Estilo
A mercadoria do fetiche
Suzana Villaverde
A mercadoria do fetiche
Vem aí Dita Von Teese, a stripper americana que é cultuadacomo ícone e frequenta, a convite, os melhores ambientesda Europa e dos Estados Unidos – com e sem roupa
Suzana Villaverde
Para uma mulher que ganha a vida tirando a roupa, é impressionante o sucesso dos figurinos da americana Dita Von Teese. O nome, evidentemente, é artístico. E, dizem os especialistas, o que ela faz também. Pele branquíssima, maquiagem elaborada, voz baixa e roupas copiadas por toda uma tribo de garotas que sonham ser divas ao estilo anos 40, Dita vive na primeira fila de desfiles de moda e em festas de celebridades. Quem não é do ramo demora para entender exatamente o que ela faz. Aos 37 anos, cachê, em média, de 75.000 dólares por quinze minutos de show, Dita é a mais renomada stripper da atualidade. Mas não daquelas que fazem acrobacias em volta do poste e mostram tudo, tudinho. Dita se denomina artista do teatro burlesco, sendo que burlesco, no caso, não tem nada a ver com aquelas encenações tipo commedia dell’arte. É um espetáculo parecido com o vaudeville, que surgiu na Europa e nos Estados Unidos na virada para o século XX, mas concentrado no que interessa a seu público: mulheres belíssimas fazendo cena enquanto se despem. "O burlesco americano surgiu da necessidade de atrair público para os teatros e da avidez dos homens por entretenimento. As dançarinas começaram a ganhar destaque e o strip-tease virou a atração principal", explica o diretor teatral Cláudio Botelho, que em março estreia no Rio de Janeiro o espetáculo Gypsy, sobre a vida de Gypsy Rose Lee, linda e engraçada stripper dos anos 40 e uma das inspiradoras de Dita. "É difícil para as pessoas entender que o strip-tease já foi uma forma respeitada de entretenimento", defende a própria sobre o gênero que a consagrou. "Eu faço a mesma coisa que as strippers, só que em um nível grandioso." Botem grandioso nisso: Dita tem contratos com uma grande empresa de sutiãs, outra de cosméticos e uma terceira do ramo das bebidas, que patrocina sua apresentação nesta semana numa casa noturna de São Paulo. Sim, ela fará a performance dentro da taça gigante de martíni.
Dita é uma falsa morena que conseguiu superar a origem sem glamour, o trabalho num ramo de entretenimento no qual a aspiração máxima costuma ser o estrelato pornô e até um casamento com o horripilante gótico-metaleiro Marilyn Manson. Pouca gente se interessaria por olhar, que dirá pagar para ver, uma loirinha sem graça chamada Heather Renée Sweet, filha de manicure e operário, vestida com o uniforme quase obrigatório no gelado estado de Michigan: jeans, um casaco de náilon bem grosso e zero de maquiagem. Mas ela era tudo, menos comum. Começou trabalhando numa loja de roupas íntimas ("Fui a melhor vendedora de lingerie do mundo") e depois entrou no ramo do erotismo comercial. Inventou o nome, homenagem a uma diva do passado, Dita Parlo, e o sobrenome vagamente alemão, mas que rima com strip-tease e tem uma carga evidentemente fetichista. Em lugar do estilo chicote e roupa de couro, adotou um figurino que evoca a era de ouro de Hollywood e suas vamps destruidoras de corações e reputações. "Eu via as mulheres dos anos 40 no cinema e pensava: nada é de verdade. Percebi que podia fazer igual. Adoro essa beleza artificial, inventada", diz. E insiste: "Sou totalmente fabricada". Em termos concretos, ela admite os cabelos tingidos de preto, o implante nos seios, a pinta tatuada abaixo do olho e os espartilhos que reduzem a cintura de já exíguos 58 para inacreditáveis 40 centímetros.
Além dos atributos evidentes, Dita tem um senso de estilo apurado e, acreditem, ótima cabeça para negócios. A feminilidade hiperestilizada da qual virou ícone é disputada por estrelas tanto do mundo da moda quanto do cinema. A desinibição própria da categoria ajuda um bocado. "Meses atrás fui o presente de aniversário da Sofia e do Roman para o pai deles, Francis Ford Coppola. Fiquei pelada na sala da casa para uma plateia na qual estavam George Lucas, Steven Spielberg, todos os maiores cineastas. Foi meio assustador, mas só recebi elogios", conta. Dita diz que não pensa em mudar para o cinema, mas já teve aulas de interpretação com a mesma pessoa que orientou beldades oscarizadas como Charlize Theron e Halle Berry. Ela própria foi parodiada por Cameron Diaz, no filme As Panteras, justamente pela performance mais famosa, a da taça gigante. "Consegui montar esse espetáculo todo em três meses, um recorde", diz ela, que em média demora de um a três anos planejando cada show – e cuida de tudo sozinha: trilha sonora de época, iluminação (de preferência luz rosa e indireta), cabelo, maquiagem e coreografia. "Todo mundo acha que é só chegar lá e tirar a roupa, mas até a roupa não é qualquer uma, são fantasias que pesam muito", diz Dita, que já passou alguns apuros no palco. Em 2004, seu cabelo pegou fogo durante uma performance com castiçais em Los Angeles. Nada daquilo que os mal-intencionados estão pensando, mas que redundou em quase desastre. "Tive de cortar o cabelo bem curto", anota.
Vamp que é vamp tem de segurar o modelão, e Dita segura. Está sempre de salto alto, com roupas elaboradas e maquiada até na aula de pilates. "A última vez que usei jeans e camiseta foi no Dia das Bruxas do ano passado", brinca. "Peguei emprestados de amigas. Pus peruca loira, um bronzeado falso e fiquei a típica garota americana." Seu estilo é mundialmente copiado por uma tribo de mulheres que sonham ser Dita, desde garotas que fantasiam com o poder de sedução das grandes divas até colegas de profissão. "Ela é sensual, mas tem um glamour que não a deixa vulgar. É assim que uma dançarina burlesca deve ser", diz Karina Raquel de Campos, 36, que desde 2006 se apresenta em São Paulo como Fascinatrix. Perto dos 40 anos, Dita começa a pensar em parar. "Todo ano me pergunto: será que ainda posso fazer isso? Mas sempre que falo em deixar o palco todo mundo é contra." Segue-se um leve suspiro, quase uma deixa para os aplausos.
Vamp que é vamp tem de segurar o modelão, e Dita segura. Está sempre de salto alto, com roupas elaboradas e maquiada até na aula de pilates. "A última vez que usei jeans e camiseta foi no Dia das Bruxas do ano passado", brinca. "Peguei emprestados de amigas. Pus peruca loira, um bronzeado falso e fiquei a típica garota americana." Seu estilo é mundialmente copiado por uma tribo de mulheres que sonham ser Dita, desde garotas que fantasiam com o poder de sedução das grandes divas até colegas de profissão. "Ela é sensual, mas tem um glamour que não a deixa vulgar. É assim que uma dançarina burlesca deve ser", diz Karina Raquel de Campos, 36, que desde 2006 se apresenta em São Paulo como Fascinatrix. Perto dos 40 anos, Dita começa a pensar em parar. "Todo ano me pergunto: será que ainda posso fazer isso? Mas sempre que falo em deixar o palco todo mundo é contra." Segue-se um leve suspiro, quase uma deixa para os aplausos.
Fotos Jean Baptiste Lacroix/Wire Image/ Getty Images, Corri/Petrinka/Olycom/Sipa Press, Benaroch/Sipa Press, Mike Ruiz/Contour by Getty Images e Chris Polk/Filmmagic/ Getty Images
FONTE (foto incluída): Abril
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