LILA BRIK - TEMPESTADE E CAIS - Neide Rezende Lila Brik era casada com o editor Oto Brik, quem primeiro comprou as produções do poeta, a cinquenta copeques por linha. Era formosa, corpo diminuto, frágil e sensual, olhos escuros e profundos. Mulher de personalidade múltipla e cambiante, de grande intuição e versatilidade artística, capaz de escrever, pintar, modelar, dançar e representar.
Era "triste, alegre, feminina, caprichosa, vazia, inconsciente, inteligente, trabalhadora, quando trabalhava, enamorada sempre. Mas era pequeno-burguesa; só queria mimos, comodidades." (Chklóvski).
Elsa Triolet (a poetisa) traça o seguinte perfil da irmã:
"... a cabeça ruiva jogada para trás, mostrava todos os dentesesplêndidos, sólidos, na boca grande, pintada, os olhos castanhos muito redondos, iluminados, num rosto com esse excesso de expressão quase indecente de intensidade, que faz com que, jovem ou velha, com tez miraculosa, ou toda enrugada, os transeuntes sempre se voltem à sua passagem."
Lila e Maiakóvski moraram juntos em mais de um lugar. Nos finais de semanaa casa se enchia com uma multidão de amigos...Todos os bichos tinham um lugar de honra na casa de Lila e Maiakóvski. Entretanto, a "casa de Lili e Maiakóvski" não se consolidaria. Fatores diversos o impediriam: a vida duríssima daqueles tempos, a guerra, a peste, ou a NEP, a falta de dinheiro, as viagens ou as batalhas políticas, mas, sobretudo, o temperamento de ambos, o do poeta, especialmente, que sabia em consciência não ser "um homem Cômodo". A desmedida sensibilidade do poeta- tão bem espelhada nas hipérboles que lhe recheiam os versos. Com o ardor que punha em tudo, buscava ser feliz e desejava que todos o fossem. Em meio às tremendas lutas que travava, não abria mão do ideal de um amor novo, de concepção mais elevada, entre o homem e a mulher. E então, ao lado da poesia política, de combate duro. ou mesmo dentro dela, confessava-se. desabafava, sonhava ou penitenciava-se, em poemas de amor. Mas, na vida quotidiana, ainda praticava a " desgraçada infidelidade". Ele conheceu Lili em julho de1915 e desde então dedicou-lhe quase que a totalidade de sua obra. Apesar do fracasso das tentativas de vida em comum, Lila continuaria a ser até o fim, a bem-amada, a amiga, a confidente, a musa. Lila era seu melhor ancoradouro, seu verdadeiro porto seguro. Com um só gesto, ela apaziguava qualquer de suas tempestades.
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