Camilo: "no tatame um quer comer o outro vivo"
Nas seletivas para a Olimpíada de Atenas-2004, o judoca Flávio Canto garantiu vaga nos Jogos ao derrotar o atual campeão mundial Tiago Camilo. Mas a decisão gerou grande polêmica na época, já que a dois segundos do final da luta, o árbitro apontou uma punição a Camilo, dando a vitória ao rival. Desde então essa rivalidade entre os atletas ficou ainda mais acirrada, mas Camilo garantiu, em entrevista ao Terra, que ela existe apenas dentro do tatame e que fora dele, os dois atletas se dão bem. Segundo Tiago, no tatame, "um quer comer o outro vivo". "Rivalidade sempre tem. Ele quer ganhar e eu também quero. Temos que saber separar as coisas. Dentro do tatame um quer comer o outro vivo, mas fora eu me relaciono muito bem com os outros atletas", comentou. Camilo, que faturou o Mundial de judô disputado no Rio de Janeiro na semana passada, afirmou que ficar fora da disputa pela medalha olímpica na Grécia foi um fator positivo em sua carreira. Na época em que perdeu para Canto, o judoca procurou encontrar os erros e consertá-los. "Quando você perde uma seletiva de maneira incontestável é mais fácil de absorver, mas da maneira como foi, procurei não culpar as pessoas e olhei em mim o que deveria ser melhorado. Ponderei muitas coisas que não estavam corretas. Procurei melhorar. Ter ficado fora de Atenas foi bom. Reencontrei a vontade, determinação e o prazer que tinha em representar o Brasil", explicou. Mesmo sendo o atual campeão mundial, Camilo ainda não tem presença confirmada nos Jogos Olímpicos de Pequim-2008. Para isso, ele terá que passar por uma seletiva e tentar a vaga. No entanto, segundo ele, não é o momento de se preocupar com o regulamento, se ele é justo ou não, mas sim em procurar seguir trabalhando. "Não é o momento de me preocupar com isso. Fiz o que tinha que fazer e fui o melhor do Mundial. Agora o jeito é continuar no caminho e saber que as coisas irão acontecer naturalmente. Deu tudo certo no Rio de Janeiro com todo mundo. Não tenho dúvida que vou conseguir a vaga para Pequim", comentou. Desde a prata em Sidney-2000, até o ouro nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro e no Mundial passaram-se sete anos. Neste período, Camilo teve algumas contusões, mas nada que o impediu de continuar tentando voltar ao topo do esporte. Para Tiago, na época da recuperação, ele só pensava em "voltar e ter uma vida normal". "Tive um mau momento. A contusão depois de Sidney, depois fiquei oito meses fora. Minha maior preocupação era voltar a ter uma vida normal. Eram dois grandes desafios pois subi de categoria na época. Foi um momento de aprendizado e preparação. Amadureci muito. E agora consegui grandes resultados", lembrou Camilo. Caso garanta vaga para Pequim, Camilo será um dos grandes favoritos à medalha de ouro nos Jogos. O judoca acredita que quando se é campeão mundial da maneira como foi, com ippon em todas as lutas da competição, acaba gerando uma expectativa grande, mas acha que isso não será um ponto negativo. "Quando você é campeão do mundo da maneira que fui acaba gerando grande expectativa, mas tem que saber dividir, separar as coisas. Temos que trabalhar. Quando me proponho a fazer uma coisa direito, as coisas acontecem. Tenho que absorver tudo de positivo que a torcida deposita para que consiga mais uma medalha olímpica", disse Camilo, confiante para a seletiva. Para o Mundial do Rio, em que faturou o ouro e foi considerado o melhor lutador da competição, Camilo treinou no Rio Grande do Sul. O atleta fazia os treinamentos em São Paulo, mas preferiu se transferir para o Sul que, segundo ele, lhe dá mais tranqüilidade para trabalhar. "Foi um desafio. Saí de um grande centro de treinamento na capital para mudar toda minha rotina de treino, amigos e tudo. Tudo foi novo. Tive que reconstruir. Está sendo muito bom treinar, fui acolhido com muito carinho e isso vem dando certo e possibilita que eu caminhe nessa trilha que leva ao sucesso. Lá tem tranqüilidade para treinar", comentou. De acordo com o judoca, o fato de o judô masculino ter obtido mais sucesso no Mundial quando comparado ao feminino é uma questão história. Para ele, as meninas estão em grande evolução no esporte e isso trará confiança à equipe. "As meninas estão evoluindo. No Pan, elas foram bem e no Mundial o nível era bem maior. Mas a história do masculino é muito maior em termos de medalha. Isso faz as atletas terem confiança. Depois que o feminino emplacar vai ser igual o masculino", completou, antes de comentar a respeito do incentivo do judô no Brasil, que, para ele, ainda é fraco. "Acho que o esporte está caminhando. O Pan foi o primeiro passo. O Mundial foi excelente, mas o primeiro passo foi dado. Essa visibilidade que temos hoje nunca tivemos. Encaramos sempre com profissionalismo. Essas competições servem de lição para mostrar que o esporte é um meio saudável. O importante é dar o seu melhor, independente de onde estiver atuando. Assim, em algum lugar você chega. O esporte vai crescer cada vez mais e todo mundo vai sair ganhando. Isso é um ciclo positivo, um ciclo de vitória", explicou. Camilo comentou que consegue viver exclusivamente do judô, diferente de outros atletas que possuem outras profissões. No caso dele, os parceiros e patrocinadores dão tranqüilidade para que o atleta trabalhe e se empenhe ao máximo. "Vivo só do judô mesmo. Mas hoje através do esporte consigo realizar meu sonho. Considero-me um privilegiado. O clube e os parceiros me dão tranqüilidade para eu me realizar, mas as coisas estão melhorando. Tem atleta que nem tem patrocinador. O Pan vai ser um divisor de águas para o esporte brasileiro. O povo vai se realizar ainda mais com essa evolução. Devagar estamos consolidando uma imagem positiva", afirmou, antes de brincar que às vezes, durante os treinamentos com o também campeão mundial João Derly (categoria até 66kg), seu companheiro consegue vencê-lo. "A gente treina junto, mas a diferença de peso é demais. São quase 15kg de diferença (Camilo é da categoria até 81kg). Às vezes eu ganho, mas às vezes ele ganha também", disse, antes de começar a rir. Camilo admira os vencedores. Fã do ex-jogador de basquete Michael Jordan, do tenista Roger Federer e de Ayrton Senna, o judoca gosta dos esportistas que entraram para a história de suas modalidades. "Sempre admirei atletas vencedores e que entram para história. Michael Jordan, Ayrton Senna, Roger Federer. Eles têm que ser admirados da maneira que caminharam no esporte. Aurélio Miguel também. Todos que fizeram história têm que ser admirados", concluiu.
Fonte: Terra
Nas seletivas para a Olimpíada de Atenas-2004, o judoca Flávio Canto garantiu vaga nos Jogos ao derrotar o atual campeão mundial Tiago Camilo. Mas a decisão gerou grande polêmica na época, já que a dois segundos do final da luta, o árbitro apontou uma punição a Camilo, dando a vitória ao rival. Desde então essa rivalidade entre os atletas ficou ainda mais acirrada, mas Camilo garantiu, em entrevista ao Terra, que ela existe apenas dentro do tatame e que fora dele, os dois atletas se dão bem. Segundo Tiago, no tatame, "um quer comer o outro vivo". "Rivalidade sempre tem. Ele quer ganhar e eu também quero. Temos que saber separar as coisas. Dentro do tatame um quer comer o outro vivo, mas fora eu me relaciono muito bem com os outros atletas", comentou. Camilo, que faturou o Mundial de judô disputado no Rio de Janeiro na semana passada, afirmou que ficar fora da disputa pela medalha olímpica na Grécia foi um fator positivo em sua carreira. Na época em que perdeu para Canto, o judoca procurou encontrar os erros e consertá-los. "Quando você perde uma seletiva de maneira incontestável é mais fácil de absorver, mas da maneira como foi, procurei não culpar as pessoas e olhei em mim o que deveria ser melhorado. Ponderei muitas coisas que não estavam corretas. Procurei melhorar. Ter ficado fora de Atenas foi bom. Reencontrei a vontade, determinação e o prazer que tinha em representar o Brasil", explicou. Mesmo sendo o atual campeão mundial, Camilo ainda não tem presença confirmada nos Jogos Olímpicos de Pequim-2008. Para isso, ele terá que passar por uma seletiva e tentar a vaga. No entanto, segundo ele, não é o momento de se preocupar com o regulamento, se ele é justo ou não, mas sim em procurar seguir trabalhando. "Não é o momento de me preocupar com isso. Fiz o que tinha que fazer e fui o melhor do Mundial. Agora o jeito é continuar no caminho e saber que as coisas irão acontecer naturalmente. Deu tudo certo no Rio de Janeiro com todo mundo. Não tenho dúvida que vou conseguir a vaga para Pequim", comentou. Desde a prata em Sidney-2000, até o ouro nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro e no Mundial passaram-se sete anos. Neste período, Camilo teve algumas contusões, mas nada que o impediu de continuar tentando voltar ao topo do esporte. Para Tiago, na época da recuperação, ele só pensava em "voltar e ter uma vida normal". "Tive um mau momento. A contusão depois de Sidney, depois fiquei oito meses fora. Minha maior preocupação era voltar a ter uma vida normal. Eram dois grandes desafios pois subi de categoria na época. Foi um momento de aprendizado e preparação. Amadureci muito. E agora consegui grandes resultados", lembrou Camilo. Caso garanta vaga para Pequim, Camilo será um dos grandes favoritos à medalha de ouro nos Jogos. O judoca acredita que quando se é campeão mundial da maneira como foi, com ippon em todas as lutas da competição, acaba gerando uma expectativa grande, mas acha que isso não será um ponto negativo. "Quando você é campeão do mundo da maneira que fui acaba gerando grande expectativa, mas tem que saber dividir, separar as coisas. Temos que trabalhar. Quando me proponho a fazer uma coisa direito, as coisas acontecem. Tenho que absorver tudo de positivo que a torcida deposita para que consiga mais uma medalha olímpica", disse Camilo, confiante para a seletiva. Para o Mundial do Rio, em que faturou o ouro e foi considerado o melhor lutador da competição, Camilo treinou no Rio Grande do Sul. O atleta fazia os treinamentos em São Paulo, mas preferiu se transferir para o Sul que, segundo ele, lhe dá mais tranqüilidade para trabalhar. "Foi um desafio. Saí de um grande centro de treinamento na capital para mudar toda minha rotina de treino, amigos e tudo. Tudo foi novo. Tive que reconstruir. Está sendo muito bom treinar, fui acolhido com muito carinho e isso vem dando certo e possibilita que eu caminhe nessa trilha que leva ao sucesso. Lá tem tranqüilidade para treinar", comentou. De acordo com o judoca, o fato de o judô masculino ter obtido mais sucesso no Mundial quando comparado ao feminino é uma questão história. Para ele, as meninas estão em grande evolução no esporte e isso trará confiança à equipe. "As meninas estão evoluindo. No Pan, elas foram bem e no Mundial o nível era bem maior. Mas a história do masculino é muito maior em termos de medalha. Isso faz as atletas terem confiança. Depois que o feminino emplacar vai ser igual o masculino", completou, antes de comentar a respeito do incentivo do judô no Brasil, que, para ele, ainda é fraco. "Acho que o esporte está caminhando. O Pan foi o primeiro passo. O Mundial foi excelente, mas o primeiro passo foi dado. Essa visibilidade que temos hoje nunca tivemos. Encaramos sempre com profissionalismo. Essas competições servem de lição para mostrar que o esporte é um meio saudável. O importante é dar o seu melhor, independente de onde estiver atuando. Assim, em algum lugar você chega. O esporte vai crescer cada vez mais e todo mundo vai sair ganhando. Isso é um ciclo positivo, um ciclo de vitória", explicou. Camilo comentou que consegue viver exclusivamente do judô, diferente de outros atletas que possuem outras profissões. No caso dele, os parceiros e patrocinadores dão tranqüilidade para que o atleta trabalhe e se empenhe ao máximo. "Vivo só do judô mesmo. Mas hoje através do esporte consigo realizar meu sonho. Considero-me um privilegiado. O clube e os parceiros me dão tranqüilidade para eu me realizar, mas as coisas estão melhorando. Tem atleta que nem tem patrocinador. O Pan vai ser um divisor de águas para o esporte brasileiro. O povo vai se realizar ainda mais com essa evolução. Devagar estamos consolidando uma imagem positiva", afirmou, antes de brincar que às vezes, durante os treinamentos com o também campeão mundial João Derly (categoria até 66kg), seu companheiro consegue vencê-lo. "A gente treina junto, mas a diferença de peso é demais. São quase 15kg de diferença (Camilo é da categoria até 81kg). Às vezes eu ganho, mas às vezes ele ganha também", disse, antes de começar a rir. Camilo admira os vencedores. Fã do ex-jogador de basquete Michael Jordan, do tenista Roger Federer e de Ayrton Senna, o judoca gosta dos esportistas que entraram para a história de suas modalidades. "Sempre admirei atletas vencedores e que entram para história. Michael Jordan, Ayrton Senna, Roger Federer. Eles têm que ser admirados da maneira que caminharam no esporte. Aurélio Miguel também. Todos que fizeram história têm que ser admirados", concluiu.
Fonte: Terra
Autor: ANTONIO QUEIROZ
O Estadão do Norte - Porto Velho, RO, Brazil
Nenhum comentário:
Postar um comentário