terça-feira, dezembro 26, 2006

Papai Noel de quimono


O Papai Noel resolveu trocar a roupa vermelha por um quimono. E decidiu que os presentes não viriam somente na época do Natal, mas o ano inteiro. Esta foi a solução encontrada pelo professor William de Souza, 48 anos, para ajudar os moradores da comunidade Parque Flora, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. O que começou, há 16 anos, com um galpão em cima de sua casa, hoje se transformou em uma academia, que oferece musculação e aulas de judô gratuitas. O público alvo são crianças, a partir de 4 anos de idade, e adultos.

A história teve início quando William e mais sete amigos, que trabalhavam numa mesma academia, resolveram montar um espaço de encontro para continuarem unidos. Cada um levou alguma coisa, como televisão, vídeo cassete, provas em fita sobre atividades físicas e campeonatos, tudo para se manterem reciclados na área. Só que alunos acabaram aparecendo, mesmo sem propaganda, e foram aceitos.
“Como o espaço ficava vazio na maior parte do tempo e eu tinha hora vaga, os alunos acabaram aparecendo. O que começou com apenas duas crianças, em uma semana, já não podíamos receber mais ninguém”, explica William. “Na época, nós tivemos que fazer uma triagem e só foi possível ficar com 20 meninos que precisavam mais de ajuda”, completa.

Mas a iniciativa só aumentava. Quando o grupo fundador se dispersou, William percebeu que não podia acabar com um projeto que estava dando certo. Então, teve a idéia de comprar um terreno maior e transformar o espaço em cima de sua casa em uma fábrica de vassouras, para que não se precisasse de patrocinador. “As pessoas que treinavam eram as mesmas que trabalhavam na fábrica de vassouras. Eu comprava a matéria-prima e cada um separava algumas unidades para serem vendidas”, conta o professor de judô.

Depois que a fábrica teve um prejuízo de 5 mil unidades, quando foi obrigado a utilizar o código de barras, as portas foram fechadas. Mas, antes procuraram a prefeitura para ver se alguma ajuda poderia ser dada. O auxílio acabou vindo, anos depois, dos próprios alunos, que se tornaram monitores e professores. Este é o caso de Aline de Oliveira, 22 anos de idade, que além de professora de judô de crianças, é filha de William:
“Meu pai que me influenciou a entrar no esporte. Desde os 5 anos eu pratico luta e estou como professora há três. Os meus alunos têm entre 5 e 12 anos e nenhum deles paga nada, tudo é de graça, inclusive o uniforme”, conta a menina, que já foi campeã brasileira e da Copa Rio.

Outra que começou desde criança e que hoje é professora é Maria do Carmo, 20 anos. Ela tem hoje como aluna a sua irmã, Samira, de apenas 4 anos de idade. “Eu tinha 11 anos quando comecei a praticar judô. As inscrições estavam abertas para meninas e como não tinha opção de lazer, eu resolvi participar do projeto”, conta. Da época em que trabalhava na fábrica de vassouras, ela também lembra com carinho. “A fábrica era boa, porque ocupava nosso tempo. E, além disso, o dinheiro era revertido para a gente”, explica a monitora há três anos e vice-campeã estadual e carioca, competições em que participou este ano.
Outro campeão que o projeto já formou foi Ademis da Conceição, 20. Este ano, em novembro, ele ganhou o campeonato brasileiro, em Minas Gerais:

“Eu participo do projeto desde os 4 anos de idade. Fui da primeira turma e hoje quando eu olho para trás vejo como as aulas foram importantes. Eu era muito brigão e hoje eu vejo briga de uma outra forma, eu sei que alguém pode se machucar. Sou muito mais tranqüilo”, conta o menino que atualmente é atleta do exército.

O nosso Papai Noel já teve muitas conquistas. Um de seus maiores orgulhos é ver que ex-alunos estão no caminho certo. Mas, ele ainda sonha com muita coisa. Um de seus desejos é que, em 2007 a parceria com o 2º Tempo, projeto da Ong Viva Rio, retorne:
“Eu conquistei muitas coisas na minha vida. Fiz faculdade, pós-graduação em treinamento, e por causa disso, eu trabalho em quatro lugares e posso bancar este projeto. Muitas coisas eu tiro do meu salário. Mas quando o 2º Tempo veio para cá, ele deu uma renovada no nosso ânimo. Tivemos mais de 200 alunos na época em que o Viva Rio era nosso parceiro. Espero que em 2007 nós possamos retomar este projeto. Com a interrupção do 2º Tempo, as aulas de dança foram suspensas e a estagiária teve que ir embora”.

O esporte, através do projeto do professor William, dá oportunidade a jovens e até mesmo adultos de terem um espaço de integração e de cuidarem da saúde. Em dois colégios estaduais, três municipais, dois CIEPS e quatro escolas particulares, nenhum deles desenvolve projetos na área esportiva. Portanto, os 250 alunos, que participavam na época do 2º Tempo, eram expressivos para a comunidade. É por essas e outras que para o professor William praticar o bem é obrigação o ano todo.

O Portal Viva Favela deseja a todos um Feliz Natal e que em 2007 todos os sonhos sejam realizados!
Fonte: Viva Favela - Rio de Janeiro, RJ, Brazil - http://www.vivafavela.com.br/

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