Menino Problema
Ofélia Bomba
Tu vens ao meu encontro
Com olhos de dúvida e de espanto
E gestos marcados pela amargura
Tu que és um filho do desamor
O fruto do desinvestimento
Da ausência total de ternura
Vives em rebeldia e tormento.
Tu
Arrancado à inocência
Moldado na dor e na violência
Que tiveste mãe que não soube sê-lo
E pai ausente que é como não tê-lo
Tu que, morto de toda a esperança,
Fazes da rua o teu lar de criança
E da solidão a família que não tiveste
Foges!
Foges sem destino e para o teu destino
De menino...
Menino-sofrimento, menino agreste
Menino-revolta
Menino-problema, menino à solta
Menino-triste!
Até que um dia vens
Com olhos cor da noite
Sem saberes, ainda, que o verde existe.
E eu, que não sou juíz para te julgar
Nem polícia para te prender
ou médica tenho que te entender
Para te encontrar!
E sinto...
Sinto por ti e contigo,
Com afecto solidário e amigo
A agressão, a revolta, a tristeza, o problema.
E falo...
Falo a língua possível - óh contradição -
Das pessoas felizes para as que não o são.
E busco...
Busco porquês e ausências
Relaciono consequências.
Quando te vejo partir
Com tudo o que sobre ti se abateu
E fico na solidão do decidir
Sobre o rumo a dar à tua vida
Pergunto-me, comovida,
Quem sou eu?
Ofélia Bomba, do livro “A Porta da Reixa”
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