sexta-feira, julho 17, 2009

'Coração Vagabundo' mostra Caetano Veloso na intimidade


'Coração Vagabundo' mostra Caetano Veloso na intimidade
No documentário, que estreia dia 24, Caetano é Caetano. Opina sobre religião, política, música, antropologia...
Marco Bezzi, do Jornal da Tarde

SÃO PAULO - A câmera foca Paula Lavigne. A produtora e ex de Caetano chama o diretor Fernando Grostein Andrade para espreitar o banheiro no final do corredor. Lá dentro, Caetano Veloso faz a barba nu. O início de Coração Vagabundo é a síntese do que o jovem diretor de 28 anos quis passar no longa de pouco mais de 50 minutos.

A intimidade de Caetano durante a turnê do álbum A Foreign Sounds foi captada entre 2003 e 2005. Durante o período, o cantor se separou de Paula, participou do filme do cineasta espanhol Pedro Almodóvar (Fale com Ela), cantou nos Estados Unidos, no Japão.

Diretor e artista receberam a imprensa na noite de anteontem para falar do filme, que estreia no próximo dia 24. "Não tive a intenção de fazer um longa biográfico para definir o artista. Isso seria impossível", diz Andrade, que é meio irmão do apresentador Luciano Huck. "Quis fazer apenas uma viagem, um recorte sobre um período da vida do Caetano."

No documentário, Caetano é Caetano. Opina sobre tudo: religião, política, música, antropologia... Os cortes giram em torno das opiniões do músico colhidas pelo diretor em mais de 56 horas de filmagem. Caetano defende: "Um amigo meu assistiu ao filme e o achou muito superficial. Eu não achei. É feito de um jeito despretensioso, mas não é superficial. Eu fico um pouco envergonhado de falar tanto, mas mesmo eu consegui acompanhar sem desagrado, com interesse. A escolha das coisas que eu disse me pareceram boas. Acho que fomos longe, para algo que não era para ser nada", explica.

Antes de transformar as imagens em um filme produzido por Paula Lavigne, a intenção do diretor era fazer um making of da turnê do álbum de clássicos do cancioneiro americano ou um DVD com um concerto ao vivo. "Quanto mais ficávamos longe do Brasil, mais o Caetano falava de suas raízes", justifica Andrade.

Em Nova York, o cantor se prepara para cantar no Carnegie Hall junto a David Byrne (ex-Talking Heads). Ele relata a dificuldade que teve ao falar a um programa de televisão. "Parecia um subdesenvolvido, com um inglês arrastado. Não me senti nada bem."

O cantor ainda discorre sobre a influência americana na música mundial e contesta uma entrevista de Hermeto Pascoal, que chamou Caetano de "musiquinho" e disse que a música brasileira é mais importante do que a americana. Na coletiva, Caetano completou: "A vida é assim. A própria obra do Hermeto justifica o fato de eu falar que a música americana é a mais importante do século 20. O poderio econômico é só mais uma peça da dominação."Nos camarins, após o show no Carnegie Hall, Caetano recebe a übber model Gisele Bündchen e se encanta. "Me dá o telefone da Gisele, Paula", pede à esposa, que nega. Durante a coletiva, o repórter do CQC Rafael Cortez pergunta ironicamente se essa negativa foi a gota d’água para o fim do relacionamento. "Não", fala Caetano, monossilábico.

No Japão, o cantor se aproxima de um penhasco e começa a relatar que sua vida pessoal o deixa triste. O fim do casamento com Paula Lavigne é a resposta. No país, Caetano encontra fãs seus em monastérios budistas. "Likes Colação Vaabundo (sic)", diz um monge. "Nossa!", se assusta Caetano. "Eu também gosto."

Em certo momento, o cantor fala que não gostaria de morar fora do Brasil, mas, caso tivesse de se mudar, moraria ou em Nova York ou em Madrid. Almodóvar dá seu depoimento. Fala que Paula é uma inspiração para seus personagens. "Ela é forte, exuberante, decidida", diz o cineasta. Michelangelo Antonioni é outro que dá as caras no documentário.

Perguntado sobre a participação ativa da ex-mulher no longa, Caetano fala: "É perfeitamente coerente com a história desse filme que a Paula seja a primeira pessoa a aparecer na tela. Ela que veio com a proposta de convidar o Fernando para tocar o projeto. Tinha assistido a um curta-metragem dele chamado De Morango. A Paula tá bonita, tá bem", reflete Caetano, enquanto Paula olha por trás dos jornalistas. "Concordo plenamente com o Caetano. E achei que ela poderia censurar a primeira cena, mas foi muito pelo contrário. Me disse: ‘Você cortou a melhor parte!’", finaliza o diretor.

FONTE (foto incluída): Estadão - São Paulo,SP,Brazil

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