quarta-feira, outubro 27, 2010

Política e políticos

Jaime Leitão
26/10/2010 - 06h45 , sem atualização

Jaime Leitão

Em período eleitoral, no qual somos aprisionados em uma teia de promessas e de táticas para nos envolver, por meio de um esquema de marketing muito bem engendrado, é bom escapar um pouco e sair de um tempo e de um espaço excessivamente delimitados.

Isso acontece quando vamos buscar , em escritores e pensadores, frases, algumas carregadas de humor, outras mordazes, sobre a política e os políticos. É claro que não devemos analisá-las de forma denotativa, mas encontrar em cada uma o simbolismo que carregam e o que está dito nas entrelinhas.

A primeira é do escritor francês Alfred de Musset, que viveu no século XIX e teve grande destaque no Romantismo. Ele afirmou: “A política é uma delicada teia de aranha em que lutam inúmeras moscas mutiladas. “Imagens fortes e terríveis essas advindas da pena do extraordinário poeta e dramaturgo. Os políticos utilizam qualquer cenário para transformar em palco para a sua guerra em busca do poder. Dá para negar isso?

Outro escritor francês de época mais recente, Henri Millon de Montherlant (1896-1973), romancista e ensaísta, cunhou esta frase: “A política é a arte de captar em proveito próprio a paixão dos outros”. Uns políticos se aproveitam mais, outros menos, mas é difícil dizer que essa afirmação não é verdadeira. A política acontece com muito mais força no terreno da emoção do que da razão. Daí os exageros cometidos tanto pelos políticos e pelos que se entregam cegamente a eles, sem analisar os fatos dentro de determinado contexto.

O genial físico Albert Einstein também contribui para essa reflexão quando afirma: “A política serve a um momento no presente, mas uma equação é eterna”. A política e os políticos não podem ser levados muito a sério porque, passada a eleição, inimigos se tornam aliados e o que foi dito em campanha acaba adormecendo em textos que dificilmente serão relidos algum dia, pelo menos pela maioria.

O escritor e pensador francês Alexis de Tocqueville, nascido há mais de duzentos anos, complementa o pensamento de Einstein: “Na política, os ódios comuns são a base das alianças”. E eu completo: a nossa indignação diante de políticos que se aliaram a seus antigos inimigos soa para eles como o próprio som do nada. Não estão nem aí para nós. Existimos para eles só em período eleitoral.

Otto Lara Resende, romancista, cronista e frasista, não deixa por menos: “A ação política é cruel; baseia-se numa competição animal, é preciso matar, aniquilar o inimigo”. Que fique bem claro: antes da eleição. Depois, tudo é possível. Exigimos ingenuamente ética na política. E, dessa forma, cumprimos o nosso papel de cidadãos. E eles cumprem o seu papel de ignorar o que exigimos com a maior naturalidade. Políticos e eleitores são dois mundos que se tocam só quando interessa aos primeiros.


(O autor é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.


FONTE: Jornal Cidade - Rio Claro

http://jornalcidade.uol.com.br/

FOTO: poemasdejaimeleitao.blogspot.com

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