quarta-feira, outubro 31, 2007

As vanguardas dos anos 50 e 60 estão velhas


As vanguardas dos anos 50 e 60 estão velhas
Quinta, 17 de Agosto de 2006 09h00
Affonso Romano de Sant'Anna já se pronunciou a respeito de "Odeio Poesia", texto de Hildeberrto Barbosa Filho, divulgado no "Correio das Artes", suplemento do jornal "A União": "Ensaio corajoso, inteligente e oportuno". E chegou a sugerir que ele fosse enviado para publicação em "Rascunho", jornal literário de Curitiba, Paraná, cuja linha editorial é bastante polêmica.
Também o poeta Marcos Tavares, em sua coluna no "Jornal da Paraíba", já tomou posição: "(...) Em recente entrevista também no 'Correio das Artes', eu disse que a poesia estava ficando fácil, muito fácil, frase que foi até o título da matéria assinada por Linaldo Guedes. A poesia moderna facilitou que os maus poetas façam prosa partida em versos, prosa de má qualidade e tentem vendê-la como poesia. E escreve o bancário, o doutor, o advogado, o diletante, todo mundo fazendo poesia abundantemente ruim, quando devia fazer concurso para o Banco do Brasil ou estudar corte e costura". E arremata: "Gostei da coragem de Hildeberto e espero que esse filão progrida e que a crítica literária deixe de ser obra de cortesia e passe a analisar friamente a obra, pois para isso existem os críticos".
Outro a se pronunciar, foi o poeta Sidney Wanderley, de Natal, Rio Grande do Norte: "Identificação total, algo mais que concordância, com as suas antipatias e impaciências poéticas. Também ODEIO POESIA, pelo menos as das duas nefastas famílias que você aborda e caceteia. Minha porrada solidária nos derramados confessionais e nos neoconctretóides".
Já o ficcionista cearense Pedro Salgueiro, foi conciso e contundente no e-mail que enviou ao poeta de "A Ira dos dias": "Parabéns pelo seu belo artigo na "Cronópios", uma cacetada nessa corja de farsantes e pretensiosos..."
Flávio Petrônio, que mantém coluna semanal em "A União", sentencia: "Violando o culto ao previsível, a crítica literária pode ajudar irritando. Algum poeta analisado pelo crítico pode se indignar. Mas pouca coisa consegue fermentar, tanto a poesia quanto a possibilidade de incompreensão. Já que eu acredito que a poesia é realidade criada até mesmo da fantasia, mas, jamais, de alienação".
Bráulio Tavares, por sua vez, em artigo - "Meus caros Poetas" - publicado no "Jornal da Paraíba", como quem não quer querendo, vai direto ao assunto, embora pareça tangenciá-lo: "(...) Como já falei aqui, a maioria (dos poemas) não me toca de modo especial, nem no intelecto, nem nas emoções. Ler um poema alheio é como ver a foto de uma família alheia: 'Esta foto é de minha mulher e meus dois filhos. Que tal? Você acha que minha família é boa? Gostou?' O que podemos dizer, caros poetas? Eu prefiro dizer que gostei, afinal de contas, é a família do cara. É o poema do cara. Custa nada dizer que gostou?" E continua: "Às vezes, contudo, a gente gosta. Tem poemas que parecem despregar-se do autor e pertencer a um patamar diferente deste onde vivemos nós: o patamar da Linguagem. Isto não quer dizer que a Linguagem seja superior à vida real, mas que ela está num nível um pouco mais abstrato do que este onde existimos, e é nesse nível dela que os produtos dela precisam ser avaliados". Finalmente, escreve Bráulio: "(...) O poema vira um problema quando é um mero registro de uma emoção mas a linguagem em que foi expresso não gera emoção em ninguém que não seja o autor".
Quanto a mim, creio que já expus as minhas convicções sobre esse assunto em artigos que venho publicando ao longo do tempo na imprensa paraibana. Que o diga "Os queridinhos da mídia", quando, entre outras coisas, escrevo: "(...) o concretista retardatário é apenas um sobrevivente da escola criada pelos irmãos Campos e Décio Pignatari. E isso porque ainda não soube assimilar a lição de Mário de Andrade: 'Em arte: escola = imbecilidade de muitos para vaidade de um só'". Ou, ainda, o texto sobre Carlos Drummond de Andrade: "O outro Drummond, o arguto observador da vida humana, somente o descobri passada a febre das vanguardas, pois, até então, cultivava-se um discurso metalingüístico que havia praticamente abolido a 'autobiografia do imaginário'. Quer dizer, o eu lírico parecia ocultar-se atrás do poema para dar vez ao poeta-artesão, cuja performance e virtuosismo com a linguagem, dificilmente, convertia essa última na 'morada do ser'. É que, elevada à milésima potência, a técnica constituía-se num processo de reificação do homem".
Já quando o poeta e crítico paulista Reynaldo Damázio me apontou como tributário da Poesia Concreta, vali-me da tese de doutoramento que João Batista de Brito escreveu a propósito de minha poesia: "(...) Ora, fossem os meus poemas tão impregnados do concretismo, jamais, em nenhum momento, JBB haveria de estudá-lo à luz dos preceitos bachelardianos, até mesmo porque todo e qualquer esforço nesse sentido resultaria em vão. Pois, com efeito, Bachelard está muito mais para brevês do que para breviários, circunstância que o torna receptivo a poemas que alçam vôo compelidos mais pela imaginação do que pelo construtivismo".
Oportunamente, retornarei a esse assunto.

FONTE: Jornal O Norte - João Pessoa,PB,Brazil

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