quarta-feira, outubro 20, 2010

Inquietude refletida nas telas

Sara Saar
Do Diário do Grande ABC

"Sempre existe inquietação no artista. Se não houver, já morreu ou deveria ter morrido", opina em tom bem-humorado o paulistano José Guyer Salles, 68 anos, que exibe panorama da carreira na mostra Gravuras e Aquarelas de Guyer Salles. Com entrada gratuita, a individual tem abertura quinta, no Sesi São Caetano.

Este permanente estado inquieto pode ser observado na produção, nunca linear. Segue diferentes direções em relação a técnicas e temáticas. "Ora o vento sopra para um lado, ora para outro", compara o artista.

Na exposição, que abarca digigrafias de 46 obras, entre gravuras e aquarelas, o espectador é estimulado a refletir. "O trabalho do artista é sugerir, criar estados. Cada pessoa interpreta de acordo com sua pulsão interna", avalia.

Todas as principais fases tiveram obras pinçadas para a mostra. Entre a década de 1960 e o início de 1970, Salles se voltou para o mundo dos sonhos, tendo como referência a mitologia. "Era fascinado pelo mundo junguiano (refere-se aos estudos do psiquiatra suíço Carl Jung), na busca de arquétipos", explica.

Até meados dos anos 1970, concentrou-se no onírico, sem influência mitológica. "Não há razão objetiva para a mudança. O artista precisa focar em um assunto, senão o trabalho não resulta em nada." Mais tarde, até os anos 1980, elementos da realidade serviram de inspiração. "Criei obras voltadas para o dia a dia, para a natureza morta, a partir de espaços internos como casa e atelier. Faço referência ao mundo do aqui e agora", analisa.

Já, durante a década seguinte, brincou com a imagem das carpas japonesas. "Era o encanto por aquele ser bonito, produto do meio aquático. O movimento das águas me fascinou durante bastante tempo."

Nos anos 2000, ainda teve breve ‘namoro'' com a arte abstrata. "Curiosamente, sempre tive dificuldade para nomear obras figurativas. No caso das abstratas, os nomes vinham com bastante facilidade, inspirados na literatura", compara.

De volta ao figurativo, Salles iniciou há três anos nova fase. Retrata mulheres malabaristas. "É o elemento feminino que busca equilíbrio no caótico", analisa. Salles seguiu a profissão contra o gosto do pai, que lhe apontava a engenharia. Sobre a decisão, comenta aos risos: "Desde criança, gosto muito de desenhar. Fui procurando o meu caminho até que, quando dei por mim, já estava fazendo arte".

Gravuras e Aquarelas de Guyer Salles Exposição. Abertura na 5ª. No Sesi São Caetano - Avenida Santo André, 810, São Caetano. Tel.: 4238-1400. Ter. a 6ª, das 8h às 20h, 2ª e sáb., das 8h às 17h. Até dia 3. Entrada franca.

FONTE: Diário do Grande ABC

http://www.dgabc.com.br/

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