Literatura: Homenagens são "a mais mortal das doenças" - António Lobo Antunes
2008-09-18 22:00:14
Lisboa, 18 Set (Lusa) - O escritor António Lobo Antunes classificou hoje qualquer homenagem como "a mais mortal das doenças", ao receber as insígnias de Comendador da Ordem das Artes e das Letras francesas, numa cerimónia realizada na embaixada de França em Lisboa.
"Os prémios, as homenagens, as condecorações são talvez a mais perigosa doença da vida, e a mais mortal, porque corremos o risco de ficar satisfeitos com o nosso trabalho", disse António Lobo Antunes, depois de receber a condecoração das mãos do embaixador francês em Lisboa, Denis Delbourg.
"É um autor ao mesmo tempo difícil e popular, universal", declarou o diplomata francês antes de entregar as insígnias, uma faixa com uma medalha.
Assistiram à cerimónia os escritores portugueses Vasco Graça Moura e Rui Cardoso Martins, o escritor timorense Luís Cardoso, o ex-Presidente da República Mário Soares e o psiquiatra Daniel Sampaio - o amigo que levou o manuscrito do primeiro romance de Lobo Antunes, "Memória de Elefante", à editora Dom Quixote, em 1979.
Também dois dos seus irmãos estiveram presentes, Manuel Lobo Antunes, secretário de Estado dos Assuntos Europeus, e Miguel Lobo Antunes, presidente do conselho de administração da Culturgest, bem como o ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, que chegou atrasado e felicitou António Lobo Antunes no final da cerimónia.
Sobre a distinção atribuída ao escritor - "um homem que se revelou depois da profissão de médico um genial trabalhador da Língua Portuguesa" - Pinto Ribeiro disse que "tem um grande significado, porque é um processo de afirmação da identidade portuguesa".
Apesar de admitir que "é bom" ter leitores noutros países, António Lobo Antunes sublinhou: "É para os portugueses que eu escrevo, [Portugal] é o meu país e cada vez gosto mais do meu país".
"E julgo que de cada vez que um artista português é reconhecido em qualquer outro país, é o nosso povo, é o nosso país todo. Temos recebido tão pouco e merecemos tanto", observou.
Depois de receber o Prémio Camões (2007), o Prémio José Donoso (2006), o Prémio da Feira Internacional do Livro de Guadalajara (2008, antigo Prémio Juan Rulfo) e o Prémio Terenci Moix (2008), Lobo Antunes considerou "muito incómodo" o facto de existir "uma unanimidade" em torno da sua obra.
"As unanimidades são sempre de desconfiar. Então, é melhor uma pessoa começar a perguntar 'o que é que eu terei feito mal?'", sustentou.
A distinção de Comendador é a mais elevada da Ordem das Artes e das Letras francesa - que inclui ainda os graus de Cavaleiro e Oficial - e é atribuída pelo Governo francês a personalidades da área da Cultura por méritos excepcionais.
Criada em 1957, a Ordem das Artes e das Letras de França já foi entregue a mais de uma dezena de portugueses, entre os quais Amália Rodrigues, Manoel de Oliveira, Agustina Bessa Luís, João Bénard da Costa, Júlio Pomar (Comendadores), Lídia Jorge, Luís Miguel Cintra, Eduardo Lourenço (Oficiais) e Mísia, José Saramago, José Manuel Castello Lopes e Maria de Medeiros (Cavaleiros).
Nascido em Lisboa, o romancista de 66 anos já publicou quase três dezenas de obras, a primeira das quais o romance "Memória de Elefante", em 1979, e a mais recente, "O Meu Nome é Legião", em 2007, a que se seguirá, em Outubro deste ano, "O Arquipélago da Insónia".
"Poder continuar a escrever - essa é a única recompensa que me interessa. O resto não é importante", rematou Lobo Antunes.
ANC.
Lusa/fim
keywords: cultura LITERATURA PREMIO CULTURA França
2008-09-18 22:00:14
Lisboa, 18 Set (Lusa) - O escritor António Lobo Antunes classificou hoje qualquer homenagem como "a mais mortal das doenças", ao receber as insígnias de Comendador da Ordem das Artes e das Letras francesas, numa cerimónia realizada na embaixada de França em Lisboa.
"Os prémios, as homenagens, as condecorações são talvez a mais perigosa doença da vida, e a mais mortal, porque corremos o risco de ficar satisfeitos com o nosso trabalho", disse António Lobo Antunes, depois de receber a condecoração das mãos do embaixador francês em Lisboa, Denis Delbourg.
"É um autor ao mesmo tempo difícil e popular, universal", declarou o diplomata francês antes de entregar as insígnias, uma faixa com uma medalha.
Assistiram à cerimónia os escritores portugueses Vasco Graça Moura e Rui Cardoso Martins, o escritor timorense Luís Cardoso, o ex-Presidente da República Mário Soares e o psiquiatra Daniel Sampaio - o amigo que levou o manuscrito do primeiro romance de Lobo Antunes, "Memória de Elefante", à editora Dom Quixote, em 1979.
Também dois dos seus irmãos estiveram presentes, Manuel Lobo Antunes, secretário de Estado dos Assuntos Europeus, e Miguel Lobo Antunes, presidente do conselho de administração da Culturgest, bem como o ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, que chegou atrasado e felicitou António Lobo Antunes no final da cerimónia.
Sobre a distinção atribuída ao escritor - "um homem que se revelou depois da profissão de médico um genial trabalhador da Língua Portuguesa" - Pinto Ribeiro disse que "tem um grande significado, porque é um processo de afirmação da identidade portuguesa".
Apesar de admitir que "é bom" ter leitores noutros países, António Lobo Antunes sublinhou: "É para os portugueses que eu escrevo, [Portugal] é o meu país e cada vez gosto mais do meu país".
"E julgo que de cada vez que um artista português é reconhecido em qualquer outro país, é o nosso povo, é o nosso país todo. Temos recebido tão pouco e merecemos tanto", observou.
Depois de receber o Prémio Camões (2007), o Prémio José Donoso (2006), o Prémio da Feira Internacional do Livro de Guadalajara (2008, antigo Prémio Juan Rulfo) e o Prémio Terenci Moix (2008), Lobo Antunes considerou "muito incómodo" o facto de existir "uma unanimidade" em torno da sua obra.
"As unanimidades são sempre de desconfiar. Então, é melhor uma pessoa começar a perguntar 'o que é que eu terei feito mal?'", sustentou.
A distinção de Comendador é a mais elevada da Ordem das Artes e das Letras francesa - que inclui ainda os graus de Cavaleiro e Oficial - e é atribuída pelo Governo francês a personalidades da área da Cultura por méritos excepcionais.
Criada em 1957, a Ordem das Artes e das Letras de França já foi entregue a mais de uma dezena de portugueses, entre os quais Amália Rodrigues, Manoel de Oliveira, Agustina Bessa Luís, João Bénard da Costa, Júlio Pomar (Comendadores), Lídia Jorge, Luís Miguel Cintra, Eduardo Lourenço (Oficiais) e Mísia, José Saramago, José Manuel Castello Lopes e Maria de Medeiros (Cavaleiros).
Nascido em Lisboa, o romancista de 66 anos já publicou quase três dezenas de obras, a primeira das quais o romance "Memória de Elefante", em 1979, e a mais recente, "O Meu Nome é Legião", em 2007, a que se seguirá, em Outubro deste ano, "O Arquipélago da Insónia".
"Poder continuar a escrever - essa é a única recompensa que me interessa. O resto não é importante", rematou Lobo Antunes.
ANC.
Lusa/fim
keywords: cultura LITERATURA PREMIO CULTURA França
FONTE: Visão Online - Laveiras,Portugal
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