Autor completo, sem escrever uma linha dos roteiros
Luiz Carlos Merten
Na abertura de seu verbete sobre Alain Resnais no Dicionário de Cinema, Jean Tulard lembra que foi grande o debate quando o diretor de curtas estreou no longa. Em pleno surto de cinema de autor da nouvelle vague, surgia esse cineasta que se recusava a escrever os próprios roteiros. Os críticos perguntavam-se se Resnais seria mesmo um autor ou um ilustrador dos roteiros de Marguerite Duras, Alain Robbe-Grillet, Alain Cayrol, Jorge Semprun, David Mercer.
Luiz Carlos Merten
Na abertura de seu verbete sobre Alain Resnais no Dicionário de Cinema, Jean Tulard lembra que foi grande o debate quando o diretor de curtas estreou no longa. Em pleno surto de cinema de autor da nouvelle vague, surgia esse cineasta que se recusava a escrever os próprios roteiros. Os críticos perguntavam-se se Resnais seria mesmo um autor ou um ilustrador dos roteiros de Marguerite Duras, Alain Robbe-Grillet, Alain Cayrol, Jorge Semprun, David Mercer.
É notório que Resnais não escreve uma linha do roteiro de seus filmes e, pelo contrário, estimula seus roteiristas a irem ao limite. Quando ele começa a obra da leitura, a que se refere Bachelard, a página morta do roteiro ganha vida por obra e arte de sua mise-en-scène e a despeito das personalidades diversas de todos os escritores com quem ele trabalha, é óbvio que existe uma autoria no cinema de Resnais, e ela é só dele.
Duras (Hiroshima), Robbe-Grillet (Marienbad), Semprun (A Guerra Acabou), Mercer (Providence). Depois vieram Henri Laborit (Meu Tio da América)e Alan Ayckbourne, o dramaturgo inglês por quem Resnais ficou aficionado, adaptando primeiro Smoking/No Smoking e, agora, Medos Privados em Lugares Públicos, cujo título original é Coeurs, Corações. Um filme sobre o afeto, contra a indiferença.
De todas as colaborações de Resnais com roteiristas, a mais polêmica foi com o cartunista norte-americano Jules Feiffer, que escreveu para ele Quero Ir para Casa. Durante muito tempo, Resnais sonhou com uma versão de Mandrake, personagem rico e complexo que lhe permitiria falar de ilusionismo (e tempo). Sua única incursão pelo universo dos quadrinhos, com Feiffer, talvez seja seu filme mais decepcionante.
FONTE: Estadão - São Paulo,SP,Brazil
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