sexta-feira, julho 04, 2008

Estrelas quase decadentes


Estrelas quase decadentes
Drogas e álcool tornam-se marcas registradas de celebridades
Anelise Zanoni anelise.zanoni@zerohora.com.br
Sobre um travesseiro, a cantora inglesa Amy Winehouse abre os olhos pintados de preto e faz uma confissão pública.

– Eles tentaram me levar para a reabilitação, mas eu disse não, não, não.A fragilidade que se tornou orgulho na letra da música Rehab, lançada em 2006, e alavancou o sucesso da artista inglesa está destruindo a carreira milionária de quem conquistou cinco Grammy Awards este ano. Aos 24 anos, Amy Winehouse ainda surpreende o público quando interpreta canções com vocais semelhantes ao de uma cantora negra da melhor estirpe. Mas tem a saúde debilitada devido ao uso constante de drogas e vem colecionando escândalos que a conduzem a uma constante decadência, revelada diariamente pela imprensa mundial.

Usuária assumida de entorpecentes, ela já foi presa, apareceu bêbada em shows, caiu no palco e foi flagrada fumando cachimbo de crack e tomando calmantes. No ano passado, ao mesmo tempo em que seu segundo álbum, Back to Black, alcançava recordes de vendas, tornou-se alvo de críticas por apresentar-se alcoolizada e drogada. Chegou a ser chamada, ironicamente, de "Amy Declinehouse" pela coluna Bizarre, do jornal britânico The Sun. Na época, o tablóide revelou que a artista passara três dias sem dormir, bebendo vodca e uísque e consumindo ecstasy, remédio para cavalos e cocaína, antes de dar entrada em um hospital, com overdose.

Entre a sucessão de desastres e abusos, o cancelamento de shows, os desmaios e as entradas em hospitais tornaram-se rotina. A poucos dias de uma apresentação nos Estados Unidos, Amy teve o visto de entrada no país negado. Na semana passada, foi internada em um hospital de Londres com diagnóstico de princípio de enfisema pulmonar. Recebeu um ultimato dos médicos: se não abandonar o vício, terá o mesmo destino de estrelas como Jim Morrison e Janis Joplin – a morte precoce. Pareceu não se abalar. Na terça-feira passada, ao deixar por algumas horas o hospital para o ensaio de um show em homenagem aos 90 anos de Nelson Mandela, a primeira coisa que fez foi acender um cigarro.

Artistas repetem amargas trajetórias. De ícones como Marilyn Monroe e Elvis Presley, a escritores como Edgar Alan Poe e Baudelaire, as drogas e o álcool escreveram histórias paralelas às biografias oficiais.

– É unanimidade o fato de que a drogadição é o resultado de uma complexa equação que une a história de vida pessoal, a substância utilizada e a influência do contexto social sobre o indivíduo – explica a psicóloga Luciane Raupp, doutoranda da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP).

>> Leia também: Divas incompreendidas

Como se fossem produtos de um ciclo em que ser famoso e ter dinheiro é pouco, ídolos se valem de contas bancárias milionárias para abusar dos próprios limites. Nessa busca pelo prazer, o mundo artístico conspira, facilitando o comércio de substâncias ilícitas (por meio de amigos ou dos próprios empresários) e a celebração das extravagâncias.

– Às vezes, empresários desejam que o artista renda mais, faça mais shows e tenha mais energia. Para isso há a cocaína, por exemplo. Quem não tem uma boa base, com pais por perto, corre o risco de optar pelas drogas – revela o psiquiatra Carlos Alberto Iglesias Salgado, coordenador do Departamento de Dependência Química da Associação de Psiquiatria do RS.

No corpo de celebridades como Amy Winehouse, excessos se transformam em glamourização, uma forma de brincar com a própria vida, sem pensar nas conseqüências irreversíveis. Por dentro das explicações possíveis para oscilações que refletem na carreira, a psiquiatra Lisia Von Diemen, especialista em dependência química, lista predisposições individuais, problemas familiares, transtornos de humor, depressão, ansiedade, fobias, hiperatividade e bipolaridade como alguns dos fatores que colaboram na hora de colocar a fama em risco. Para cantoras como Britney Spears e Lily Allen, essas mudanças de comportamento se converteram em características de personalidade e em publicidade.

Depois de estampar a capa da Rolling Stone aos 17 anos, Britney ficou mais ousada. Vendeu milhares de discos, manteve-se líder na Billboard, trocou de estilo, lançou modas e ficou casada com o amigo de infância Jason Allen Alexander por apenas 55 horas. Protagonizou aparições polêmicas, como o beijo na boca que deu em Madonna durante um show da MTV. Vencidas as idas e vidas em clínicas de reabilitação, decidiu ficar careca. Participou de brigas, se divertiu em noitadas regadas a álcool, engordou, emagreceu e perdeu a guarda dos filhos.

Ver ídolos como Britney Spears perambular na linha entre a vida e a morte, a loucura e a sanidade ou entre o sucesso e o esquecimento é fascinante, diz o psiquiatra Carlos Alberto Iglesias Salgado. Seguindo a mesma história de descontrole, a cantora inglesa com rostinho de criança Lily Allen também conseguiu se transformar em personagem de escândalos. Aos 23 anos, adora chamar atenção, seja bebendo excessivamente, causando polêmica ao entrar de penetra em festas ou posando de topless ou sem calcinha para os fotógrafos. Convidada para receber um prêmio da revista Glamour, deixou a festa inconsciente, nos braços do guarda-costas.

Excessos podem se transformar em glamour

– Na era do Big Brother, onde a espetacularização da vida privada está em cena, os escândalos e a exposição da vida privada também vendem e encantam, mesmo que à custa da promoção de uma imagem negativa – explica a psicóloga Luciane Raupp.
Eleita há seis anos pela revista Forbes como uma das celebridades mais influentes do mundo, a Britney dos escândalos também revela o paradoxo de que o errado pode render, além de publicidade, críticas positivas. Em meio a internações em clínicas de reabilitação e aparições lamentáveis, a princesa do pop lançou o último álbum em outubro e alcançou recorde de vendas em menos de 24 horas. Mesmo com a aparente decadência, ganhou da crítica elogios por ter feito "o melhor trabalho de sua carreira".
– Veja o caso da modelo Kate Moss. Após ser flagrada usando cocaína, em vez de ser banida por empresários da moda, não perdeu o posto de modelo disputada. O uso de drogas é um estilo de vida inserido em um mercado altamente lucrativo, e o perigo é a banalização de tais comportamentos – alerta Luciane.
Enquanto a curiosidade do público é fomentada com o espetáculo das celebridades, Amy, Britney e Lily vendem, são inspiração para bonecas, ganham mais popularidade e viram alvo de chacotas em páginas da internet que tentam adivinhar o destino das estrelas.

FONTE (photo include): Diário de Santa Maria (Assinatura) - Santa Maria,RS,Brazil

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