Poetas populares do Ribatejo reuniram-se em Samora Correia e declamaram poemas
O agricultor que decorava poesia e o menino que escrevia redacções em verso
Os poetas populares do Ribatejo reuniram-se em Samora Correia. Recitaram poesia a lembrar os tempos em que a paixão os fazia decorar poemas, escrever mensagens de amor e transformar as redacções da escola em momentos de inspiração.
O agricultor que decorava poesia e o menino que escrevia redacções em verso
Os poetas populares do Ribatejo reuniram-se em Samora Correia. Recitaram poesia a lembrar os tempos em que a paixão os fazia decorar poemas, escrever mensagens de amor e transformar as redacções da escola em momentos de inspiração.
João Vieira, mais conhecido por João Sabino, tem 87 anos e tem também, como o próprio costuma dizer, uma memória de elefante. Desde pequeno que se lembra de fazer poesia e nem o facto de só ter aprendido a escrever aos 34 anos o impediu de se aventurar na arte. O antigo agricultor memorizava a sua poesia. “Ainda hoje me lembro da poesia que fiz aos 23 anos como se tivesse acabado de a compor”, explica com orgulho. O poeta natural de Muge, Salvaterra de Magos, foi um dos cerca de 70, oriundos de todo o distrito de Santarém e concelho de Vila Franca de Xira, que participaram no VII Encontro de Poetas Populares do Ribatejo que decorreu sábado, 26 de Janeiro, no Palácio do Infantado, em Samora Correia.
João Sabino contou a O MIRANTE que só há três anos descobriu que os sonetos obedecem a uma métrica. “Fazia sonetos sem métrica até que um amigo me avisou”. Foi quando lhe ofereceram um livro de sonetos que descobriu o segredo. “Li o livro de poesia vezes sem conta até descobrir o que era isso da métrica. Marcava as sílabas e os versos e aprendi a fazer”, recorda acrescentando ainda que a partir dessa altura passou a fazer sonetos sempre da forma correcta. O primeiro soneto que obedece às regras ainda está na cabeça. “Pensei ir ao céu falar com Deus/ E pus-me a caminhar sozinho/ Mas foram em falso os passos meus/ porque me enganei no caminho/ Vi-te passar pelo meio das nuvens/ E perguntei-lhes com alegria/ Se elas me podiam levar também/ E pedir a Deus se me recebia”.
João Sabino atribui grande parte da sua inspiração à enorme vontade que tem de viver. Desde que enviuvou escreve sobretudo à noite. O travesseiro da esposa serve-lhe de escrivaninha. Toda a vida o poeta popular foi mais vezes conquistado do que conquistador. Não esquece um poema dedicado a uma pretendente. “Segui com um mar de rosas/ Com elas me vi envolvido/ Por isso comigo não gozas/ Porque eu ao sonhar com rosas também sonhei contigo/ Eu no sonho te dei beijos/ Foi um sonho sofredor/ com palavras e gracejos/ Matava os meus desejos e riscava o meu amor/ sentia-te enternecida”.
Jorge Carola, 27 anos, é um dos poucos jovens no encontro de poetas. O jovem natural de Samora Correia começou a fazer poesia por brincadeira. Romântico por natureza, escreveu os primeiros versos para as primeiras paixões da sua adolescência. “Escrevia os poemas a pensar nas raparigas que gostava e entregava-lhes, normalmente, acompanhado com o desenho”, relembra divertido. O adolescente cresceu a sentir que lhe faltava algo. Foi nessa altura que começou a ler poesia e se iniciou na escrita de versos . Fã de Luís de Camões e Fernando Pessoa, Jorge Carola – que publicou o seu primeiro livro de poesia, “Dorso das Palavras”, em 2004 – acredita que a falta de interesse dos jovens se deve ao facto de terem outras ocupações desde pequenos não desenvolvendo a sua capacidade intelectual. “A poesia não é para toda a gente, mas sim, para quem tem um dom”, afirma.
O responsável do encontro de poetas que todos os anos se realiza no Palácio do Infantado, Domingos Lobo, considera a iniciativa de extrema importância. “Sentimos a necessidade de juntar no mesmo espaço pessoas que produziam textos sobre as suas raízes culturais e os imaginários que junta toda esta gente à volta do Tejo, sobretudo, o espaço mítico da Lezíria”, refere. Domingos Lobo começou a escrever poesia na quarta classe. “Quando os professores pediam redacções eu escrevia-as em verso”, recorda o escritor que publicou o primeiro texto aos 14 anos no Diário de Lisboa Juvenil, dirigido na altura, por Mário Castrim.
Por: Ana Isabel Borrego
João Sabino contou a O MIRANTE que só há três anos descobriu que os sonetos obedecem a uma métrica. “Fazia sonetos sem métrica até que um amigo me avisou”. Foi quando lhe ofereceram um livro de sonetos que descobriu o segredo. “Li o livro de poesia vezes sem conta até descobrir o que era isso da métrica. Marcava as sílabas e os versos e aprendi a fazer”, recorda acrescentando ainda que a partir dessa altura passou a fazer sonetos sempre da forma correcta. O primeiro soneto que obedece às regras ainda está na cabeça. “Pensei ir ao céu falar com Deus/ E pus-me a caminhar sozinho/ Mas foram em falso os passos meus/ porque me enganei no caminho/ Vi-te passar pelo meio das nuvens/ E perguntei-lhes com alegria/ Se elas me podiam levar também/ E pedir a Deus se me recebia”.
João Sabino atribui grande parte da sua inspiração à enorme vontade que tem de viver. Desde que enviuvou escreve sobretudo à noite. O travesseiro da esposa serve-lhe de escrivaninha. Toda a vida o poeta popular foi mais vezes conquistado do que conquistador. Não esquece um poema dedicado a uma pretendente. “Segui com um mar de rosas/ Com elas me vi envolvido/ Por isso comigo não gozas/ Porque eu ao sonhar com rosas também sonhei contigo/ Eu no sonho te dei beijos/ Foi um sonho sofredor/ com palavras e gracejos/ Matava os meus desejos e riscava o meu amor/ sentia-te enternecida”.
Jorge Carola, 27 anos, é um dos poucos jovens no encontro de poetas. O jovem natural de Samora Correia começou a fazer poesia por brincadeira. Romântico por natureza, escreveu os primeiros versos para as primeiras paixões da sua adolescência. “Escrevia os poemas a pensar nas raparigas que gostava e entregava-lhes, normalmente, acompanhado com o desenho”, relembra divertido. O adolescente cresceu a sentir que lhe faltava algo. Foi nessa altura que começou a ler poesia e se iniciou na escrita de versos . Fã de Luís de Camões e Fernando Pessoa, Jorge Carola – que publicou o seu primeiro livro de poesia, “Dorso das Palavras”, em 2004 – acredita que a falta de interesse dos jovens se deve ao facto de terem outras ocupações desde pequenos não desenvolvendo a sua capacidade intelectual. “A poesia não é para toda a gente, mas sim, para quem tem um dom”, afirma.
O responsável do encontro de poetas que todos os anos se realiza no Palácio do Infantado, Domingos Lobo, considera a iniciativa de extrema importância. “Sentimos a necessidade de juntar no mesmo espaço pessoas que produziam textos sobre as suas raízes culturais e os imaginários que junta toda esta gente à volta do Tejo, sobretudo, o espaço mítico da Lezíria”, refere. Domingos Lobo começou a escrever poesia na quarta classe. “Quando os professores pediam redacções eu escrevia-as em verso”, recorda o escritor que publicou o primeiro texto aos 14 anos no Diário de Lisboa Juvenil, dirigido na altura, por Mário Castrim.
Por: Ana Isabel Borrego
FONTE (image include): O Mirante - Santarém,Ribatejo,Portugal
Nenhum comentário:
Postar um comentário