segunda-feira, junho 08, 2009

Cultura cigana é fonte de inspiração para inúmeros criadores


LITERATURA - [ 03/06 ]
Cultura cigana é fonte de inspiração para inúmeros criadores
Cruzeiro On Line

A atitude milenar dos ciganos diante do mundo sempre fascinou os criadores, segundo Cristina da Costa Pereira. "Para inventar, o artista precisa do sonho", diz. "E os ciganos, pelo fato de estarem sempre caminhando, sem explicarem a causa da sua busca, inspiram uma visão onírica." Um dos capítulos de "Os Ciganos Ainda Estão na Estrada" é dedicado à presença desse povo errante nas artes. De saída, Cristina alerta para a idealização dos artistas em relação aos ciganos, vistos como seres românticos, à margem do controle social.
No cinema, ela pinçou Ingmar Bergman, Federico Fellini, Carlos Saura e Cacá Diegues. Em "Fanny e Alexander" (1982), Bergman faz um filme autobiográfico em que Alexander se rebela contra a educação rígida, dizendo aos amigos de escola que os ciganos virão buscá-lo. Em "O Sétimo Selo" (1958), quando a Morte joga xadrez com Antonius Block, surge um casal de belos ciganos que a distraem do jogo; é o momento para o protagonista derrubar o tabuleiro e contrariar os desígnios da senhora fatal.
O crítico brasileiro José Lino Grünewald viu na obra de Fellini - como em "La Strada" (1954) - a fixação pelo mundo do circo e pela estrada: "o caminhar constante da procura, cheio de desencontros." O espanhol Carlos Saura dirigiu "Carmen" (1983), que fala da montagem da ópera homônima de Bizet por uma companhia de balé e que capta o espírito independente e narcisista de uma cigana cheia de sensualidade. E Cacá Diegues dirigiu "Bye Bye Brasil" (1979), no qual o protagonista se chama Lorde Cigano, um ilusionista que viaja pelo Brasil para apresentar um espetáculo mambembe com a sua trupe.
Para Cristina, João Guimarães Rosa, que estudou o romani e incluiu três histórias com ciganos em "Tutaméia", foi quem melhor percebeu as singularidades desse povo. Cecília Meireles os menciona em Romanceiro da Inconfidência. Em "Dom Casmurro", Machado de Assis comparou o olhar de Capitu, o mais famoso da literatura brasileira, ao de uma "cigana oblíqua e dissimulada". (É bom lembrar que os ciganos dão extrema importância aos olhos, que revelam as intenções do indivíduo.) A autora cita mais escritores - García Márquez, Lorca, Lawrence, Baudelaire. Além de lembrar as origens ciganas do pianista Wagner Tiso, ela fala do flamenco, que hoje experimenta um boom de gravações e shows na Espanha e que absorveu procedimentos da música cigana.(AE)

FONTE: Jornal Cruzeiro do Sul - Sorocaba,São Paulo,Brazil

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