sexta-feira, junho 06, 2008

Arte no grito


Viver
Arte no grito

06/06/2008 - Tribuna do Norte
Michelle Ferret - Repórter

As feiras guardam em si um pouco do mundo. São pedaços de vida, frutas, fumo, verduras, roupas, música e saudade. Assim como a canção de Sivuca “Feira de Mangaio” - interpretada por Clara Nunes – na feira se vende cabresto de cavalo e rabichola, tem sanfoneiro, menino, mulheres, tem de tudo. É nesse fuzuê que os grupos de teatro que compõem o República das Artes — vizinhos recentes do local — irão homenagear os 88 anos de existência da Feira do Alecrim. Durante os sábados, a partir de amanhã até o dia 19 de junho, o grupo levará arte para a Feira — essa considerada uma das mais importantes e antigas de Natal. “O aniversário da feira é no dia 18 de junho e resolvemos comemorar o mês todo. Amanhã faremos um cortejo com o grupo “Charanga do Riso” pela feira e depois teremos a apresentação do grupo Parachoque, com o espetáculo “Nas Ondas do Cordel”, contou Lenilton Lima, fotografo integrante do República das Artes.

Segundo ele, a intenção maior do projeto é contribuir para levar até a feira do Alecrim, a idéia de como era antigamente. “Antes de toda a evolução da cidade, as pessoas freqüentavam a feira com mais assiduidade. Hoje, com os hipermercados, shoppings e tudo o mais, as feiras estão virando um lugar do passado, aquele que os turistas vão para tirar fotografia dos feirantes para guardar de recordação”, disse Lenilton.

As intervenções começarão pela manhã e continuarão até a parte da tarde. Desde espetáculos teatrais até leitura de um cordel sobre a feira do Alecrim, de autoria de Boquinha de Mel estarão no roteiro.

Para começar o trabalho os grupos – que hoje são mais de vinte – foram a campo entrevistar os feirantes, saber de suas inquietações, histórias de vida e do movimento da feira. Devido a República das Artes ter se mudado para a Avenida Presidente Quaresma, próximo à feira, a percepção do lugar aumentou. “Nesse contato percebemos que a feira do Alecrim está arquejando e se não tiver uma mudança vai virar esquecimento. Essa é também uma forma da gente criticar a indiferença. As pessoas nem sabem que a feira está completando 88 anos”.

O segundo momento proposto pelos grupos é levar educação ambiental e alimentar através da arte. “Esse nome que demos A Arte do Grito é uma forma de chamarmos a atenção para o local. Para isso elaboramos um projeto para trazer também a questão da saúde. Na feira, um ponto forte que a gente observa é é a falta de cuidado com o manejo dos alimentos. A gente vê a mosca se misturar com o picado e as pessoas não pensam muito no cuidado. E através da arte podemos dar subsídios para que as pessoas se eduquem. Mostrar, por exemplo, a maneira mais saudável de tratar com os alimentos”, contou Lenilton acrescentando que o projeto está em fase de captação de orçamento.

Parachoque na feira

Além da Charanga do Riso que se juntará com outros artistas para levar o cordel e a música até os cantos da feira, o grupo Parachoque, com mais de 15 anos de existência apresentará o espetáculo “Nas ondas do Cordel”.

Segundo Carlos Magno - ator e escritor – o Parachoque levará literatura de cordel na temática na feira. “O espetáculo traz o coco de roda, boi de reis e é o resultado da observação de uma vendedora de Mangaio. O espetáculo é todo voltado para a poesia popular, nesse caso a literatura de cordel”, disse. Autores como Francisco Varela, Renato Caldas, José Acaci estarão sendo recitados na peça que teve como base o livro “História Oral do Brasil” de Câmara Cascudo. “Ainda estamos em fase de montagem desse espetáculo. Na feira faremos 25 minutos, enquanto o espetáculo completo durará 40 minutos”.

Os textos são loas e trazem a história de dois personagens, a Cafufa, em homenagem a radialista Nice Fernandes, com referência à Caterina e o poeta chamado Bior. Eles se encontram na feira e a inicia um desejo dele por ela. Nesse encontro aparecem os bois de reis, a dança do coco de roda e uma vendedora de mangaio que traz em seu balaio a lamparina, bruxinhas, cordel e bugigangas. “É aí que a gente une o contemporâneo com o antigo, quando a vendedora traz para vender suas ilusões entre coisas antigas e novas, como o feirantes precisa se virar hoje”, contou o poeta Magno acrescentando que em toda a pesquisa o que mais assusta é a percepção de quanto a feira está ficando esquecida.


Serviço:

A Arte no Grito

Todos os sábados na Feira do Alecrim. Manhã toda e início da tarde.

FONTE (photo include): Tribuna do Norte - Natal - Natal,Brazil

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