sexta-feira, setembro 17, 2010

Raúl Ruiz redescobre a prosa

As sucessivas presenças do filme "Mistérios de Lisboa", de Raúl Ruiz, em grandes festivais internacionais atestam uma peculiar sedução: afinal, é possível criar um acontecimento genuinamente cinematográfico continuando a ter como base a literatura (neste caso, a obra de Camilo Castelo Branco) e sem que isso esbarre nos clichés da "reconstituição histórica" televisiva. Produzido por Paulo Branco, esta é, afinal, uma demonstração muito concreta de novas possibilidades de experimentação que não têm complexos de integrar heranças muito primitivas.


Ruiz terá sido fascinado, antes de tudo o mais, pelo carácter folhetinesco da prosa de Camilo. Não apenas em termos estruturais, mas sobretudo enquanto mecanismo de uma peculiar vertigem narrativa: esta revisitação da Lisboa do século XIX desenvolve-se como um labirinto de factos e assombramentos que, momento a momento, questiona a estabilidade institucional da própria sociedade.


Numa altura em que a vocação espectacular do cinema tende a ser representada unicamente pela exuberância dos "efeitos especiais", é salutar encontrar um objecto de cinema como este: nas suas mais de 4 horas de duração, "Mistérios de Lisboa" não teme levar às suas mais extremas consequências o poder romanesco do cinema.


* A estreia portuguesa está marcada para 21 de Outubro; mais tarde, "Mistérios de Lisboa" será exibido como mini-série televisiva (seis episódios de 1 hora). Entretanto é exibido em cinco dos mais relevantes festivais da temporada de Outono: Toronto; San Sebastian (17 a 25 de Setembro); Nova Iorque (24 Set. a 10 Outubro);São Paulo (22 Out. a 4 Novembro); Vienale - Viena (21 de Out. - 3 Nov.)


por: João Lopes

FONTE: cinemax

http://ww1.rtp.pt/i

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