segunda-feira, janeiro 28, 2008

«Mercado atira poesia para clandestinidade», Manuel Alegre

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«Mercado atira poesia para clandestinidade», Manuel Alegre
Manuel Alegre foi homenageado pelo Instituto Politécnico de Leiria (IPL), na abertura do II Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, distinção que considerou «uma homenagem à própria poesia», que «a ditadura do mercado tenta atirar para a quase clandestinidade».
Manuel Alegre recebeu com «comoção e grande embaraço» a homenagem do IPL, sublinhando contudo que «a única compensação da poesia é ela mesma».
«As pessoas associam o meu nome à poesia e isso é muito gratificante», reconheceu, salientando a ligação entre a poesia e o tema do encontro de escritores que decorre hoje e amanhã em Leiria, «A escrita e a cidadania»
«Na nossa história, a poesia sempre foi inseparável da cidadania - desde D. Dinis. E também inseparável da liberdade, dos portugueses e do próprio país», observou o poeta.
Para Manuel Alegre, a distinção hoje recebida é «uma homenagem à poesia num tempo em que a ditadura do mercado tenta atirar a poesia para a margem e para a quase clandestinidade».
«A poesia - disse - é um exercício espiritual e um método de libertação interior. Nesse sentido será sempre um acto resistência contra as múltiplas formas de degradação da vida. É preciso acreditar de novo na força mágica da palavra poética, porque só ela, pelo seu poder alquímico, é capaz de mudar a vida. As palavras inspiram e podem mudar a realidade».
O secretário de Estado da cultura, Mário Vieira de Carvalho, considerou Manuel Alegre «um dos maiores poetas da língua portuguesa e um daqueles também que, de uma forma extraordinária e rara, incorpora o tema deste II Encontro de Escritores de Língua Portuguesa».
Vieira de Carvalho realçou o merecimento da distinção a Alegre, autor que «transforma as palavras em música e que traz para a língua portuguesa uma poesia cheia de emoção, uma característica eminentemente própria da arte musical».
«Na poesia é que está a verdade. As palavras gastas pelo quotidiano têm o seu sentido aprisionado. Só o poeta pode libertá-las. A sua poesia fala de liberdade mas ele também, ao longo da sua vida, libertou a língua dessa prisão do quotidiano», disse.
O presidente do IPL, Luciano de Almeida, qualificou Manuel Alegre de «vulto incontornável» da cultura e da identidade portuguesas, por «ter mantido viva a luta pela liberdade», dando «testemunho permanente de que a liberdade se constrói em cada momento e cada gesto», resistindo «a cada momento, sempre que ela [liberdade] pode estar em perigo».
A homenagem do IPL ao escritor serviu ainda para lançar o Prémio de Poesia Manuel Alegre, no valor de 7.500 euros, que a instituição quer atribuir de dois em dois anos, para descobrir e revelar novos autores.
A estes, o poeta deixou um recado: «Sinto-me obrigado a dizer-lhes que não tenham ilusões. A poesia é uma festa, mas também uma grande carga de trabalhos. Oxalá este prémio nos revele alguém que não tenha medo dos trabalhos da poesia, alguém que mereça a poesia».
Diário Digital / Lusa
25-01-2008 7:57:00

FONTE: Diário Digital - Lisboa,Portugal

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