domingo, julho 31, 2011

Cinema acidental

‘O segredo dos 'Punhais Voadores’ pode ser visto como um novo clássico. O filme do realizador chinês Yimou Zhang surpreendeu pelo arrojo visual 

Por:Joana Amaral Dias

Se o Verão não lhe pede a sombra do cinema e muito menos aguenta o preto e branco, veja os novos clássicos. Assista aos chamados "já é filme de culto", em casa, depois da praia, da piscina, da melancia ou dos cortes orçamentais. Escolha o que lhe permite viajar como uma árvore. Comece pelo fim, que é como fazem os artistas. De preferência, sem aparente gravidade, com ‘O Segredo dos Punhais Voadores’ (Yimou Zhang, 2004).

O que distingue o cinema oriental do ocidental? Haverá algum elemento de ruptura que permita identificar as geografias de cada um? Ou são a mesma coisa? Para proceder a uma análise mais rigorosa, teríamos de eliminar as variáveis étnicas e paisagísticas. Pelo menos. Afinal, são características desses países/continentes e não do seu cinema. O que fica? Do lado oriental, talvez reste o exotismo dos gestos, as coreografias de sedução, sentimentalismo, humor infantil. Será suficiente?


Talvez não. O ‘Segredo dos Punhais Voadores’ tem tudo isso e muito mais. Espionagem, guerra, artes marciais, traições, ciúme, jogos duplos e triplos, melodrama. Num ritmo tal que o espectador nem tem tempo para escolher. É um filme que pasma do princípio ao fim, um épico-operático cruzado com banda desenhada. Uma orgia cinética, plástica, emocional, especulativa. Uma instalação.


O filme vai sempre um passo à frente do público. Nesse sentido, trata-se de uma fita "hollywoodesca". Ou melhor, de um filme que Hollywood gostaria muito de ter feito, provavelmente em vez de ‘O Tigre e o Dragão’ (Ang Lee, 2000). No entanto, não fez. Ora toma. E se existe aquela coisa dita magia do cinema, ei-la.


Corre 859, ano de tirania da decadente dinastia Tang. A ‘Casa dos Punhais Voadores’ é uma seita que combate a podridão do regime. As suas personagens são sobre-humanas. Trepam florestas de bambu como se a maçã de Newton nunca o tivesse tentado, voam como águias sobre os oponentes, manejam armas como deuses, lutam como se dançassem. Os milagres abundam.


‘Punhais’ é um filme devoto. Estupidamente religioso. Os seus protagonistas são arquétipos. O amor quer seduzir a honra. Mas será que ela o destrói? Serão compatíveis? Chega o dilema. Enfim, para se ganhar uma guerra, há que ser impiedoso. Mas sem coração não há largueza. A segurança, como se sabe, mata a liberdade.


No limite, ‘O Segredo dos Punhais Voadores’ pergunta: será que a autonomia dos seres humanos é uma utopia? Como qualquer obra de arte, o filme sugere sem se impor. Sobrando de sensualidade, sangue e seda, ‘Punhais’ é tão opulento quanto subtil. Oriental? É isso? 


RESUMO


Na China do século IX. dois soldados, Jin e Leo, têm como missão encontrar o líder do grupo revolucionário ‘Casa dos Punhais Voadores’. Estabelecem um plano que passa pela libertação de Mei, uma bela mulher que os vai conduzir ao esconderijo do grupo. Mas nada corre como o previsto neste filme que cruza artes marciais com um detalhe na fotografia excepcional.


Realizador: Yimou Zhang 
Elenco: Ziyi Zhang, Takeshi Kaneshiro e Andy Lau

FONTE: http://www.cmjornal.xl.pt/ 
IMAGEM: http://cinemaflop.blogspot.com/

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