domingo, maio 18, 2008

Mestre, que eu veja

Debates e idéias
Mestre, que eu veja
Luís da Câmara Cascudo conta isto: “D. Teotônio de Bragança escreveu a Santa Teresa de Jesus, pedindo auxílio. A doutora de Ávila respondeu de Tegônia, 3 de julho de 1574: Procure Vuestra Señoria algunas veces, cuando se vê apretado, irse adonde vea Cielo...”
Vá aonde veja céu. Os americanos amam pesquisas. Notícia do magazine “Time”: alunos da mesma série escolar foram separados em dois grupos, na realização da mesma tarefa. Um grupo ficou no ambiente costumeiro da sala de aula. O outro grupo trabalhou sem o cerco de paredes, sem teto. Pois foi muito superior o desempenho dos estudantes que atuaram vendo o céu.
Fenômeno do nosso tempo. O atento observador dos praticantes do “cooper” se espantam com a direção dos olhos dos caminhantes. Esses olhares são imitadores das raízes: parecem afundar no chão. Não há céu sobre suas cabeças. O arco-íris esplende nas alturas? Perde-se o espetáculo da decomposição da luz nas sete cores do espectro solar.
Lacordaire, grande orador francês, acreditava: Se olhássemos o céu com mais freqüência, acabaríamos criando asas. E voaríamos. Talvez nem precisássemos de aviões...
Tal como os impérios que agitaram a História, o olhar tem uma busca de posse. Há um gosto de donos na visão dos admiradores da beleza das mulheres nas praias. As culminâncias do Himalaia. As pirâmides do Vale de Gizé no Egito. As estátuas da Ilha de Páscoa. As moças de descendência alemã que lourejam nos espigões da Serra Gaúcha... Tudo isto vira propriedade daqueles que carregam pelo mundo as experiências dessas visualizações...
Na linha de pensamento do olhar como instrumento de posse, e dentro do relativismo humano, os olhos da astronomia têm a ambição de dominar o absoluto. Vivem os astrônomos o misticismo da busca de Deus?
Porque as distâncias entre as estrelas... entre as constelações... entre as galáxias são inconcebíveis. São medidas na vertigem dos anos-luz. Na constelação do Centauro, os olhos se deslumbram com duas estrelas de primeira grandeza, ao lado do Cruzeiro do Sul. Mas também lá está a Próxima do Centauro, a estrela que fica mais perto da Terra, depois do Sol. O olhar humano não toma posse da Próxima do Centauro, ela é invisível a olho nu.
A lógica de uma civilização é determinada pela idéia que fornece o “status” mais alto às pessoas. Nestes tempos de força do consumismo, o maior prestígio social vem do dinheiro. Busca diferente é insensatez. Mas o apóstolo Paulo, que viveu tudo, até a conivência no assassinato de Estêvão, Paulo de Tarso tem outra lógica: “O que parece loucura em Deus é sabedoria mais alta que a dos homens. E o que parece fraqueza em Deus é força mais forte que a dos homens.” (I Coríntios, 1, 25). O cego Bartimeu pedia esmolas. Aproxima-se de Jesus de Nazaré, que lhe pergunta: “- Que queres que te faça?” E a resposta não é dinheiro. Não é roupa. Não é comida. Não é prestígio. E vem a resposta do mendigo cego: “Raboni, ut videam”. Mestre, que eu veja.
JOSÉ COSTA MATOS
Da Academia Cearense de Letras
FONTE: Diário do Nordeste (Assinatura) - Fortaleza,CE,Brazil

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