terça-feira, maio 06, 2008

O mais justo de todos os justos

O mais justo de todos os justos
"O meu nome é 174 517; fomos baptizados, guardaremos até à morte a marca tatuada no braço esquerdo." O resto pode ler-se no livro de Primo Levi Se Isto É Um Homem - ou, entre tantos outros títulos que retrataram os campos de extermínio nazis, em A Centelha da Vida, de Erich-Maria Remarque.
Antes de se conhecerem bem os contornos do Holocausto já alguns espíritos de coragem evitavam a morte a centenas de milhares de prévios condenados. E, apesar da fama que o filme de Spielberg deu a Oskar Schindler, o maior símbolo dessa acção foi o diplomata sueco Raoul Wallenberg, que protegeu entre 20 mil e 100 mil judeus na Hungria - Aristides de Sousa Mendes emitiu uns 30 mil vistos, abrangendo cerca de dez mil refugiados de religião judaica - e, depois, entre tantas homenagens, tem o seu nome na rua de Washington onde fica o Museu Memorial do Holocausto dos EUA.
Preso pelos russos em 1945, tendo morrido presumivelmente nas masmorras de Estaline, só após a perestroika é que os documentos pessoais do mais justo dos "justos das nações do mundo" (como são designados, pelo Museu e Memorial do Holocausto Yad Vashem, de Israel, os 20 mil não judeus que salvaram do nazismo os condenados com a estrela de David) foram devolvidos à família, que agora disponibiliza uma parte em três CD. E consultando o seu diário percebe-se melhor como é que Raoul Wallenberg passava os "passaportes de protecção", juridicamente inválidos mas que iludiam autoridades húngaras e nazis, e confirmar, pela agenda telefónica, que ele terá negociado com Eichmann a anulação de muitas deportações.
Os que não tiveram Wallenbergs preocupados com o seu sinistro destino, na melhor das hipóteses puderam contar o que viram e viveram. E, na mais benigna das hipóteses, faziam relatos como os do romance de Saul Bellow A Organização Bellarosa: "Alguns campos eram governados num estilo burlesco que nos forçava a estabelecer estas relações [com Jarre e o Rei Ubu, o absurdismo, o movimento dadá, o surrealismo]. Os prisioneiros eram mandados, nus, para um pântano e obrigados a coaxar e a saltar como rãs; crianças eram enforcadas já mortas de fome; trabalhadores escravos, enregelados, eram mandados alinhar em frente do patíbulo, enquanto uma orquestra da prisão tocava valsas de operetas vienenses."
FONTE: Diário de Notícias - Lisboa - Portugal

Nenhum comentário:

Postar um comentário