segunda-feira, julho 21, 2008

Conrad Editora lança obra de Alberto Cossery


21/07/2008
Conrad Editora lança obra de Alberto Cossery

Ronaldo Mendes
Do Correio Braziliense.com.br

Albert Cossery fazia o tipo do escritor preguiçoso. Morto no final de junho, aos 94 anos, ele costumava dizer que escrevia no ritmo de “uma linha por dia”. Nascido no Egito, partiu para a França em 1945. Na terra de Napoleão, viu na boemia francesa uma maneira de expor sua revolta contra as injustiças sociais. Nessa época, tornou-se amigo de intelectuais como Albert Camus e Jean Genet. Em 1951 – quando se mudou para um quarto no Hotel Louisiana, no famoso bairro Saint Germain des Près, em Paris, onde viveu até o fim da vida –, deu início a sua pequena, mas significativa, obra. Ao todo, foram oito livros escritos em francês e tendo sua terra natal como cenário.

No Brasil, a Conrad Editora lançou As Cores da Infâmia (seu último trabalho), Mendigos e altivos e, recentemente, Ambição no Deserto. Nos três, o leitor percebe a escrita crítica e recheada de humor de Cossery. Os dois primeiros livros se passam no Cairo, enquanto em Ambição no deserto ele cria um emirado árabe fictício. Dofa é o único lugar na região que não produz petróleo. Uma série de atentados a bomba, no entanto, deixa intrigada a população local.
Samantar é uma espécie de pregador da paz e da tranqüilidade. Para ele, os atentados são apenas uma forma de deixar a população mais pobre e miserável. Já seu amigo de infância, o fora-da-lei e ex-prisioneiro Shaat, acha que não se devem levar a sério os tais revolucionários da Frente de Libertação do Golfo Pérsico. Samantar passa as tardes com o músico, anarquista e poeta Hicham. Ele acha que os atentados podem fazer com que a população mostre sua revolta. Visto que o emirado não tem petróleo, o primeiro-ministro Ben Kadem, primo de Samantar, vê nos bombardeios uma forma de Dofa ser apresentado ao mundo.

Pouco conhecido no Brasil, Albert Cossery tinha aversão ao consumo. Vítima de um câncer na garganta, não teve filhos e também não possuía bem material. Incluído na turma dos escritores malditos, descrevia tão bem os que viviam à margem da sociedade que chegou a ser comparado aos russos Máximo Gorki e Fiódor Dostoiévski. Certa vez, Henry Miller disse dele que “nenhum escritor descreve de forma mais pungente e implacável a existência das grandes multidões submersas”.
Em seus livros, é possível enxergar o próprio autor em várias figuras. As Cores da Infâmia, por exemplo, trazia o ladrão Ossama, que se vestia como um executivo e estudava as vítimas para saber a hora certa de bater a carteira de engravatados e políticos. Um intelectual bon vivant que reaparece nas figuras do traficante Yéghen, em Mendigos e Altivos, e como Shaat, de Ambição no Deserto.
Não que ele fizesse esses tipos, mas são figuras pelas quais o autor conseguia expressar sua condição de profeta da preguiça e da intelectualidade. Tipos que, para a maioria, são considerados marginais. Ele via muito mais. Outro ponto em comum entre os três é a maneira de se apresentar, já que não se diferenciavam de muita gente considerada bem vestida pela sociedade. Não se pode esquecer, também, a vida solitária que a maioria dos personagens leva, exposta com eficiência em seus livros. Mais autobiográfico, impossível.
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PHONTE (photo include): Correio Braziliense - Brasília,DF,Brazil

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