AIRES DE ALMEIDA SANTOS
A MULEMBA SECOU No barro da rua,
Pisadas
Por toda a gente,
Ficaram as folhas
Secas, amareladas
A estalar sob os pés de quem passava.
Depois o vento as levou... Como as folhas da mulemba
Foram-se os sonhos gaiatos
Dos miúdos do meu bairro. (De dia,
Espalhavam visgo nos ramos
E apanhavam catituis,
Viúvas, siripipis
Que o Chiquito da Mulemba
Ia vender no Palácio
Numa gaiola de bimba. De noite,
Faziam roda, sentados,
A ouvir,
De olhos esbugalhados
A velha Jaja a contar
Histórias de arrepiar
Do feiticeiro Catimba.) Mas a mulemba secou
E com ela,
Secou também a alegria
Da miudagem do bairro: O Macuto da Ximinha
Que cantava todo o dia
Já não canta.
O Zé Camilo, coitado,
Passa o dia deitado
A pensar em muitas coisas.
E o velhote Camalundo,
Quando passa por ali,
Já ninguém o arrelia,
Já mais ninguém lhe assobia,
Já faz a vida em sossego. Como o meu bairro mudou,
Como o meu bairro está triste
Porque a mulemba secou... Só o velho Camalundo
Sorri ao passar por lá!...
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