segunda-feira, novembro 09, 2009

Onde habitam os monstros


Visuais
Onde habitam os monstros
O artista plástico Fabrizio Andriani, que expõe suas figuras assustadoras em Nova York a partir do dia 20, fala sobre as inúmeras referências que permeiam sua obra

Publicado em 08/11/2009 Annalice Del Vecchio

Os moradores do décimo andar do prédio onde mora o artista plástico Fabrizio Andriani são mesmo sortudos. No lugar das monótonas paisagens e naturezas mortas que costumam decorar as paredes das áreas comuns dos edifícios, figuram grandes telas que o artista Fabrizio An­­driani pintou a partir dos desenhos do amigo Joe Benett, artista paraense que ilustra quadrinhos da Marvel e da DC Comics. “Não tinha mais lugar no apartamento”, conta.
São figuras bizarras que só alimentam a curiosidade de saber “quem” mais habita a casa do artista nascido em São Paulo e radicado desde a infância em Curitiba. Os convidados a entrar logo se deparam com retratos bem diferentes daqueles encontrados em respeitáveis salas de família.
“Imaginei uma máquina que revela fotos 3x4 no espaço, utilizada pelos mais estranhos seres”, conta Fabrizio.

Os instantâneos, denominados de “Retratos Catódicos”, já expostos no Jokers Pub Café, em 2007, e no Centro de Criatividade de Curitiba, em 2008, exibem monstros de feições distorcidas, olhos arregalados, pintados com cores vibrantes sob fundos padronizados que remetem ao universo dos quadrinhos, do cinema e da televisão.
Os seres estranhos fazem parte do imaginário de Fabrizio desde que, em 1980, mudou-se com os pais para Gênova, na Itália, onde viveu por dois anos. “Assistia a desenhos animados com influência japonesa, que ainda não haviam chegado ao Brasil”, conta ele, que também devorava quadrinhos e cultuava as figuras assustadoras pintadas pelos artistas Hieronymus Bos­ch, Pieter Brueghel e Fran­­cis­­co Goya.
A televisão, indefectível companheira das crianças urbanas, sempre teve influência marcante em uma obra que não tem medo de ser figurativa. “Hoje os críticos só querem arte conceitual, mas se esquecem que uma obra não pode vir acompanhada de manual de instrução para ser compreendida, precisa se explicar sozinha, se comunicar”, diz.
Adepto de materiais comuns como a canetinha hidrocor e a tinta acrílica, que em suas mãos ganham um impressionante efeito gráfico, Fabrizio considera a técnica fundamental. “Você avalia um músico pela sua virtuose, pela sua métrica; avalia um escritor pela sua gramática. Com a arte conceitual, as artes plásticas ficaram sem esta métrica. É possível acordar de manhã e ter uma ideia: ‘Vamos encher uma piscina com gelatina’, e dizer que isso é arte”, diz.
Fabrizio pinta, sim, paisagens. Mas só aquelas que habitam os monitores quando ele vê televisão, navega na internet ou joga videogame. Se Van Gogh buscou representar a luz vívida do sol, naquela época, algo extremamente desafiador, ele almeja pintar a luz destas telas que o absorvem. “O artista deve pintar sua realidade”, considera.
Foi sob o efeito da luz emitida pela tevê que pintou seus “Retratos Catódicos”, daí o nome da série de quadros em pequenos formatos em que utiliza tons metálicos e fluorescentes que lembram os que se percebe nos monitores. “Eu vivia na quitinete da minha namorada (agora esposa) e, por falta de espaço, pintava na cama tendo a tevê como fundo musical”, conta.
Nova York
Quatro destes retratos e uma obra da série “Hidrofilia”, feita com canetinhas e papel cuchê, farão parte de uma exposição que Fabrizio realiza em Nova York a partir de 20 de novembro, junto com oito artistas de várias partes do mundo. O convite da Galeria Agora, localizada no Chelsea, conhecido como o bairro dos artistas, quase foi confundido com mais um vírus que lota a caixa postal do artista. “Comecei a me informar e vi que tudo era real”, conta.
Com patrocínio da empresa Inepar Sistemas de Energia e apoio da Itiban Comic Shop e Zarref Informática, o artista viaja com tudo pago. “Foi mais fácil realizar uma exposição fora do que aqui”, diz ele, que gostaria de ver seus trabalhos expostos em espaços como o Palacete dos Leões, o Museu de Arte Contem­­porânea do Paraná e a Casa Andrade Mu­­ricy.
“Quero viver de arte, espero que essa exposição seja um trampolim para isso”, diz Fabrizio, que por enquanto tem uma rotina tumultuada. Divide-se entre a atividade artística, realizada às noites, o ensino de arte e história da arte nas escolas Anjo da Guarda e Palmares e as atividades como sócio da ZnorT!, empresa de ilustração e design.
FONTE (foto incluída): Gazeta do Povo Online

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