quarta-feira, dezembro 08, 2010

Perfume de Açougue: um mergulho no universo homossexual



Walberto Maciel Redação CerradoMix

Perfume de açougue, novo espetáculo do Dança Pequena — Grupo de Dança Contemporânea, deve dar o que falar. A peça, que fica cartaz de hoje até o dia 19, no Teatro Helena Barcelos, da Universidade de Brasília (UnB), trata de pornografia e relações homossexuais, tema sempre polêmico e cheio de mistérios. Ainda mais neste espetáculo, cujo o diretor, Édi Oliveira, faz questão de ressaltar o impacto das cenas "fortes e virís", apesar de lembrar que também existem momentos de "poéticos e delicados".

Édi é polivalente. Se jogasse futebol jogaria nas 11, mas o seu espaço é o palco e lá exerce as funções de produtor, diretor, coreografo e bailarino do espetáculo, inspirado em um vídeo de Jean Genet, dramaturgo francês, pioneiro em explorar cenas ligadas ao sexo. O tema do espetáculo se refere, segundo ele mesmo define, ao mundo porno-erótico-homossexual-masculino. "Meu show é para todo mundo. A única restrição é com relação à idade", afirma o bailarino que diz que com Perfume de Açougue não pretende levantar nenhuma bandeira, mas mostrar os clichês do comportamento homossexual. Acompanhe a entrevista de Édi concedida ao Cerrado.

Como surgiu a ideia de fazer este espetáculo?

Vinha martelando na minha cabeça fazer algo sobre pornografia homossexual. A inspiração veio a partir do momento que assisti ao vídeo "Um canto de amor"de Jean Genet dramaturgo e cineasta francês da década de 1950.

Genet é muito forte, você segue isso à risca?

Sim. É um espetáculo bem forte. Ele tem uma hora e meia de duração. Tem momentos bastante físicos, mais firmes, virís. Mas não estamos fazendo nada para levantar ou resgatar a obra de Genet, mas para deixar um registro sobre o homossexualismo, sua pornografia e erotismo.

Por que um espetáculo voltado para homossexuais masculinos?

Já havia feito um espetáculo que trata do lesbianismo, "A distância entre o rosa e o azul". Percebi que precisava fazer um espetáculo sobre uma realidade mais próxima do meu mundo, sem levantar bandeiras, apenas explorando os clichês.

Perfume de açougue é um título intrigante. O que quer dizer exatamente?

Não tem nada a ver com olfato. Perfume de Açougue é um clichê que as pessoas tem sobre o homossexual, que sempre é caçador e às vezes tratado como açougueiro.

Seu espetáculo prioriza o público homossexual?

O espetáculo é aberto para o público em geral, porque acho que é uma temática que pode interessar para todo mundo. Só tem controle de idade. É proibido para menores de 18 anos.

Na coreografia você tenta conceituar os pontos de pegação. Como faz isso?

Eu fiz uma pesquisa dos pontos de pegação, principalmente aqui em Brasília, que é a minha referência. Mas também tenho informações do Brasil e do mundo. São espaços públicos, praças, banheiros, parques, como são muitos pontos, não coloquei todos. Tem algumas cenas que remetem, por exemplo, a um parque, que pode ser o parque da cidade.

Seus bailarinos são todos homossexuais?

Não. No início até pensei em fazer um trabalho só com homossexuais, mas não consegui, por falta de material humano. Mas a participação de bailarinos heterossexuais foi muito boa e enriqueceu o espetáculo.

Seu trabalho mostra para o heterossexual como é o homossexualismo ou ele mostra para o homossexual como ele realmente é?

Na verdade ele mostra um recorte de um grupo homossexual É bom deixar claro que ele não generaliza que todos homossexuais se comportam daquela forma. Para mim é importante falar deste tema que é muito pouco retratado na dança.

Como diretor do espetáculo você está preparado para qualquer tipo de reação?

Estou preparado, mas espero que não aconteça nenhuma reação agressiva por parte do público. Considero toda manifestação pacífica importante, até porque o espetáculo é tratado de forma bastante respeitosa. Por isso avisamos na entrada do teatro para que ninguém se sinta agredido.
 
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