“A competição é renhida, mas acredito que vou estar nos Jogos Olímpicos”
Terça-Feira, 19 de Fevereiro de 2008
Terça-Feira, 19 de Fevereiro de 2008
A judoca albicastrense Ana Hormigo compete na categoria de -48 kgCom 26 anos, a atleta internacional afirma ter boas possibilidades de se qualificar para os Jogos Olímpicos, que se realizam em Agosto deste ano, em Pequim, no Japão. Tenciona terminar a carreira de alta competição e dedicar-se ao ensino do judo e à empresa que possui em conjunto com o treinador e namorado, Abel Louro
Daniel Sousa e Silva
- Em que ponto está a qualificação para os Jogos Olímpicos?
- Neste momento [a entrevista foi realizada a 13 de Fevereiro], estou em quarto lugar no ranking europeu. No judo, para os Jogos Olímpicos, só vão cinco atletas de toda a Europa, ou seja, estou em quarto no meio de 50 países. Há tempos, estava em terceiro, baixei uma posição, mas aumentei a distância em relação à sexta classificada.
Estou bem posicionada e agora encontramo-nos na última fase de provas. A última prova que participei foi em Paris e não correu muito bem, apesar desse ser o torneio mais forte, porque fiquei em nono lugar. Acontece que, neste momento, para pontuar tenho de conseguir medalhas. Agora, seguem-se três provas seguidas, em igual número de fins-de-semana. Vou tentar tirar um bom resultado.
Depois disso, só tenho o Campeonato da Europa, que se realiza em Portugal, a 11 de Abril. Vou tentar já conseguir bons resultados, em especial chegar a uma final. A ideia é poder descansar e não ir a uma das três provas que faltam. O Campeonato da Europa é a prova final e a que vale mais. Vamos ver como corre.
- Está a ser uma fase muito intensiva da sua vida?
- Sim, agora é uma fase muito intensiva. Chego a Castelo Branco na segunda, vou-me embora na quinta-feira. E há também os treinos intensivos.
- Como vê as restantes candidatas à qualificação para os Jogos Olímpicos?
- Isto está muito renhido. Há a possibilidade de ser ultrapassada, porque o número de apuradas é muito diminuto. Tenho de reconhecer que existem algumas atletas posicionadas atrás de mim que estão a tentar subir, mas eu tenho de manter a distância. Existem atletas muitos fortes, é preciso não esquecer que a Europa é o continente com melhor qualidade no judo.
- Acha injusto só serem apuradas cinco atletas?
- O princípio dos Jogos Olímpicos é o da representatividade. Ou seja, preferem que estejam mais países na competição do que propriamente estarem lá os atletas mais fortes. A distribuição é cinco atletas para a Europa, América e Ásia, e três de África, mais uma vaga extra.
- Como tem sido o percurso de preparação para esta competição?
- A preparação funciona por ciclos e começou mal terminaram os anteriores Jogos Olímpicos. É claro que 2007 e 2008 são os anos de apuramento olímpico, em que as provas dão pontos para os Jogos, e tudo é mais intenso. Pelo meio, existem os campeonatos do Mundo e da Europa. Agora, torna-se um pouco difícil estarmo-nos a aperfeiçoar tecnicamente, porque existem outras prioridades, nomeadamente perder peso e recuperar do ritmo intensivo de provas. No judo, estamos ali em combate cinco minutos, mas é um desgaste físico muito grande.
Ana Hormigo é uma das fundadoras da Associação Judo Clube União Albicastrense
“Saí, porque me senti pouca apoiada”
- A que se deveu a saída da Academia de Judo de Castelo Branco e criação de uma nova colectividade, Associação Judo Clube União Albicastrense, onde é vice-presidente?
- Era um problema que já vinha do passado. Eu sentia-me pouco apoiada no meu antigo clube. Acabei por sair. O meu anterior treinador [Jorge Fernandes] já sabia do meu desejo de sair e isso acabou por acontecer após o Campeonato do Mundo. Há quem pense que eu quis sair numa altura em que começava a apresentar resultados, mas uma coisa não tem a ver com a outra. A relação treinador/atleta não funcionava. Agora, o meu treinador, que é também o meu namorado [Abel Louro], é outro, por uma questão de justiça. Se já era ele que treinava comigo e trabalhava comigo, foi só passar para o papel o que já acontecia na prática.
Depois, acabamos por formar um clube. A questão essencial é que, para além do bem-estar físico, é essencial que se esteja bem a nível psicológico e isso não estava a acontecer. Sentia-me pouco acompanhada. Tinha de trabalhar sozinha.
- Em que pé está a nova associação?
- Os estatutos estão criados, a direcção já foi eleita e estão a ser ultimados alguns pormenores das instalações que são na Avenida da Carapalha. Queremos começar o mais rapidamente possível com formação que será das 19h00 às 20h00 para os mais novos e das 20h00 às 21h30 para os seniores. Esperamos abrir as portas esta semana e a inauguração oficial acontecerá em Março.
- Castelo Branco tem mercado para duas instituições de formação de judo?
- Em todas as cidades vê-se dois, três, quatro ou mais clubes de judo. Eu acho que há mercado suficiente para toda a gente. Por outro lado, eu e o Abel [Louro] estamos a dar aulas em escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico. Quem quiser continuar depois disso vai para onde? Nós quisemos oferecer uma opção de continuidade a essa iniciação. Estou confiante de que vamos ter uma boa adesão.
Alta competição deve terminar após os Jogos Olímpicos
“É muito difícil conciliar emprego e desporto”
- A alta competição leva-a muitas vezes ao estrangeiro. Ajudou-a a ficar com uma visão mais abrangente?
- Eu tenho o privilégio de viajar por muitos países. Só que não é bem o que parece. Por vezes, eu chego a um determinado local a uma sexta-feira, não saio do hotel, faço provas no sábado, e no sábado à noite ou domingo de manhã já estou a embarcar de novo para Portugal. Ou seja, não dá para passeios turísticos. Quando há estágios mais prolongados, com as três semanas que passei no Japão, dá sempre para ver alguma coisa, só que em competição isso não acontece. Vejo o aeroporto, o hotel e o pavilhão onde decorrem as provas.
- Como é conciliar o desporto de alta competição com o seu emprego?
- Eu possuo o bacharelato em Tradução e Relações Internacionais na Escola Superior de Educação de Castelo Branco, o meu namorado também é professor. Decidimos abrir o Centro de Estudos e Explicações CrocoEduca que também tem um gabinete de traduções. Tenho de confessar que é muito complicado conciliar tudo. Vou muitas vezes para o estrangeiro, tenho de colocar pessoas a substituir-me na empresa e é difícil, porque eu tenho funções inerentes ao facto de ser sócia-gerente que não dá para ser outra pessoa a realizar.
- Quando pensa terminar a carreira de alta competição?
- Eu estipulei a participação nos Jogos Olímpicos. Existem outras vertentes da minha vida a que me quero dedicar. Eu sou também professora de judo e penso que a via do ensino é também importante.
Treinos no Fundão e Lisboa
- Como é a sua prática de treino?
- Treino duas ou três vezes por dia. Eu levanto-me muito cedo para correr. Hoje eram 7h30 e já estava a correr, com o objectivo de perder peso. Há dias em que faço judo de manhã. Depois trabalho um pouco na minha empresa. Pratico natação ou sauna e trabalho mais um pouco na CrocoEduca. Às 19h00, treino novamente, quer seja no ginásio, corrida ou treino técnico de judo.
- Uma das suas dificuldades no passado era ter de treinar com homens, pois não havia mulheres da sua categoria de peso na região. Como está essa questão?
- Sim, isso aconteceu. E por enquanto tem sido um pouco complicado, já que o clube que agora represento ainda não abriu e eu tenho de me deslocar constantemente para o Fundão e também para Lisboa para treinar. No que se refere a parceiros de treinos, continuo com as mesmas pessoas, porque não fui a única atleta a sair da Academia de Judo de Castelo Branco.
“Qualquer um pode praticar judo”- Quais são as características necessárias para se ser um atleta de judo?
- Eu penso que qualquer um pode sê-lo. É preciso ter muita vontade e disponibilidade para conhecer a cultura à volta do desporto. Ou seja, é um desporto de combate, mas implica bastante disciplina. Eu costumo dizer que o judo é a via da suavidade, pois os movimentos baseiam-se no aproveitar a força do adversário.
FONTE (photo include): Diário XXI - Beira Interior,Portugal
- Em que pé está a nova associação?
- Os estatutos estão criados, a direcção já foi eleita e estão a ser ultimados alguns pormenores das instalações que são na Avenida da Carapalha. Queremos começar o mais rapidamente possível com formação que será das 19h00 às 20h00 para os mais novos e das 20h00 às 21h30 para os seniores. Esperamos abrir as portas esta semana e a inauguração oficial acontecerá em Março.
- Castelo Branco tem mercado para duas instituições de formação de judo?
- Em todas as cidades vê-se dois, três, quatro ou mais clubes de judo. Eu acho que há mercado suficiente para toda a gente. Por outro lado, eu e o Abel [Louro] estamos a dar aulas em escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico. Quem quiser continuar depois disso vai para onde? Nós quisemos oferecer uma opção de continuidade a essa iniciação. Estou confiante de que vamos ter uma boa adesão.
Alta competição deve terminar após os Jogos Olímpicos
“É muito difícil conciliar emprego e desporto”
- A alta competição leva-a muitas vezes ao estrangeiro. Ajudou-a a ficar com uma visão mais abrangente?
- Eu tenho o privilégio de viajar por muitos países. Só que não é bem o que parece. Por vezes, eu chego a um determinado local a uma sexta-feira, não saio do hotel, faço provas no sábado, e no sábado à noite ou domingo de manhã já estou a embarcar de novo para Portugal. Ou seja, não dá para passeios turísticos. Quando há estágios mais prolongados, com as três semanas que passei no Japão, dá sempre para ver alguma coisa, só que em competição isso não acontece. Vejo o aeroporto, o hotel e o pavilhão onde decorrem as provas.
- Como é conciliar o desporto de alta competição com o seu emprego?
- Eu possuo o bacharelato em Tradução e Relações Internacionais na Escola Superior de Educação de Castelo Branco, o meu namorado também é professor. Decidimos abrir o Centro de Estudos e Explicações CrocoEduca que também tem um gabinete de traduções. Tenho de confessar que é muito complicado conciliar tudo. Vou muitas vezes para o estrangeiro, tenho de colocar pessoas a substituir-me na empresa e é difícil, porque eu tenho funções inerentes ao facto de ser sócia-gerente que não dá para ser outra pessoa a realizar.
- Quando pensa terminar a carreira de alta competição?
- Eu estipulei a participação nos Jogos Olímpicos. Existem outras vertentes da minha vida a que me quero dedicar. Eu sou também professora de judo e penso que a via do ensino é também importante.
Treinos no Fundão e Lisboa
- Como é a sua prática de treino?
- Treino duas ou três vezes por dia. Eu levanto-me muito cedo para correr. Hoje eram 7h30 e já estava a correr, com o objectivo de perder peso. Há dias em que faço judo de manhã. Depois trabalho um pouco na minha empresa. Pratico natação ou sauna e trabalho mais um pouco na CrocoEduca. Às 19h00, treino novamente, quer seja no ginásio, corrida ou treino técnico de judo.
- Uma das suas dificuldades no passado era ter de treinar com homens, pois não havia mulheres da sua categoria de peso na região. Como está essa questão?
- Sim, isso aconteceu. E por enquanto tem sido um pouco complicado, já que o clube que agora represento ainda não abriu e eu tenho de me deslocar constantemente para o Fundão e também para Lisboa para treinar. No que se refere a parceiros de treinos, continuo com as mesmas pessoas, porque não fui a única atleta a sair da Academia de Judo de Castelo Branco.
“Qualquer um pode praticar judo”- Quais são as características necessárias para se ser um atleta de judo?
- Eu penso que qualquer um pode sê-lo. É preciso ter muita vontade e disponibilidade para conhecer a cultura à volta do desporto. Ou seja, é um desporto de combate, mas implica bastante disciplina. Eu costumo dizer que o judo é a via da suavidade, pois os movimentos baseiam-se no aproveitar a força do adversário.
FONTE (photo include): Diário XXI - Beira Interior,Portugal
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