Portugal
Viagem a um mundo branco com Alice e coelho dentro
Lisboa - No novo romance do escritor Possidónio Cachapa, "O Mundo Branco do Rapaz-Coelho", há uma Alice e um coelho que contrastam com as personagens criadas por Lewis Carroll no clássico "Alice no País das Maravilhas".
"É uma viagem muito especial (...) este livro tão poderoso, tão vibrante e tão preocupante", disse hoje a escritora e jornalista Helena Vasconcelos na sessão de apresentação da obra editada pela Quetzal, na Fnac Colombo.
Interrogando-se sobre o "estranho fascínio" de Possidónio Cachapa pela figura de Alice e dos seus companheiros de aventuras, Helena Vasconcelos classificou o quarto romance do autor como "uma nova charada e um novo desafio que certamente teria a aprovação de Carroll, logo à primeira leitura".
Porquê? "Por uma razão essencial: a narrativa constrói-se como um puzzle e cada capítulo constitui uma ou mais peças que o leitor tem de ir observando e registando com atenção, para que tudo se encaixe - ou não - no final", argumentou.
Só que aqui, "o tempo passou, o mundo mudou e Alice não envelheceu nada bem. Apenas o coelho rapaz - porque é rapaz e é coelho - está mais ou menos na mesma, isto é, louco", observou a escritora.
Contrastando com a Alice de Carroll, "uma menina mentalmente sã" que "chora, se zanga, ri, tem medo, mete o nariz onde não deve, mas continua", a Alice de Cachapa "tem uma atitude de sonâmbula, é uma espécie de zombie", o que significa que se a primeira "tem aventuras no país das maravilhas, esta tem aventuras no país dos pesadelos mais horríficos".
"Do século XIX e da confortável e optimista sociedade vitoriana - que, evidentemente, escondia coisas terríveis, como a pedofilia, o assassínio, a prostituição e a pobreza mais abjecta por detrás de janelas e portas bem fechadas - passamos aqui para um tempo presente/futuro de pesadelo, em que as alterações climáticas criam um universo de neves e frio eternos, uma sociedade em que os pais são todos violentos, os presidentes da câmara são todos corruptos e em que um assassino em série se torna o anti-herói natural desta saga de dor, alienação e desesperança", sublinhou a ensaísta.
Possidónio Cachapa falou em seguida e começou por dizer que Helena Vasconcelos estava "completamente enganada", embora "da melhor maneira", em relação às referências apontadas, porque ele é "bestialmente ignorante" e apenas escreve "os livros que gostaria de ler".
Assim que acaba de escrevê-los, já não é com ele - "Eles que se façam à vida", lançou - é com os leitores.
"Este é um livro que veio não sei de onde e vai não sei para onde também", disse o autor.
"De todas as histórias que eu escrevi, esta é aquela de que mais me assusta falar, porque não estou a vê-la, acrescentou, explicando aos leitores que encheram o auditório da Fnac Colombo ao fim da tarde que não controla o processo de escrita, nem as suas personagens, e que estas, às vezes, vivem coisas que o perturbam e o obrigam a uma pausa, por serem "muito violentas".
Para Cachapa, "este livro é muito estranho", mas o autor declarou "não estar nada preocupado com isso".
"Este livro já não é meu, está escrito. O trabalho dos leitores é lê-lo, interpretá-lo e apropriar-se dele (...). Eu faço o que posso. Às vezes, corre bem", rematou.
Lisboa - No novo romance do escritor Possidónio Cachapa, "O Mundo Branco do Rapaz-Coelho", há uma Alice e um coelho que contrastam com as personagens criadas por Lewis Carroll no clássico "Alice no País das Maravilhas".
"É uma viagem muito especial (...) este livro tão poderoso, tão vibrante e tão preocupante", disse hoje a escritora e jornalista Helena Vasconcelos na sessão de apresentação da obra editada pela Quetzal, na Fnac Colombo.
Interrogando-se sobre o "estranho fascínio" de Possidónio Cachapa pela figura de Alice e dos seus companheiros de aventuras, Helena Vasconcelos classificou o quarto romance do autor como "uma nova charada e um novo desafio que certamente teria a aprovação de Carroll, logo à primeira leitura".
Porquê? "Por uma razão essencial: a narrativa constrói-se como um puzzle e cada capítulo constitui uma ou mais peças que o leitor tem de ir observando e registando com atenção, para que tudo se encaixe - ou não - no final", argumentou.
Só que aqui, "o tempo passou, o mundo mudou e Alice não envelheceu nada bem. Apenas o coelho rapaz - porque é rapaz e é coelho - está mais ou menos na mesma, isto é, louco", observou a escritora.
Contrastando com a Alice de Carroll, "uma menina mentalmente sã" que "chora, se zanga, ri, tem medo, mete o nariz onde não deve, mas continua", a Alice de Cachapa "tem uma atitude de sonâmbula, é uma espécie de zombie", o que significa que se a primeira "tem aventuras no país das maravilhas, esta tem aventuras no país dos pesadelos mais horríficos".
"Do século XIX e da confortável e optimista sociedade vitoriana - que, evidentemente, escondia coisas terríveis, como a pedofilia, o assassínio, a prostituição e a pobreza mais abjecta por detrás de janelas e portas bem fechadas - passamos aqui para um tempo presente/futuro de pesadelo, em que as alterações climáticas criam um universo de neves e frio eternos, uma sociedade em que os pais são todos violentos, os presidentes da câmara são todos corruptos e em que um assassino em série se torna o anti-herói natural desta saga de dor, alienação e desesperança", sublinhou a ensaísta.
Possidónio Cachapa falou em seguida e começou por dizer que Helena Vasconcelos estava "completamente enganada", embora "da melhor maneira", em relação às referências apontadas, porque ele é "bestialmente ignorante" e apenas escreve "os livros que gostaria de ler".
Assim que acaba de escrevê-los, já não é com ele - "Eles que se façam à vida", lançou - é com os leitores.
"Este é um livro que veio não sei de onde e vai não sei para onde também", disse o autor.
"De todas as histórias que eu escrevi, esta é aquela de que mais me assusta falar, porque não estou a vê-la, acrescentou, explicando aos leitores que encheram o auditório da Fnac Colombo ao fim da tarde que não controla o processo de escrita, nem as suas personagens, e que estas, às vezes, vivem coisas que o perturbam e o obrigam a uma pausa, por serem "muito violentas".
Para Cachapa, "este livro é muito estranho", mas o autor declarou "não estar nada preocupado com isso".
"Este livro já não é meu, está escrito. O trabalho dos leitores é lê-lo, interpretá-lo e apropriar-se dele (...). Eu faço o que posso. Às vezes, corre bem", rematou.
FONTE: AngolaPress
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