sexta-feira, junho 06, 2008

Longa noite, vida bela

AIRTON MONTE
Longa noite, vida bela
Sim, digamos que sim, posto que chega de negativismo em um triste país mais belo e mais garrido, parido e criado sob a luz do positivismo. E mais além eu vou, arrastado pelo ritmo hipnótico das palavras que meus dedos traçam, como à minha revelia, na tela em branco do computador. Sim, digamos que sim, simplesmente porque não vejo motivo para dizer não às coisas do Brasil. Digamos que seja noite com prenúncio de chuva e nem há uma esplendorosa lua cheia boiando no meu retângulo de janela feito uma pedra de gelo num recorte de veludo azul.
Sim, digamos que sim, pois o baixo astral a nada leva. Nada de depressões sem causa e que se dane a tal de serotonina. Nada de angústias vãs, de ansiedades requentadas em fogo de monturo. Ou você ainda não sacou, meu chapa, que o ser humano que se considera adulto (vã ilusão, ledo engano) está tão atolado em dúvidas transitórias que nem um adolescente de absolutas certezas. Sim, digamos que eu abra uma garrafa de vinho e ponha na vitrola o bom e velho Trini Lopez cantando Guantanamera só pra mim e o tempo urge, insaciável.
Sim, digamos que sim, que o tempo urge, insaciável e desenha, em toscos golpes, rugas em nossa face e cabelos brancos e dentes a menos e passamos a nos preocupar compulsivamente com nossa glicemia, o colesterol, com o trânsito sanguíneo em nossas gastas coronárias e pensamos cada vez mais em doenças exóticas e a morte e a morte em nosso agoniado pensamento, enquanto esquecemos que o natural ato de viver o mais intensamente que podemos. Direi o óbvio: a vida é hoje, a vida é hoje, a vida é agora ou nunca mais.
Digamos que, aleatoriamente, eu cate um livro das estantes e leia meu amigo Adriano Espínola: "Minha pátria é meu corpo, pulsando por entre porradas e carinhos cotidianos, palco carnal do sentido e do desejo, repartido entre vísceras e sonhos, sedento do agora e faminto do mundo, navegante à deriva do possível e do precário". É, meu chapa, a poesia, se nem tudo todavia explica, torna nossa vida supostamente prenhe de sentido. Pois é, meu chapa, não tem erro. A vida, sem poesia, é que nem baião de dois sem feijão e sem arroz.
FONTE: O POVO Online - CE,Brazil
http://www.opovo.com.br/

Um comentário:

  1. Olá, acabo de ler esta postagem e gostei muito, também gosto de poesia e amo o mundo das Artes Marciais uma mistura em minha opinião, indíscutivelmente interessante!!!
    Parabéns pelo blog,eu o resumiria em duas palavras, "Força" e "Sensibilidade"!

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