terça-feira, dezembro 01, 2009

Três décadas de jornalismo cultural recuperadas


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Três décadas de jornalismo cultural recuperadas
Coletânea Aramis Millarch – 30 anos de jornalismo cultural reúne mais de 720 horas de entrevistas feitas em 32 anos de profissão do jornalista
30/11/09 às 17:26 Da redação

Aramis Millarch (12/07/1943 – 13/07/1992) foi um dos mais importantes jornalistas e crítico de música e cinema do Paraná, reconhecido nacionalmente pelo seu significativo trabalho durante seus 32 anos de profissão. Ele foi um dos poucos paranaenses que recebeu diversos prêmios nacionais de Jornalismo e participou dos principais festivais, concursos e prêmios onde a arte ou a cultura era objeto de discussão. Hoje será lançada uma das mais belas, exclusiva e rica homenagem ao jornalista. Idealizada pelos produtores curitibanos Samuel Ferrari Lago, Rodrigo Barros Homem d’El Rei e Luiz Antonio Ferreira, a coletânea Aramis Millarch – 30 anos de jornalismo cultural reúne mais de 720 horas de entrevistas realizadas pelo jornalista em oito DVD- Room’s e um livro que conta um pouco da história do jornalista. Ao longo de sua vida, Aramis aprendeu a “tocar” apenas dois instrumentos: sua velha máquina de escrever e seus gravadores de fita cassete e rolo. No livro que acompanha os DVDs, a lembrança do reconhecimento de vários amigos e artistas ao jornalista, como é o caso de Cartola, que escreveu para Aramis: “Amigo do peito. Que saudades meu velho amigo e quando nos veremos. Já que não é possível em pessoa, valoroso crítico curitibano, mando-te uma obra para teu Arquivo. Seu amigo, Cartola”.
Aramis Millarch – 30 anos de jornalismo cultural é um projeto de recuperação, digitalização, preservação e disponibilização para consulta pública e gratuita na internet do importante e frágil acervo, hoje em meio digital, de três décadas de jornalismo, história e cultura do trabalho de Aramis Millarch. Pesquisador nato e com uma preocupação ímpar com a preservação e precisão da informação, pode-se, sem dúvida, encontrar nas entrevistas em áudio deixadas pelo jornalista, uma retrospectiva única dos eventos, personalidades e fatos que marcaram as últimas décadas da nossa vida sócio-cultural. “Com esta recuperação será possível a pesquisa e audição, através da Internet, do histórico e inestimável acervo do jornalista Aramis Millarch com 720 horas de material inédito e restaurado, para que o país não perca essas verdadeiras preciosidades em áudio, com a memória da cultura brasileira”, explica o produtor Samuel Ferrari Lago.
Inicialmente, o material em áudio será disponibilizado, por dois anos, no site www.millarch.org gratuitamente para o público, a partir de hoje, quando também a coletânea que será doada a 450 bibliotecas brasileiras. Além disso, os produtores entregarão para Francisco, filho de Millarch, o acervo todo recuperado e gravado em mídia digital. As três décadas de pesquisa com centenas de personalidades que formam o acervo, faz com que o projeto de recuperação seja um dos mais importantes documentos da história da Cultura Brasileira. “Esse acervo é considerado um material de altíssimo valor cultural, por se tratar de um material inédito, de grandes nomes da cultura brasileira em entrevistas intimistas, de várias décadas”, ressalta Lago. Dona Marilene Millarch, esposa de Aramis, ficou muito emocionada com o resultado do projeto. “Nosso grande medo era que toda essa preciosidade, entrevistas feitas por Aramis, com grande esforço e poucos recursos, se perdessem com o tempo. Essa, com certeza, é uma importante contribuição para a sociedade, que terá acesso à cultura e informação que marcou, com certeza, uma importante época da nossa história”, ressalta.
Mesa redonda — Com o patrocínio da Petrobras, via Lei Rouanet, após cinco anos de trabalho, o acervo foi recuperado, digitalizado e será lançado hoje, em Curitiba, em uma Mesa Redonda sobre o pesquisador com o coquetel de lançamento do Livro e DVD-Room’s com as entrevistas do seu acervo, às 20h, na Universidade Positivo – sala de eventos do prédio da Pós-Graduação. O projeto também conta com o apoio do Programa Radiocaos e da Homem de Ferro Produções Artísticas. Estão presentes neste acervo entrevistas com Vinícius de Morais , João de Barros, Rosa Maria, Gilberto Gil, Cartola, Hermínio Bello de Carvalho, Egberto Gismonti, Lúcio Alves, Olivia e Francis Hime, Zuza Homem de Mello, Walter Hugo Khoury, Helena Kolody, Paulo Leminski, Marina Lima, Ivan Lins, Carlos Lyra, Tito Madi, Angela Maria, Toquinho, Nelson Cavaquinho ,Herivelto Martins, Maysa, Miucha, Zezé Motta, Paulinho Nogueira, Flora Purin, Airto Moreira, Flávio Rangel, Elis Regina, Roberto de Regina, Paulo Tapajós, Elifas Andreato, Arrigo Barnabé, Norma Bengell, João Bosco, Ana Botafogo, Elizeth Cardoso, Jaime Lerner, Jamil Snege entre muitos outros.
Um projeto que durou cinco anos
Um trabalho de artistas, em homenagem a um grande artista. Samuel Ferrari Lago, Rodrigo Barros Homem d’El Rei e Luiz Antonio Ferreira viam na casa da família Millarch centenas de caixas de fitas cassetes, um precioso acervo que, com o tempo, estava sendo consumido. O receio de que as mais incríveis histórias de Aramis Millarch se perdessem, fez com que os três se dispusessem a começar um trabalho que duraria cinco anos. Em 2006, os três começaram a procurar, em Curitiba, colecionadores que tivessem ainda os equipamentos cassetes para poder ouvir e digitalizar o material. “Com sorte achamos uma pessoa que tinha os equipamentos que precisávamos e, um amigo dele, sabia consertar. Com isso, foram três longos anos de trabalho para ouvir, reeditar e digitalizar as entrevistas”, lembra Lago.
Ao ouvir as incríveis entrevistas de Millarch, os produtores encontraram preciosidades, como a última entrevista que a cantora Maísa deu antes de sua morte. “Percebemos nesses momentos que era urgente salvar esse acervo, pela sua qualidade e ineditismo, assim fomos combinando as tecnologias analógicas e digitais, para garantir ao público um material histórico riquíssimo, que graças aos apoios que conseguimos, foi salvo a tempo de se perder, junto com todas essas histórias”, comemora Samuel Lago.
Ele escrevia 40 linhas na lauda de 30
O jornalista encantava a todos. Ainda criança ele “fugia” de casa com sua bicicleta para ir ao cinema e comprar gibis, algo visto na época como “coisa de malandro e desocupado”, mas ele gastava todas as suas economias nisto. Aos 15 anos, se mudou para Curitiba e logo em seguida foi trabalhar como repórter. Aramis nunca se contentava com o espaço que o jornal lhe oferecia, queria sempre mais. Oficialmente escrevia a coluna Tablóide, mas, aos domingos, chegava a ocupar quase todo o caderno cultural do jornal. Manoel Karam, que editava a coluna do Aramis, contava: “A lauda nunca vinha com as 30 linhas dela. O espaço 3, volta e meia, virava 2. Ele chegou a escrever 40 linhas numa lauda de 30. Em defesa do diagramador, que sempre errava o tamanho das matérias, eu brigada com o Aramis. Perdi todas as brigas”. Na sua carreira, Millarch criou mais de dez pseudônimos e escreveu para mais de 20 periódicos, entre eles o jornal “Última Hora”, até a sua publicação ter sido interrompida em função do AI-5. O Regime Militar também cassou, sem maiores explicações, a autorização para o jornalista ministrar aulas no curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Paraná, mesmo tendo sido aprovado em primeiro lugar em concurso público. Além de sua inegável ajuda ao jornalismo, Aramis Millarch foi também um dos fundadores e o primeiro presidente da Associação dos Pesquisadores da Música Popular Brasileira.
FONTE (imagem incluída): Jornal do Estado - Curitiba,PR,Brazil

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