terça-feira, março 25, 2008

Um gênero literário chamado crônica

Poetry
Charalampos Mavrommatis
view image critique photo view portfolio (48 images)
****************************************************

Um gênero literário chamado crônica
Por Joca Souza Leão

A crônica é filha de Montaigne. Nasceu em 1580, com o livro Ensaios. Com o tempo, o jornal a conquistou. Ao contrário do romance, da novela, do conto e do ensaio, é de leitura rápida, fugaz, consumida junto com noticias. Percepções, visões, opiniões, contemplações, alumbramentos e críticas. Pessoais. Coloquiais como uma conversa entre autor e leitor. Bem humorada ou desaforada, refletida ou passional, isenta ou apaixonada, doce ou salgada. Crônica.
“Declinada na primeira pessoa, a crônica alça vôos à irresponsabilidade e à falta de compromissos formais”, diz o escritor Mário Hélio. Trata de temas contemporâneos que têm a ver com a vida das pessoas, das ruas, dos bairros, das cidades, dos países e do planeta em que vivem seus cronistas. Com freqüência, é nostálgica. Traça paralelos entre o ontem e o hoje, pouco se arrisca no amanhã. Assim é a crônica, desde mocinha.
Assim são as crônicas de Machado de Assis, Lima Barreto, Mário e Oswald de Andrade, Rubem Braga, Carlos Drummond, Otto Lara Resende, Sérgio Porto (o Stanislaw Ponte Preta), Paulo Francis e tantos outros. Assim são as crônicas dos pernambucanos Antônio Maria, Nelson Rodrigues, Mário Melo, Aníbal Fernandes, Mauro Mota, Carlos Pena, Renato Campos, Hermilo Borba, Paulo Malta, Celso Rodrigues e tantos mais poderia citar, Pernambuco é terra de cronistas.
O poeta Pietro Wagner Lima observa que “a crônica tem no seu próprio nome o seu principal problema: o tempo. Sem trocadilho algum, a crônica sempre corre o risco de ser anacrônica, e aceita numa boa esse risco, porque, afinal, apesar de ser o tempo a sua definição, termina por ser também apenas um subterfúgio para o ‘algo mais’ que a faz literária: o estilo”. Assim, lendo uma crônica de Nelson Rodrigues que fala de um jogo de futebol há 30, 40 anos, o que nos fascina não é mais o jogo, mas o estilo que quase o pinta como tragédia.
Na crônica de Montaigne, Paris. Na de Machado e Lima Barreto, o Rio. Na de Mário e Oswald, São Paulo. Na de Carlos Pena e Renato Campos, o Recife, observado por quem lhe caminhava pelas ruas. Por quem lhe freqüentava as casas, ricas e pobres. Ia tanto ao Leite quanto à Imprenssadinha , ao Mercado da Madalena e à feira de Casa Amarela, tomava cerveja, comia mão-de-vaca com farinha e pimenta, jogava conversa fora. Ou, apenas, sentava “calmamente num banco de jardim, comendo chocolates”.
Renato sentia-se preso ao Recife, “nunca, porém, como um Robinson Crusoé cansado da sua ilha”. E Carlos o sentia cidade flutuante, “metade roubada ao mar, metade à imaginação, pois é do sonho dos homens que uma cidade se inventa”.

FONTE: pe360graus.com - Recife,Pernambuco,Brazil

Nenhum comentário:

Postar um comentário