THEÓFILO SILVA
Foi numa festa que Romeu avistou Julieta: “Por acaso, meu coração amou até agora? Jurai que não, meus olhos! Porque até esta noite jamais conheci a verdadeira beleza”. Ele confirma uma máxima de Shakespeare: “quem jamais amou que não amasse a primeira vista”. Romeu que antes reclamava: “Ó infinito caos de sedutoras formas! Ai, que o amor, cuja vista é sempre vendada, encontre, sem os olhos, caminho franco para sua vontade! “Sono em perpétua vigília. “Eu me perdi e não estou aqui. Romeu não está aqui, está em outro lugar qualquer”! Sim, ele está no coração de Julieta! Ao tocá-la, compara-se a um peregrino que acaba de encontrar uma imagem santa: “Meus lábios dois ruborizados peregrinos estão prontos a suavizar com um terno beijo tão rude contato.
Santa adorada, deixai que os lábios façam o que as mãos fazem.
Julieta – As santas são imóveis mesmo atendendo às orações.
Romeu – Então, não se mova, enquanto recolho o fruto de minhas preces. Assim, mediante vossos lábios ficam os meus livres de pecado”!
E beija-a pela primeira vez e é correspondido. Terminada a festa, ele não consegue voltar para casa: “Posso ir mais longe, quando meu coração aqui permanece”! Pulando o muro do jardim, vê Julieta na sacada: “Que luz brilha através daquela janela! É o oriente e Julieta é o Sol! Surge, claro sol, e mata a invejosa lua, já doente e pálida de desgosto, vendo que tu, sua serva, és bem mais linda do que ela”! Julieta, sem saber que Romeu está escondido na sebe, fala: “Ó Romeu, Romeu! Por que és Romeu? Renega teu pai e recusa teu nome; ou, se não quiseres, jura-me somente que me amas.
O que há em um nome? O que chamamos de rosa, com outro nome, exalaria o mesmo perfume tão agradável: despoja-te de teu nome e, em troca de teu nome, que não faz parte de ti, toma-me toda inteira”. Os pais deles eram inimigos! Surpreendida pela presença de Romeu, que a escutou confessar-se apaixonada, faz uma dulcíssima declaração! “Tu sabes, a máscara da noite cobre meu rosto, senão um rubor de virgem teria enrubescido minhas faces pelo que me ouviste falar esta noite. Se tu amas, proclama-o sinceramente; ou se pensas que sou conquistável facilmente demais, serei severa e esquiva, e direi não, para que tu me cortejes: Sou muito apaixonável e, por causa disto, poderás pensar que minha conduta seja bem leviana:
Romeu – juro por essa lua que coroa de prata as copas destas árvores frutíferas...
Julieta – Oh! Não jures pela lua, a inconstante lua que muda todos os meses em sua órbita circular, a fim de que teu amor não se mostre igualmente variável”. Eles nasceram um para o outro! Já conscientes do amor recíproco, Romeu pede a Julieta uma prova de amor, ao que ela responde: “Já te entreguei o meu, antes que pedisses, e quisera fazer-te de novo meu juramento.
Romeu – Querias tomá-lo de mim? Para que fim, meu amor?
Julieta – Para ser generosa e entregar-te outra vez. Só aspiro àquilo que possuo. Minha bondade é tão ilimitada quanto o mar, e tão profundo como este é o meu amor. Quanto mais te dou, mais tenho, pois ambos são infinitos”. Eis a definição do verdadeiro amor! Romeu e Julieta é a mais bela história de amor de todos os tempos. Ninguém perdoa Shakespeare por ele ter matado o jovem casal, nem mesmo Goethe. Ao matá-los ele os tornou imortais, para que eles fiquem como recordação de que o amor é o mais indestrutível dos sentimentos. Frei Lourenço, que os casou, diz que eles morreram em pleno triunfo. Em outra peça, Shakespeare afirma que assim pensa o verdadeiro amante: “Quero viver em teu coração, morrer em teu regaço e ser enterrado em teus olhos”! Não é isso que os enamorados dizem!E hoje não é o dia deles!
Theófilo Silva é presidente da Sociedade Shakespeare de Brasília e colaborador da Rádio do Moreno.
Theófilo Silva é presidente da Sociedade Shakespeare de Brasília e colaborador da Rádio do Moreno.
FONTE (imagem incluída): O Globo - Rio de Janeiro,RJ,Brazil
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