sexta-feira, agosto 07, 2009

A vida titânica de Balzac


07 de agosto de 2009


A vida titânica de Balzac

Poucos escritores foram tão citados e amados. Marx o tinha em grande conta. Engels entendia que, apesar de politicamente conservador, fora quem melhor retratara a sociedade burguesa do seu tempo. Escrevia sem parar, era mulherengo, comia e bebia muito. Morreu com 51 anos, mas viveu muito. Honoré de Balzac (1799 – 1850), um gigante da literatura, titã que desejava abarcar toda a sociedade da época em sua desmedida Comédia Humana. Tal figura pantagruélica só poderia mesmo ser interpretada por um ator do porte físico e psicológico de Gérard Depardieu. É como o vemos na ótima minissérie de Josée Dayan, lançada ela Versátil (caixa com 2 DVDs, R$ 74,90).


Mesmo em 240 minutos, que é o que somam os episódios da minissérie, fica difícil acomodar os fatos de uma vida tão complexa quanto a de Balzac. Josée Dayan (autora de uma cinebiografia muito boa de Margueritte Duras) prefere se ater a certos aspectos. Por exemplo, ocupa lugar central o relacionamento entre Balzac e sua mãe, Anne Charlotte, vivida por Jeanne Moreau. Sem insistir no travo psicanalítico, mostra-se como essa relação tumultuada pode ter influenciado na carreira do escritor.


Anne é pintada como uma mãe fria e indiferente. Mas é um retrato com nuanças. De toda forma, o glutão Honoré aparecerá sempre como alguém que tem fome – de livros, de personagens, de comida, de vinho e afeto. Um bezerrão grande e imaturo, que inventou negócios para ganhar dinheiro e sempre o perdeu, confortando-se com o primeiro rabo de saia que aparecesse. Além de enfrentar carências pessoais e materiais, Balzac era perseguido pelas dívidas. A figura melíflua de um oficial de justiça é onipresente. Há seus amigos, também, e, entre eles, a nobre figura de Victor Hugo, que reconheceu sua grandeza em vida e o exaltou na morte. Também os desafetos, aqui resumidos em Eugéne Sue, o invejoso escritor de folhetins que considerava Balzac um autor fracassado – o próprio Balzac escreveu folhetins, a telenovela da época, e morreu de raiva quando se viu substituído por um craque do gênero, Alexandre Dumas.


Tudo isso é contado no filme. Inclusive a história da matrona da alta sociedade que o sustentou, Madame de Berney (Virna Lisi), e a grande paixão por Eva Hanska (Fanny Ardant), uma condessa polonesa, casada com um russo. Em meio a tantas tribulações, sobrou pouco tempo para a minissérie dedicar-se à obra. É uma opção, digamos, válida – ficar nos acontecimentos. Mesmo porque apenas roçar a obra exigiria trabalho de síntese gigantesco.


LUIZ ZANIN ORICCHIO AE


FONTE: Zero Hora

http://zerohora.clicrbs.com.br/

FOTO: http://records.viu.ca/

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