Darcy Damasceno
A DAMA Era dama, eu não sabia,
Pois tratava-a por princesa.
Sabia, sim, mas fazia
Como se não, porque à mesa
Donde deserta a alegria,
Se dois bebem, a tristeza
Se aventura em companhia.
Era dama, eu bem sabia,
Mas a queria princesa,
Porque em seu silêncio havia
Algo tirante a nobreza
E o meu silêncio dizia
Que, se bebem dois à mesa,
Algo além da carne os lia.
Era dama, e consentia
No rosto a frágil firmeza
De quem não quer, não queria,
Mas quisera, com certeza,
Se soubesse que eu sabia
Que era dama, embora presa
Do triste que me prendia.
De princesa presumia
Porque éramos dois à mesa
E entre nós e a carne havia
Algo tocante a tristeza,
Que, no silêncio, acendia
A lâmpada da surpresa
E ante a mulher me inibia.
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