Livro "Ritos de Passagem" de Paula Tavares lançado em Lisboa
JOÃO SERRA LisboaA poetisa angolana Paula Tavares lançou quarta-feira em Lisboa o livro "Ritos de Passagem", com capa e figurações de Luandino Vieira, numa segunda edição dada ao prelo de estreia em 1985 pela União dos Escritores Angolanos (UEA).
O livro traz prefácio de Inocência Mata, especialista em literaturas africanas de língua portuguesa e docente universitária, que na apreciação que faz confessa "deslumbramento" pela obra, por reflectir "pela primeira vez, na poesia africana, uma escrita em que a voz da mulher se faz ouvir na sua individualidade, na sua feminilidade, na sua corporalidade", equiparando Paula Tavares a poetisas africanas de referência como Alda do Espírito Santo (S. Tomé e Príncipe) e Noémia de Sousa (Moçambique).
Paula Tavares, na sessão de lançamento de "Ritos de Passagem" em Lisboa, fez saber que a decisão de reeditar a obra se deveu a insistências de Inocência Mata e de Luandino Vieira, autor da capa do livro e de duas dezenas e meia de vinhetas que o ilustram.
"Este livro foi para mim uma revelação, adoro-o deste quando era estudante de literaturas africanas", confessou a autora do prefácio ao fazer a apresentação da obra, revisitando o seu primeiro contacto em 1985 com a inicial edição de "Ritos de Passagem".
Sobre "Ritos de Passagem", Inocência Mata afirma que este livro marcou a sua "percepção" de uma poesia que revela "a expressão da subjectividade feminina - da mulher enquanto ser humano em primeiro lugar e, como tal, com os seus desejos (espirituais, afectivos, culturais, sexuais), frustrações, as suas ambições e sonhos, as suas alegrias, admirações, dores e sensações - de que a alma da mulher, com os seus juízos subjectivos, toma consciência de si, enquanto mulher e enquanto ser humano".
Luandino Vieira, também no lançamento desta obra de Paula Tavares, não esteve com meias palavras ao classificá-la como "um pequeno livro de grande poesia", ele que em 1985, então secretário geral da União dos Escritores Angolanos, deu luz verde para a sua primeira edição nos Cadernos Lavra e Oficina da UEA."
Mas só 25 anos depois percebi a carga erótica altíssima deste livro", confessou em tom coloquial o autor de "Luanda". De facto, os versos de Paula Tavares neste "Ritos de Passagem" trazem subjacentes cumplicidades entre a alma e o corpo, a mulher como actor principal em que se adivinham cenários rurais do Sul de Angola, por certo da Huíla, sua origem."
Hoje levantei-me cedo/pintei de tacula e água fria o corpo aceso/não bato manteiga/não ponho o cinto/vou para o sul saltar o cercado", este fragmento de um dos poemas deste livro de Paula Tavares ilustra a perspicácia da avaliação temática de Luandino Vieira e, claramente, as origens desta poesia e da sua autora.
Ana Paula Tavares nasceu na Huíla em 1952 é historiadora de profissão com o grau de Mestre em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa. Em Angola publicou "Ritos de Passagem" (poemas, 1985, UEA) e em Cabo Verde "O Sangue da Buganvília" (crónicas, 1998).
Em Portugal, deu à estampa "O Lago da Lua" (poemas, 1999), "Dizes-me Coisas Amargas como os Frutos" (poemas, 2001, obra galardoada com o Prémio Mário António de Poesia da Fundação Caloustre Gulbenkian), "Ex-Votos" (poemas, 2003), "A Cabeça de Salomé" (crónicas, 2004) e "Manual para Amantes Desesperados" (poemas, 2006), obras todas elas editadas pela Editorial Caminho.Publicou também alguns ensaios sobre História de Angola e está representada com poesia e prosa em várias antologias em Portugal, Brasil, França, Alemanha, Espanha e Suécia.
FONTE: Jornal de Angola - Luanda,Luanda,Angola
http://www.jornaldeangola.com/
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