quarta-feira, abril 30, 2008

Orgulho de ser italiano

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Orgulho de ser italiano
Exposição enfoca mestres do século XIX
Por Elizabeth Lev
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 30 de abril de 2008 (ZENIT.org).- Universalmente considerada como o epicentro histórico de muitos movimentos artísticos, a Itália parece ter saído do mapa durante a era moderna. Mas uma nova exposição de obras de coleções de antigos papas prova que os artistas italianos do século XIX não tinham medo dos seus colegas do norte europeu.
A exposição, intitulada «A expressão italiana para 1800», explora o século que viu a Itália tornar-se uma nação unificada. Cerca de 75 trabalhos mostram o melhor que a Itália oferece daquele tempo.
Com tantas obras belas dos mais famosos artistas daquele tempo fica difícil selecionar alguma para destacar. Durante a visita, o primeiro sinal de que será um espetáculo aparece quando se alcança o topo da escadaria e se vê um aglomerado de pessoas disputando espaço. "The Fourth Estate" (Il Quarto Stato), de Pelizza da Volpedo, um dos quadros mais emblemáticos do seu tempo, foi trazido para a exposição.
A dramática obra (de cerca de 3 x 5 metros) representa os trabalhadores da Itália marchando para o futuro. Eles deixam a escuridão do problemático século para trás, a passos largos, alguns confiantes, outros nem tanto, em direção à luz.
Pelizza usou uma técnica chamada divisionismo, uma versão italiana do impressionismo, privilegiando a bela captação dos efeitos de luz dos franceses enquanto preserva a forte tradição italiana do figurativismo.
A Itália começou o século XIX sob o jugo de Napoleão. O auto-denominado imperador tinha dividido a Itália para os membros de sua família, dando Florença para sua irmã, o Reino de Nápoles para o seu irmão e fazendo seu enteado Eugene Beauharnais rei da Itália, um estado formado entre Veneza e Milão.
Após tomar todas as coleções e igrejas na Itália, Napoleão afirmou que a partir daquele momento todos os bons pintores pertenciam à França. Antonio Canova rapidamente retrucou: «Nós temos homens valorosos na arte».
Andrea Appiani, a resposta italiana a Jean Louis David, pintor favorito de Napoleão, demonstra o talento italiano no desenho combinando ricos efeitos de cores associados em tudo com Veneza, em seus retratos e cenas mitológicas.
O Congresso de Viena em 1814 trouxe o fim da dominação francesa da Itália e a restauração da monarquia. A Itália, no entanto, deparou com uma nova força estrangeira, os invasores austríacos.
Inicia o período romântico italiano. A Itália começa a formular sonhos de independência. As histórias de velhos heróis e dramáticas insurreições trouxeram novos alvos para os pincéis. Após a primeira rebelião contra a Áustria ter sido brutalmente suprimida, Alessandro Manzoni escreveu “I Promessi Sposi”, história de amor durante a ocupação estrangeira e perseguição no século XVII em Milão, com a intenção de refletir o próprio tempo.
Francesco Hayez, a maior contribuição italiana à arte do século XIX, começou sua carreira nesse anos pintando "Lampugnani Conspiracy," que aborda o assassinato do tirano duque de Milão em 1476.
A carreira de Hayez se desenvolveria durante todo o século e seu traço preciso e cores vivazes ilustrariam grande eventos e personagens. Seu retrato de Alessandro Manzoni é uma das estrelas da exposição, ao lado de seu mais famoso trabalho, "O beijo".
A Itália almejando uma identidade nacional, o interesse pela pintura de beleza única da paisagem italiana cresceu grandemente. Grande expoente desse gênero foi Macchiaoli. Em grande parte baseados em Florença, esses pintores captaram a luminosidade das vilas e paisagens rurais que ainda hoje encantam os turistas.
Mas o século XIX foi um tempo de revolução e derramamento de sangue. Os trabalhadores italianos que amavam sua terra e sua história lutaram tanto contra os inimigos austríacos como entre eles próprios. Grupos secretos como os Carbonari fomentaram rebeliões, enquanto o líder Giuseppe Mazzini tentava convencer os italianos a unirem-se e lutar pela unificação.
Giuseppe Garibaldi emergiu como herói popular. Diferentes mestres capturaram as várias facetas do universo de Garibaldi, da imagem pacífica de Odoardo Borrani das mulheres tecendo as vestes vermelhas dos rebeldes à imagem de Domenico Induno dos desiludidos italianos lendo o boletim de paz de Villafranca.
Como uma mulher atenta a tudo que se manifeste anti-papal, eu fiquei surpresa e contente por não encontrar tons de hostilidade ou histórias de Igreja tirana. A exposição enfoca aspectos positivos, talvez sob influência do presidente do comitê expositor, Antonio Paolucci, o novo diretor dos Museus Vaticanos.
O cenário da unificação italiana no século XVIII foi a gradual dissolução do Estado Papal. Sentimentos anti-clericais se alastravam durante o tempo em que Garibaldi gritava «ou Roma ou morte», determinado a tomar Roma dos papas que a tinham governado por mais de um milênio.
Observar os italianos na exposição faz aumentar o contentamento. Enquanto repassam sua história, estudam seus heróis e admiram as obras de arte um dia vistas nas páginas dos livros escolares, eles insuflam o orgulho, reconhecendo seu papel nos grandes momentos históricos daquele tempo.
Este ano marca o sexagésimo aniversário da Constituição Italiana. A nação que conduziu a cultura visual por séculos usa a beleza da arte para enfatizar a unificação do povo italiano.
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Nova apologia
Em «O nome da Rosa» (1980), Umberto Eco dedica um longo e erudito excerto ao questionamento: «Jesus sorriu?». Lendo os trabalhos do escritor católico John Zmirak, ele provavelmente sorriu.
John Zmirak, autor nascido no Queens, jornalista e apologista, entreteve tanto estudantes como adultos na semana passada em Roma, durante o lançamento de seu novo livro, «The Grand Inquisitor».
Eu falei com Zmirak sobre como ele reconcilia um humor agudo com uma fé firme, e fiquei fascinada ao ouvir a história de como os espinhos da dúvida brotaram no coração do Queens nos anos 70.
Durante seu tempo de estudante, seus professores de religião na escola católica local começaram a ensinar noções contrárias à fé. Ainda em formação, Zmirak absorveu as dúvidas e contradições até o dia em que lhe foi falado que a transubstanciação -- a transformação do pão e do vinho em corpo e sangue de Cristo -- não era real.
O então jovem de 15 anos hesitou, recordando vivamente sua mãe explicando que, quando a sineta tocava, “o pão se transformava em Deus” (isso, a propósito, evidencia a centralidade do papel dos pais na formação das crianças).
Zmirak encontrou o Catecismo e leu por ele mesmo aquilo que a Igreja ensinava. Indignado, o adolescente começou uma campanha de cartas ao bispo local, advertindo da indiferença e até hostilidade que ele percebia.
A peculiaridade de Zmirak o levou a graduar-se em Yale, onde ele teve de enfrentar um ambiente fortemente secular. Logo ele percebeu que não eram os argumentos racionais contra os princípios do catolicismo que enfraqueciam a fé, mas sim a ridicularização destes princípios.
Zmirak tem um ponto de vista incomum sobre o que abala a fé dos católicos na América. «Ela não foi abalada por ataques ateístas e intelectuais», ele diz. «O que abalou as pessoas foram as milhares de piadinhas e joguetes inteligentes».
Então Zmirak encontrou sua vocação. Ele pensa que, se o humor pôde ser usado contra a Igreja, também pode ser usado, em contrapartida, a favor dela.
Dois dos livros mais populares do autor são: "The Bad Catholic's Guide to Good Living" (“Guia dos maus católicos para viver bem”) e "The Bad Catholic's Guide to Wine, Whiskey and Song." (“Guia dos maus católicos para vinho, uísque e música”). Como os livretos para fraternidades de garotos, esses livros imaginam festas, games e atividades similares, todas narradas com bom humor e ancoradas na fé católica.
O guia do viver bem é dedicado ao agudo senso de humor do Papa João Paulo II. Zmirak comenta que o Papa não apenas derrubou a Cortina de Ferro, mas também ganhou corações com seus refrescantes momentos de humor.
Seu guia segue o calendário litúrgico com observações divertidas sobre as festas dos santos e idéias para celebrá-las. Nas páginas de seu livro, para cada dia há uma razão para festejar no mundo católico.
O “Guia para vinho, uísque e música” é um sucesso. De A a Z, Zmirak percorre os mais bem guardados estoques de licor imagináveis, traçando cada forma do espírito e elixir detrás de sua origem cristã. Na trilha da história, ele também apresenta canções festivas para momentos de brindar, entre outras canções.
O último esforço de Zmirak, “The Grand Inquisitor” (“O grande inquisidor”), é um novo gênero para ele, o romance gráfico. Apelidado de anti-“Anjos e Demônios”, a história se passa durante um conclave, envolve sequestros de cardeais, mas vence a causa da ortodoxia e fidelidade ao Magistério.
“The Grand Inquisitor” traz todos os traços de um bom thriller policial, mas, de forma diferente dos tradicionais livros com mensagens anti-cristãs, a história de Zmirak fundamenta-se no amor pela Igreja.
Após alguns dias com John Zmirak, torna-se claro que a fé profunda e a inteligência afiada proporcionam as bases daquilo que parece ser uma obra cômica da cristandade.* * *
Elizabeth Lev ensina arte e arquitetura cristãs no campus italiano da Duquesne University, em Roma.
[Traduzido do inglês por Alexandre Ribeiro]
FONTE: Zenit - Brazil

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