Levantamento da Unesco faz um raio X do problema no mundo. Globalização e morte dos últimos falantes explicam por que os idiomas desaparecem
Claudia Jordão
O Atlas apresenta a situação de 190 línguas brasileiras, todas indígenas. Dessas, 12 desapareceram e as demais estão em risco. O americano Denny Moore, antropólogo e linguista colaborador do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Nacional) e coordenador da área de linguística do Museu Emílio Goeldi, em Belém, estuda as peculiaridades das tribos amazônicas há 34 anos e foi uma das principais fontes de informação da Unesco na elaboração do Atlas. Segundo ele, o documento deixou de fora os dialetos de descendentes de imigrantes e de grupos afro-brasileiros por falta de dados sistematizados sobre eles - estima-se que sejam 20 línguas.
Para Moore, as informações sobre o Brasil devem ser vistas com cautela. Muitas das línguas citadas são extremamente parecidas e inteligíveis entre si e poderiam ser consideradas pelos linguistas como o mesmo idioma. "Eu diria que os índios brasileiros falam 150 línguas. A gavião de Rondônia e o zoró, por exemplo, são tão semelhantes quanto o português falado no Norte e o falado no Sudeste do País", explica Moore, que fala inglês, português, francês e gavião.
Com o objetivo de entender melhor nosso universo linguístico, o Iphan montou o Grupo de Trabalho da Diversidade Linguística do Brasil (GTDL), que se dedica à criação de um inventário de línguas brasileiras.
Com o documento em mãos, teremos condições de desenvolver ações para evitar o desaparecimento dos idiomas e valorizar as comunidades", diz Sílvia Guimarães, antropóloga do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan. A iniciativa surgiu de uma demanda dos falantes de talian, uma variante do dialeto vêneto. O talian nasceu no Brasil e é praticado na região da Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul. Não há registro oficial do número de pessoas que o utilizam, mas estima-se em 500 mil. Em 2001, a Associação dos Apresentadores de Programa de Rádio Talian pediu o registro da língua como patrimônio cultural do Brasil. "Eles estão cansados de ser tratados como estrangeiros. Nasceram no Brasil e consideram sua língua brasileira", diz Sílvia.
PRESERVADO
Os falantes do talian, uma variante do dialeto vêneto, utilizado na Serra Gaúcha (RS), querem que ele vire patrimônio culturalHoje, o governo reconhece a importância de preservar esse patrimônio imaterial, mas nem sempre foi assim. Segundo historiadores, em 1500, eram faladas 1.078 línguas indígenas. Para colonizar o País e catequizar os povos indígenas, os descobridores forçaram o aprendizado do português. O presidente Getúlio Vargas foi outro grande inimigo. No Estado Novo (1937-1945), defendeu-se a nacionalização do ensino e os idiomas falados por descendentes de estrangeiros simbolizavam falta de patriotismo. Por isso, caíram em desuso.
Mas por que as línguas desaparecem? Por diversos motivos, como a morte de seu último falante. Foi o que aconteceu com o eyak, no ano passado. Ele foi enterrado junto com Marie Smith Jones, do Alasca, a última pessoa do mundo a dominá-lo. Em tempos de globalização, é comum também que um idioma mais forte, com mais pessoas que o utilizam em grandes centros, sufoque um mais fraco. A dominação do swahili, na África Oriental, ameaça mais de 30 dialetos da Tanzânia. Além de ser ensinado na região, o swahili é muito bem-vindo no currículo de quem procura um emprego por lá.
PERIGO A língua cintalarga, falada em tribos de Rondônia e Mato Grosso, está em extinção
A melhor maneira de cuidar de um idioma é transmiti-lo para as gerações seguintes. É o que acontece com o saami falado na Suécia, Noruega e Finlândia. Ele tem perdido espaço em seu território original, mas vem crescendo entre os emigrantes. "As línguas são vivas, algumas nascem, outras tantas morrem", diz o linguista Moseley, para quem um dia as pessoas irão lutar pela sobrevivência delas assim como brigam pela preservação das espécies. O importante mesmo, dizem os especialistas, é manter registros dos idiomas. Ou seja, mesmo que deixem de ser falados, devem existir no papel. Só assim têm a chance de renascer um dia, como o latim. Considerado uma língua morta, hoje pode ser ouvido em algumas missas católicas pelo mundo, no Brasil inclusive.
FONTE (imagens incluídas): Isto é - São Paulo,SP,Brazil in http://www.terra.com.br/istoe/
Pois é, infelizmente, quando uma língua morre, morre também a cultura. Preciosa cultura, esvaída num ralo qualquer. Ainda rolam os trâmites legais pra transformar o dialeto vêneto, de minha região, em patrimônio cultural. Graças a Deus, muitos ainda o usam, aqui, embora haja, ainda, PASME!, bastante preconceito linguístico. Informação interessante. Importante discussão. Que os canais estejam sempre abertos, pra entendermos que a língua é parte da identidade cultural de todo um povo. Perdê-la é perder uma parte da gente. E uma parte da história da gente. Da história da humanidade.
ResponderExcluirAbraços.
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