sábado, maio 24, 2008

O Shakespeare brasileiro


Mauro mauro@gazetadosul.com.br
O Shakespeare brasileiro

Um baú de pedras preciosas”. Assim a doutora em Literatura Comparada pela Ufrgs, pesquisadora e escritora, Alba Olmi, descreve a obra machadiana, da qual é profunda admiradora. A autora de Metodologia Crítica da Traduçào Literária – Duas Versões Italianas de Dom Casmurro revela só ter descoberto o autor mais tarde. Porém, se encantou de forma irremediável pela universalidade e contemporaneidade da obra de Machado de Assis. “Ele não é apenas o mais importante escritor do nosso passado, mas do presente e do futuro, pois é um escritor imortal e, sua obra, é atemporal”, afirma.

Das qualidades da literatura machadiana, a professora ressalta a fineza da análise sociológica, marca de sua obra. “A maneira atenta como observava a sociedade faz do grande literato também um historiador, um observador da vida política, embora muitos o acusassem de ignorar questões sociais, como a escravatura”, revela.

Para Alba, principalmente os contos refletem a análise crítica do autor sobre política. Como exemplo, cita o Conto do Medalhão, onde o pai dá ao filho que chega à maioridade inescrupulosos conselhos para alcançar prestígio na sociedade de aparências. “Ensinava que era preciso ser insensível aos problemas políticos e sociais e se cercar de pessoas influentes para subir na vida”, diz, ela, para quem o autor revela em seus contos a revolta com a situação dos explorados.

Nascida na Itália, Alba destaca o quanto Machado é exaltado por toda a Europa. “Como um grande e universal literato, as universidades do Velho Mundo dedicam cadeiras ao estudo de sua obra”, relata. “Ele vale muito mais do que se diz e do que se pensa dele”, enfatiza.

Para a professora, o maior legado de Machado é a qualidade impecável de seus textos. “A sintaxe primorosa, a escolha vocabular de grande valor e a modernidade de suas idéias o tornam um contemporâneo, pois trata de tragédias e comédias comuns à vida diária”, analisa. “Seus temas sempre estiveram relacionados às mazelas da sociedade, por isso é atual, afinal, tudo se repete, morte, vida, amor, inveja, ciúme, assassinatos, tal qual na literatura grega”, compara.

ADULTÉRIO – Da vasta obra machadiana, Alba se deteve em Dom Casmurro, um dos livros da literatura brasileira mais traduzidos para outros idiomas, que conta a trajetória de Bentinho e Capitu. Romance psicológico, narrado em primeira pessoa por Bentinho, mantém questões sem elucidação até o final, já que a história conta apenas com a perspectiva subjetiva do personagem.

Sem nenhuma cena que comprove, a dúvida sobre a existência do adultério de Capitu permanece apenas como suspeita. Em capítulos curtos, com títulos explicados posteriormente e com o uso de citações de obras importantes e personagens históricos, em frases curtas, facilita a leitura e prende o leitor. Ao deixar o final com uma questão em aberto, Machado permite que o leitor tire suas próprias conclusões.

Segundo Alba, alguns críticos comparam Machado a Shakespeare. “Tanto Otelo como Dom Casmurro são romances que têm como base o adultério, a dúvida e o ciúme, analisavam sentimentos entre metáforas e ironias”, diz, lembrando a admiração que o brasileiro tinha pelo autor inglês. “Só lendo Machado para entender o quão especial é sua obra”, resume.

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FONTE (photo include): Gazeta do Sul - Santa Cruz do Sul,RS,Brazil

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