domingo, março 22, 2009

Quanto vale um sobrenome?


Quanto vale um sobrenome?

Traço cultural // Sociólogos da Fundaj confirmam que ainda hoje, principalmente no interior, se distinguem as famílias pelo "berço"Ana Paula Neiva // Diario


Em pleno século 21, os pernambucanos continuam dando importância ao peso do sobrenome.
com raízes nos casarões e engenhos de cana-de-açúcar mantêm, mesmo que alguns endereços tenham sido banidos do mercado, lugar de prestígio na sociedade local. Ter nome, mesmo sem dinheiro, ainda pesa mais. Traço marcante de uma cultura lastreada na economia açucareira, segundo interpretação dos sociólogos do Núcleo de Estudos Folclóricos Mário Souto Maior, da Fundação Joaquim Nabuco. Esse fenômeno é observado ainda hoje, principalmente no interior do estado, onde as pessoas conhecem umas às outras pelo último nome de família.
"Isso é observado quando um médico ou um juiz chega a uma cidade pequena. A população dá valor ao sobrenome também pelo cargo que a pessoa ocupa", diz a socióloga Rúbia Lóssio, da Fundaj. Assim, fica fácil compreender o porquê de sobrenomes tradicionais como Cavalcanti, Magalhães e Maciel permanecerem dominando o cenário políticopernambucano. E na zona canavieira, eles têm influência histórica. "Nessa área, sobrenomes tradicionais se destacaram e tiveram importância no crescimento econômico, como os Cavalcanti, Albuquerque e os Pessoa de Melo. Essa última família dominou o município de Aliança, na Mata Norte, entre 1928 e 1945", recorda a socióloga da Fundaj.
Segundo Rúbia, a valorização do sobrenome no estado está relacionada à dinâmica do mercado e à situação econômica vigente. "Uma prova disso é que a cultura popular imita sobrenomes de pessoas ilustres, batizando seus filhos com nomes de pessoas famosas não só no cenário político, mas também com o de artistas da TV", ressalta.
Não restam dúvidas de que a relação de sobrenomes se perpetua com a condição política das famílias residentes na região. "Embora muitas usinas de cana-de-açúcar tenham sido vendidas e outras fechadas, continua-se dando valor à origem de cada uma delas, pricipalmente quando se fala nas famílias proprietárias", observa a antropóloga Rosalira Oliveira, coordenadora geral de Estudos Sociais e Culturais da Fundaj.
A pesquisadora ressalta que apesar de alguns sobrenomes tradicionais terem liderado o meio político no estado e no país, começa a existir uma mudança de comportamento, onde sobrenomes comuns passaram a ter destaque. "Isso ficou evidente com a eleição dos Silva na Presidência da República e na Prefeitura do Recife", cita Rosalira, referindo-se ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ex-prefeito da cidade, João Paulo de Lima e Silva.
Romance - Muitas dessas famílias têm raízes nos senhores de engenho, como a família Buarque, que contribuiu para a formação cultural do país. Essa relação está descrita na publicação: Buarque - Uma Família brasileira, do economista e engenheiro Bartolomeu Buarque de Holanda, que traz a história de seus antepassados. Bartolomeu faz um relato de sua árvore genealógica, contando a história de seu tetravô paterno, José Ignácio Buarque de Macedo, que quase morreu afogado em 1797. "Se ele tivesse morrido, não existiria o historiador Sérgio Buarque de Holanda, o escritor e dicionarista Aurélio Buarque de Holanda e o cantor Chico Buarque", ressalta.
Enraizada nos engenhos nordestinos, a família Buarque teve início no século 18 com a união de um padre, Antônio Buarque Lisboa com a jovem Ana Tereza Lins, em Porto Calvo, Alagoas. "Daí, nasceu Manuel Buarque de Jesus, pai do meu tetravô, José Ignácio", conta. Mas entre os parentes ilustres há uma ex-escrava, Maria José Lima, que foi a primeira mulher naquela região a adotar a educação por grupo dentro da mesma família, e também a primeira mulher a administrar um engenho, o Samba, localizado hoje na região norte de Alagoas.

FONTE (foto incluída): Diário de Pernambuco - Recife,PE,Brazil

FOTO: Família Buarque de Holanda aparece em uma pose que traz crianças que ocupariam lugar de destaque na cultura nacional, como Chico Buarque (à direita) - Editora Casa da Palavra/Divulgação - 19/1/09 - Famílias.

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