terça-feira, maio 20, 2008

1968: o ano em que o Festival de Cannes parou


14/05/2008 - 08h08 - Atualizado em 14/05/2008 - 08h21
1968: o ano em que o Festival de Cannes parou
21ª edição da mostra de cinema foi interrompida antes da premiação. Cineastas Roman Polanki e Milos Forman boicotaram competição

Carla Meneghini
Do G1, no Rio

Em maio de 1968 o Festival de Cannes parou. Naquele ano, pela única vez na história, o evento interrompeu suas competições e deu por encerrado o festival de cinema mais importante da Europa ainda no meio de sua programação.

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O burburinho começou em 13 de maio, quando os cineastas Jean-Luc Godard, François Truffaut e Claude Lelouch chegaram à 21ª edição do evento para espalhar o espírito da revolta que acontecia em Paris desde o início daquele mês. Em seguida, os diretores Roman Polanski, Louis Malle e a atriz Monica Vitti, que integravam o júri do festival, anunciaram sua adesão ao protesto, no dia 15. Para terminar, Milos Forman, Carlos Saura e Alain Resnais, que disputavam a Palma de Ouro, retiraram seus filmes da competição, formalizando o boicote. O Palácio dos Festivais, sede da mostra, foi tomado por discursos políticos inflamados e virou ponto de encontro de militantes, até que no dia 19 de maio a organização do evento divulgou o encerramento da competição. Naquele ano, a entrega da Palma de Ouro cederia lugar à política.

Engajamento político
Não é para menos: o cinema teve papel ativo e fundamental na agitação de 68. Inspirada pelo pensamento de intelectuais como Herbert Marcuse, um dos principais defensores da Nova Esquerda, ou do situacionista Guy Debord, a revolta dos estudantes franceses coincidia com o pensamento dos cineastas da Nouvelle Vague, movimento artístico marcado pela transgressão moral e estética, de que participaram Godard, Truffaut, Claude Chabrol, Eric Rohmer, Jacques Rivette e outros.

Em "A chinesa" (La chinoise), de 1967, Godard prenunciou os valores de justiça social defendidos pelos estudantes nas ruas e pela greve geral dos trabalhadores franceses, já que gira em torno da exaltação do operariado. Mas o engajamento dos cineastas à causa dos estudantes tornou-se evidente quando o então ministro da cultura, André Malraux, sob o comando do general Charle De Gaulle, retirou Henri Langlois -- uma espécie de padrinho dessa geração -- da direção da Cinemateca Francesa. Liderado por Godard, um grande grupo de cineastas deu início a protestos. O discurso foi formalizado no texto “Os Estados Gerais do Cinema”, fazendo referência à revolução de 1789. A atitude ganhou apoio de grandes nomes da sétima arte de todo o mundo, como Alfred Hitchcock, Federico Fellini e Akira Kurosawa, que enviaram telegramas calorosos de adesão. A partir daí, Godard mergulhou no cinema político de tintas revolucionárias e criou o grupo Dziga Vertov, em homenagem ao cineasta construtivista russo. Mas, sem perspectiva, os pilares ideológicos do cinema de 68 começaram, aos poucos, a desmoronar.

Tema de filmes
Desde então, o cinema revisita o fervor daquele maio e o esvaziamento do movimento que se seguiu. Esse sentimento de sonho perdido está presente no longa-metragem “La maman et la putain” (A mãe e a prostituta) dirigido por Jean Eustache, que venceu o grande prêmio do júri de Cannes em 1973. O tema também foi abordado por Louis Malle em “Loucuras de uma primavera” (“Milou en Mai” no original). No filme, o cineasta retrata a revolta de 68 num tom de comédia e aposta numa leitura

Divulgação
"Sonhadores", de Bernardo Bertolucci, faz um retrato romântico das revoltas entre o desencanto e a crítica sarcástica. Philippe Garrel, que havia dedicado o documentário experimental “Les hautes solitudes” ao maio de 68, voltou ao assunto recentemente, em 2005, no longa-metragem “Amantes constantes” (“Les amants reguliers”). O curioso foi que o filho do cineasta, Louis Garrel, que encarnou o protagonista de “Amantes constantes”, estrelou também “Os sonhadores”, de Bernardo Bertolucci, um retrato romântico da revolta estudantil da mesma época.

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FONTE (image include): Globo - Brazil

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