu corpo estivesse mergulhado em um contínuo jogo de simulacros onde a origem, a verdade, a matriz, há muito se apagou. Não há realidades, mas tudo é o que é: um corpo estendido no deserto de uma paisagem. O deserto é a fotografia, mas o corpo parece atravessado de sensações, de febre, de morticidade. Tudo parece vivo e morto. como se a vida fosse o fora da morte, mas a morte o seu dentro, sua afirmação inevitável.
Francesca transcorre pela linha que cruza de uma realidade a outra. Nas suas fotos, as linhas estão sempre se encontrando, fabricando dobras, redobras, criando um aberto de possibilidades com a força de uma máquina desejante, que da sua intensidade-corpo, passa para uma máquina-desejo, que, no seu funcionamento, engendrada uma corrente de fluxos, cortes, vultos, peles. Nas suas imagens, há sempre uma pulsação de intensidades operando no seio de um acontecimento: série binária é não linear vazando por todas as direções. O desejo não cessa de efetuar acoplamentos de fluxos, pensamentos, volúpia, sobra, pele. O corpo de Francesca parece amarrado ao seu limite, mas dele escorre uma leveza indescritível. A sua imagem revela-se como uma quase epifania, mas nunca da ordem de um sagrado. Sua imagem atravessa a fotografia como o Monge Negro rasga a retina do jovem Kovrin, conduzindo-o ao seu limite, mas a atração também. Kovrim é atraído a ir, e vai atravessando todos os riscos que implicam esse ir: Kovrin reteve a respiração, seu coração parou de bater e o mágico, extático transporte que há muito tempo esquecera, voltou a palpitar em seu coração. O susto é inevitável. Assim foi Francesca na sua experiência com a fotografia, mas sobretudo, na sua viagem à superfície do corpo. Lembremos Valery: o mais profundo é a pele. Essa foi a sua viagem, ao profundo da superfície, às entranhas da derme. Assim vamos nós ao encontro das suas imagens, numa experiência da sensação e do ver. O susto arderá através das retinas.
Francesca Woodman nasceu em Devem, Colorado, em 1958. Começou a fotografar aos 13 anos. Seu foco de experiências era o próprio corpo. Em Janeiro de 1981 publica o livro “Disordered Interior Geometries”. Uma sema depois, atravessa a janela do seu apartamento.
Fonte: Cronocópios





10/09/2006 
Fonte: Jerusalem Post - Israel - http://www.jpost.com/



