CANÇÃO DE NINAR
insônia
rosto sonâmbulo
à vidraça
modorra erótica
imensamente gorda
do gato no asfalto
invisível apito
de guarda-noturno
como a lua
atrás das paredes
zoom de luzes
amarelas e brancas
disputam os olhos
o novo prédio ali
tijolo a tijolo em mim
engastou-se
e só agora o percebo
e provoca-me o lance
da lúcida dúvida:
será o que vejo
e juro que vês
o mesmo que vês
e juras que vejo?
feliz ilusão do real
que sincroniza caminhos
para núpcias, filhos, projetos
sustendo-se garras e dentes
no fio bambo
entre a angústia e o tédio
de volta ao leito
o amor proibido
se faz travesseiro
embala o medo da morte
e adormeço em prece
repetindo o Apóstolo:
“Só Vós tendes palavras
de vida eterna”
Deise Assumpção
(In Cofre, Alpharrabio Edições, Santo André – SP, 2003)
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