terça-feira, outubro 28, 2008

Lya Luft fala sobre processo criativo em Salvador


Lya Luft fala sobre processo criativo em Salvador
Eduardo Vieira, do A Tarde

O universo que envolve os bastidores da criação literária é motivo de curiosidade. A maneira como os variados personagens surgem, o ambiente escolhido pelo escritor para começar a contar as suas histórias, assim como a escolha dos temas, são elementos íntimos e reveladores de cada autor.
Desvendar um pouco sobre este processo criativo é a proposta do Laboratório do Escritor, que chega pela primeira vez a Salvador no próximo dia 15, a partir das 19 horas, no Cine-teatro Casa do Comércio, com entrada gratuita. Quem fala sobre as particularidades da sua criação é a gaúcha Lya Luft, com mais de 20 obras no currículo e responsável por sucessos como "Perdas & ganhos", "Pensar é transgredir" e, o mais recente, "O silêncio dos amantes", lançado no primeiro semestre.
“Eu levo a minha profissão com enorme naturalidade. Mesmo quando tinha meus três filhos em casa, nunca foi: vamos falar baixinho, mamãe está escrevendo. Assim como não faço vida literária. Vivo muito recolhida em minha casa e não faço pose literária” (risos), disse Lya Luft, em entrevista exclusiva por telefone.
Segundo a autora, quando começa a escrever uma obra, apenas um pequeno recolhimento é necessário. “É óbvio que na hora de escrever eu me fecho no meu pequeno escritório. Mas também não é que ninguém possa entrar. Quando minhas netas estão aqui, entram. Eu faço com grande alegria, não escrevo com angústia”.
O Laboratório do Escritor chega à capital baiana como parte do Centro Cultural Banco do Brasil Itinerante e funciona como uma espécie de talk show. Criado em 2006 pelas jornalistas Cristiane Costa e Valéria Lamego, o formato também permite que a platéia participe com perguntas. “O público não é necessariamente de escritor, mas de pessoas que tenham gosto por literatura”, diz Lya, que participou de edições anteriores da iniciativa.
A autora aponta a reflexão de cada obra como o mais difícil. “O processo que mais demora é o de meditar, de deixar que os personagens venham a mim, ver o que eles querem. Só começo a escrever quando o livro quer ser escrito. Em geral, leva de cinco a seis meses. Mas se não posso escrever, se tenho que viajar, não me aflige porque é meu, está dentro de mim. Na hora certa eu retorno”, diz.
Carreira – Escritora de sucesso, não somente no quesito vendagem, como na forma precisa de utilizar a palavra, Lya tem a obra marcada por temas como incomunicabilidade, infância, perdas e outras questões existenciais. Foi assim em livros mais conhecidos, como Perdas & ganhos, mas também em obras como O rio do meio e As parceiras – um dos primeiros da autora, romance publicado em 1980.
“A incomunicabilidade e a incompreensão me chamam a atenção. Sempre fui muito fascinada pelo ser humano, pela vida, por esse mistério, por essa estranheza, inclusive pelo drama existencial. Eu tive uma vida muito protegida, uma infância muito feliz, uma família muito amorosa, mas sempre, por alguma razão, lá da minha genética psíquica, fui fascinada pelo outro lado. Quando as coisas não dão certo, pela solidão, pela frustração que eu via às vezes nas pessoas”, diz.
Segundo Lya, essa frustração vem justamente da observação das várias realidades do ser humano e não tem fundamento em questões difíceis enfrentadas por ela, como a morte de dois companheiros. “Meus primeiros romances foram bem antes da morte de Hélio Pellegrino e da doença longa e morte do meu primeiro marido, de quem me separei e voltei a casar. Não foram romances de sofrimento meu, ao contrário, foram de observação do ser humano e de fascinação e estranheza com as dificuldades”.
Lya Luft começou a publicar obras em 1964, aos 26 anos, mas demorou para se assumir como escritora. “Respeito muito a profissão de escritor. Todo mundo escreve livro e quer ser escritor. Prostituta, atriz, atriz iniciante, jogador de futebol. É moda colocar escritor no currículo. Realmente tinha livros publicados em editoras daqui do Rio Grande do Sul, mas não me considerava escritora. Era uma tradutora que, eventualmente, escrevia”.
A autora escreve uma coluna quinzenal na revista Veja e, entre outros temas, comenta a política. “Eu sou muito descrente. Acho que há uma grande falta de respeito pelos personagens políticos. A culpa é deles mesmos. Nos últimos anos, a dupla corrupção e impunidade nos deixou descrentes”.
Com livros infantis publicados, Lya fala sobre a importância de uma leitura adequada aos pequenos. “Fui criada no meio de livros e acho extremamente importante. Na minha casa, com meus filhos e, hoje, com os netos, livro é instrumento cotidiano. Temos autores extraordinários. E temos muita bobagem, muito livro tolo”, considera.

FONTE: A Tarde On Line - Salvador,BA,Brazil

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