segunda-feira, novembro 05, 2007

Manuel Rui lança “Ombela”


Longe fervilham as reminiscências de inúmeros regressos, involuntariamente adiados, rumo aos planaltos de uma vida repleta de cheiros barrentos e perfumados da ombela. Uma chuva, metáfora simbólica de todas as outras, ora torrencial, ora miudinha, que nos inunda de fertilidade, esperança, e memória para se eternizar na crença inabalável do poeta. Em Ombela, a palavra desagua sem rumo num curso liquefeito que se ergue, como uma simples gota, ao som das águas de todas as infâncias do mundo que, para o desespero do ribombar dos trovões, nunca soam mais alto que as vozes dos poetas.

Manuel Rui lança “Ombela”

Jomo Fortunato

A poesia em Ombela é parente próxima das nuvens carregadas de um negro incolor que escraviza o sentimento de outras nuvens mais negras ainda, caindo infelizes no planeta dos desiguais.
Essa ombela inventa rios, do tipo Kiaposse, que alcança o mar e lhe chamam Oceano Atlântico, como dizia o egrégio poeta António Jacinto, uma voz que, mesmo calada pela morte, ainda a ouvimos, ao longe, pela ressonância infinita dos versos que o poema imortaliza.
Se a água da Ombela se desdobra na palavra escrita e o vento, por vezes nos seus excessos de vaidade e invisibilidade, corrige a ortografia presunçosa da sílaba, a métrica ou a gramatical, então o poema acontece e a gota rola desesperada sobre a folha verde. Aí "Começam todos os rios de manhã cedo no fim das noites de todas as noites de manhã", é a plástica verbal incontrolada do poeta.Neste livro de poemas, mesmo no tempo seco, seria possível as nuvens, carregadas pela negritude da vida, dizerem ao vento o seguinte: hoje não quero chover. Aí teríamos que nos sujeitar a outros ciclos, onde, pelo menos a fome, talvez florescesse nas bocas escancaradas das abundâncias, no momento em que as maçarocas, no seu presunçoso cultivo e ordenamento granular, decretariam o fim da desnutrição poética das mentalidades. Só assim entenderíamos a intencionalidade do poeta.
A escrita de Manuel Rui é um longo poema que toma formas variadas, segundo os caprichos das Ombelas absorvidas pelos ciclos das literaturas e agruras da vida: Eu?/ Eu sou a chuva e trago todas as sílabas e digo a palavra. Posso/ falar a duração de todas as vidas e todas as idades sem morte/ ou fazer cair de um abacate num telhado/ de calma com as minhas mãos de água a atravessar as paredes/ do tempo. O fumo do fogo que passa por entre os tectos/ de capim no aroma da batata doce e maçarocas assadas/ nas mãos que eu quiser no meu poder de ser a chuva/ e adormecer com música de abelha as crianças/ que já não querem mais sonhar com cazumbis/ Eu sou a chuva! Antes das primeiras coisas que brincam/ com a falsa seriedade das essências exactamente na mesma/ nesses todos os lugares. Eu sou ombela a mulher amada/ de água com que me deslumbro comigo a chover! pág 12
Ombela é a síntese poética da obra de Manuel Rui, onde a chuva refresca o passado e reorienta a transfiguração dos sentidos da vida, num pleno diálogo com as forças positivas da natureza em que o facto vivido se metamorfoseia em dito de alcance poético, transformado na beleza da mulher e nas harmonias musicais do umbundu.
Umbela também é um poema, desta vez com notícias veiculadas pelo vento da chuva, que penetra, história adentro, e interroga: quem somos nós e para onde vamos?
A Ombela, que nunca é igual em cada vaidade da sua estação climática, tem, na língua umbundu, uma extensa passarelle linguística que o livro de Manuel Rui retoma os seus múltiplos sentidos semânticos, elegendo à categoria de especulação teórica os limites literários do controverso para assuntar poesia, só a poesia, na sua liberdade de se renovar, eternamente.
A motorização vertiginosa da Ombela, tendo como combustível o vento, e a sua alternada desaceleração, podem ser comparadas à história de Angola, torrencial nos tempos de guerra, e miudinha nos actuais momentos de paz. Uma paz que se reencontra no grau de pluviosidade espiritual do poeta: Eu sou a chuva em cima das lavras e dos cemitérios da guerra/ que me escutam em paz assustada eu de tantas perguntas/ nem respondo porque eu sou a resposta nas pegadas que deixo/ das plantas eu sou mesmo inteira mulher eu sou a chuva/ mais forte do que todos os homens e correndo e parando mãe/ e filha do relâmpago e da trovoada que racham o céu/ e engrandecem as pedras grandes da Caála onde me quiseram/ matar com pólvora.
Quando a poesia não acontece em Manuel Rui, o que é raro, o poeta viaja para reecontrá-la, para felicidade das insufiências plásticas do verbo, e a palavra voa sobre os planaltos das biografias da existência humana.
Ombela é a metáfora de todas as precipitações. As de um passado que nunca mais voltou: Eu sou a chuva! A que nunca teve medo e existia sempre/ antes das zagaias e das armas de ofundanga que vieram para/ de longe e com ruído. E as que enaltecem a tradição e a resistência: Eu sou a chuva que chorou com/ chuva o nosso soba Huambo resistindo em cima das pedras no / princípio do que nunca conseguiram fosse o meu fim sempre (...)
Fim e princípio de si mesmo, o sujeito poético confunde-se com a própria natureza e, consequentemente, com as matizes das canções da ombela: Também vou descobrir o meu/ começo a pensar quando sou volume que canta todo dia/ com devagar amor até as rãs aproveitarem continuar a minha/ voz.
A biografia poética de Manuel Rui rastreia um percurso muito particular da literatura angolana, consubstanciada no compromisso de um elogio à independência, com 11 textos novembrinos, passando a um discurso mais interiorizado que carnavaliza a alusão directa, optando por discurso ficcional fragmentado e desconstruído, onde o sujeito poético arremessa e sugere uma discursividade dirigida a múltiplos destinatários. Muitos dos seus poemas são narrativas dramáticas, vamos ler a vigésima palavra: Não sei do medo dos muros do vento ou dos meus muros/ que de verdade se cruzam no meio do sol do mar e/ da morte quando as pessoas se desencontram com as marés/ dos troncos das árvores a chorar deitadas com as raízes/ torcidas/ na dor e o sangue das areias se afunda/ quando o mar engole as lavras e as casas e as famílias/ não sei não sei mas sei/ acontece que vocês na terra se esquecem do céu e do vento/ e do mar das estrelas e de mim ombela e/ por isso sempre que vocês fizerem o desinfeitiçamento da/ vida assim vos cai toda a força do feitiço que andamos com ele o/ vento o mar o céu as estrelas e eu ombela/ que aqui felizmente não vi desgraça grande com vento e com/ água mas chamem-me que eu sou ombela mulher menstruada/ que nunca vendeu filho e dá de mamar a um com outro/ na barriga/ mulher menstruada da água pura minha do céu e da nuvem/ que não cheira/ a petróleo/ nem a dólares/ nem a morte/ mulher de água que também sabe tecer lençóis/ para os namorados que fazem amor com a minha música/ as faíscas/ e os trovões.Ombela emerge como pretexto de uma estética inconformista, nos seus contornos estruturais, e radical no seu diálogo com o belo, a fertilidade e o elogio da vida.
Biografia literária
Manuel Rui Alves Monteiro nasceu na cidade do Huambo a 4 de Novembro de 1941. Efectuou os seus estudos primários e secundários no Huambo, seguindo para Portugal, onde estudou Direito na Universidade de Coimbra, terminando o curso em 1969. Enquanto estudante foi activista cultural da Casa dos Estudantes do Império (CEI), participou em acontecimentos literários e políticas, tendo sido preso por dois meses em Portugal. Exerceu advocacia em Coimbra e Viseu
O Huambo era uma cidade muito específica, em que não acontecia uma pequena-burguesia negra, em que, me recordo, andava eu no meu 5º ano do liceu quando apareceu o primeiro funcionário da secretaria da escola comercial negro, ido daqui de Luanda... As primeiras pessoas que apareceram a instigar a ideia nacionalista e que eram do convívio do meu pai eram principalmente enfermeiros, idos aqui de Luanda, e missionários estrangeiros, alguns médicos... Palavras do escritor sobre a sua cidade natal.
In: Michel Laban. Angola. Encontro com Escritores. Porto, fundação Eng. António de Almeida, 1991, II vol. p. 713.
Foi membro da redacção da revista Vértice, fez parte da direcção da Editora Centelha, participou em trabalhos do Centro de Estudos Literários da Associação Académica de Coimbra em 1969, coordenou o Sintoma, suplemento literário do Jornal do Centro. Regressou a Angola em 1974, onde foi Director Geral da Informação e Ministro da Informação no Governo de Transição. Após a independência ocupou diversos cargos entre os quais o de Director da Faculdade de letras do Lubango e do Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED). Foi também professor universitário e jurista.
Fecha só os olhos meu amor. E devagar escuta os mesmos sons. A água escorre para a sede quente: areia de pés nus. Encosta só o ouvido. Respira esta harmonia deste corpo. Os mesmos sons projectos do tamanho deste mar. Extractos do poema O Búzio In: Manuel Rui.
Cinco Vezes Onze Poemas em Novembro. Luanda, União dos Escritores Angolanos, 1985, p.135.
Poeta, contista, ensaísta, crítico, escreve com frequência comentários críticos para jornais e revistas angolanas. Tem alguns livros de literatura infantil publicados. É o autor do Hino Nacional, versão angolana da Internacional, hino da Alfabetização, bem como de outros poemas que integram o cancioneiro angolano.
Colaborou em diversos jornais como o Planalto, República, "Mosca", suplemento do Diário de Lisboa, Jornal de Angola, Correio da Semana. Foi galardoado com o Prémio "Caminho das Estrelas" de 1980, do Concurso de Literatura Camarada Presidente, outorgado pelo Instituto Nacional do Livro e do Disco de Angola (INALD).
A sua obra está incluída em: Monangola. A Jovem Poesia Angolana (1976), No Reino de Caliban.
Panorâmica da Poesia Africana de Expressão Portuguesa II (1976), Lavra & Oficina. Caderno Especial dedicado à Literatura Angolana em saudação à VI Conferência dos escritores afro-asiáticos (1979), Poemas para Pioneiros (1979), Manguxi da Nossa Esperança (1979), No Ritmo dos Tantãs (1991), Textos Africanos de Expressão Portuguesa (s.d.), Poemas a la Madre Africa. Antología de la Poesía Angolana del siglo XX (1992).
As suas obras publicadas são: Poesia sem Notícia (1967), A Onda (1973), Regresso Adiado (1973), 11 Poemas em Novembro.
Ano Um (1976), Sim, Camarada (1977), 11 Poemas em Novembro.Ano Dois (1977), A Caixa (1977), 11 Poemas em Novembro. Ano Três (1978). Agricultura (1978), 11 Poemas em Novembro. Ano Quatro (1979), Cinco dias depois da independência (1979), Memória de Mar (1980), 11 Poemas em Novembro. Ano Cinco (1980), 11 Poemas em Novembro. Ano Seis (1981), Quem me dera ser onda (1982), 11 Poemas em Novembro. Ano Sete (1984), Cinco vezes Onze Poemas em Novembro (1985), 11 Poemas em Novembro. Ano Oito (1988), Crónica de um Mujimbo (1989), 1 Morto & os Vivos (1992), Rio Seco (1997), Da Palma da Mão (1998), Assalto (s.d.) Saxofone e Metáfora (2001) , O Manequim e o Piano (2006) e Ombela (2007).
FONTE: Jornal de Angola - Luanda,Luanda,Angola


4 comentários:

  1. Anônimo8:26 AM

    O PERCURSO De DR HUGO JOSÉ AZANCOT DE MENEZES

    Hugo de Menezes nasceu na cidade de São Tomé a 02 de fevereiro de 1928, filho do Dr Ayres Sacramento de Menezes.

    Aos três anos de idade chegou a Angola onde fez o ensino primário.
    Nos anos 40, fez o estudo secundário e superior em Lisboa, onde concluiu o curso de medicina pela faculdade de Lisboa.
    Neste pais, participou na fundação e direcção de associações estudantis, como a casa dos estudantes do império juntamente com Mário Pinto de Andrade ,Jacob Azancot de Menezes, Manuel Pedro Azancot de Menezes, Marcelino dos Santos e outros.
    Em janeiro de 1959 parte de Lisboa para Londres com objectivo de fazer uma especialidade, e contactar nacionalistas das colónias de expressão inglesa como Joshua Nkomo( então presidente da Zapu, e mais tarde vice-presidente do Zimbabué),George Houser ( director executivo do Américan Commitee on África),Alão Bashorun ( defensor de Naby Yola ,na Nigéria e bastonário da ordem dos advogados no mesmo pais9, Felix Moumié ( presidente da UPC, União das populações dos Camarões),Bem Barka (na altura secretário da UMT- União Marroquina do trabalho), e outros, os quais se tornou amigo e confidente das suas ideias revolucionárias.
    Uns meses depois vai para Paris, onde se junta a nacionalistas da Fianfe ( políticos nacionalistas das ex. colónias Francesas ) como por exemplo Henry Lopez( actualmente embaixador do Congo em Paris),o então embaixador da Guiné-Conacry em Paris( Naby Yola).
    A este último pediu para ir para Conacry, não só com objectivo de exercer a sua profissão de médico como também para prosseguir as actividades políticas iniciadas em lisboa.
    Desta forma ,Hugo de Menezes chega ao já independente pais africano a 05-de agosto de 1959 por decisão do próprio presidente Sekou -Touré.
    Em fevereiro de 1960 apresenta-se em Tunes na 2ª conferência dos povos africanos, como membro do MAC , com ele encontram-se Amilcar Cabral, Viriato da Cruz, Mario Pinto de Andrade , e outros.
    Encontram-se igualmente presente o nacionalista Gilmore ,hoje Holden Roberto , com o qual a partir desta data iniciou correspondência e diálogo assíduos.
    De regresso ao pais que o acolheu, Hugo utiliza da sua influência junto do presidente Sekou-touré a fim de permitir a entrada de alguns camaradas seus que então pudessem lançar o grito da liberdade.

    Lúcio Lara e sua família foram os primeiros, seguindo-lhe Viriato da Cruz e esposa Maria Eugénia Cruz , Mário de Andrade , Amílcar Cabral e dr Eduardo Macedo dos Santos e esposa Maria Judith dos Santos e Maria da Conceição Boavida que em conjunto com a esposa do Dr Hugo José Azancot de Menezes a Maria de La Salette Guerra de Menezes criam o primeiro núcleo da OMA ( fundada a organização das mulheres angolanas ) sendo cinco as fundadoras da OMA ( Ruth Lara ,Maria de La Salete Guerra de Menezes ,Maria da Conceição Boavida ( esposa do Dr Américo Boavida), Maria Judith dos Santos (esposa de um dos fundadores do M.P.L.A Dr Eduardo dos Santos) ,Helena Trovoada (esposa de Miguel Trovoada antigo presidente de São Tomé e Príncipe).
    A Maria De La Salette como militante participa em diversas actividades da OMA e em sua casa aloja a Diolinda Rodrigues de Almeida e Matias Rodrigues Miguéis .


    Na residência de Hugo, noites e dias árduos ,passados em discussões e trabalho… nasce o MPLA ( movimento popular de libertação de Angola).
    Desta forma é criado o 1º comité director do MPLA ,possuindo Menezes o cartão nº 6,sendo na realidade Membro fundador nº5 do MPLA .
    De todos ,é o único que possui uma actividade remunerada, utilizando o seu rendimento e meio de transporte pessoal para que o movimento desse os seus primeiros passos.
    Dr Hugo de Menezes e Dr Eduardo Macedo dos Santos fazem os primeiros contactos com os refugiados angolanos existentes no Congo de forma clandestina.

    A 5 de agosto de 1961 parte com a família para o Congo Leopoldville ,aí forma com outros jovens médicos angolanos recém chegados o CVAAR ( centro voluntário de assistência aos Angolanos refugiados).

    Participou na aquisição clandestina de armas de um paiol do governo congolês.
    Em 1962 representa o MPLA em Accra(Ghana ) como Freedom Fighters e a esposa tornando-se locutora da rádio GHANA para emissões em língua portuguesa.

    Em Accra , contando unicamente com os seus próprios meios, redigiu e editou o primeiro jornal do MPLA , Faúlha.

    Em 1964 entrevistou Ernesto Che Guevara como repórter do mesmo jornal, na residência do embaixador de Cuba em Ghana , Armando Entralgo Gonzales.
    Ainda em Accra, emprega-se na rádio Ghana juntamente com a sua esposa nas emissões de língua portuguesa onde fazem um trabalho excepcional. Enviam para todo mundo mensagens sobre atrocidades do colonialismo português ,e convida os angolanos a reagirem e lutarem pela sua liberdade. Estas emissões são ouvidas por todos cantos de Angola.

    Em 1966´é criada a CLSTP (Comité de libertação de São Tomé e Príncipe ),sendo Hugo um dos fundadores.

    Neste mesmo ano dá-se o golpe de estado, e Nkwme Nkruma é deposto. Nesta sequência ,Hugo de Menezes como representante dos interesses do MPLA em Accra ,exilou-se na embaixada de Cuba com ordem de Fidel Castro. Com o golpe de estado, as representações diplomáticas que praticavam uma política favorável a Nkwme Nkruma são obrigadas a abandonar Ghana .Nesta sequência , Hugo foge com a família para o Togo.
    Em 1967 Dr Hugo José Azancot parte com esposa para a república popular do Congo - Dolisie onde ambos leccionam no Internato de 4 de Fevereiro e dão apoio aos guerrilheiros das bases em especial á Base Augusto Ngangula ,trabalhando paralelamente para o estado Congolês para poder custear as despesas familhares para que seu esposo tivesse uma disponibilidade total no M.P.L.A sem qualquer remuneração.

    Em 1968,Agostinho Neto actual presidente do MPLA convida-o a regressar para o movimento no Congo Brazzaville como médico da segunda região militar: Dirige o SAM e dá assistência médica a todos os militantes que vivem a aquela zona. Acompanha os guerrilheiros nas suas bases ,no interior do território Angolano, onde é alcunhado “ CALA a BOCA” por atravessar essa zona considerada perigosa sempre em silêncio.

    Hugo de Menezes colabora na abertura do primeiro estabelecimento de ensino primário e secundário em Dolisie ,onde ele e sua esposa dão aulas.

    Saturado dos conflitos internos no MPLA ,aliado a difícil e prolongada vida de sobrevivência ,em 1972 parte para Brazzaville.

    Em 1973,descontente com a situação no MPLA e a falta de democraticidade interna ,foi ,com os irmãos Mário e Joaquim Pinto de Andrade , Gentil Viana e outros ,signatários do « Manifesto dos 19», que daria lugar a revolta activa. Neste mesmo ano, participa no congresso de Lusaka pela revolta activa.
    Em 1974 entra em Angola ,juntamente com Liceu Vieira Dias e Maria de Céu Carmo Reis ( Depois da chegada a Luanda a saída do aeroporto ,um grupo de pessoas organizadas apedrejou o Hugo de tal forma que foi necessário a intervenção do próprio Liceu Vieira Dias).

    Em 1977 é convidado para o cargo de director do hospital Maria Pia onde exerce durante alguns anos .

    Na década de 80 exerce o cargo de presidente da junta médica nacional ,dirige e elabora o primeiro simpósio nacional de remédios.

    Em 1992 participa na formação do PRD ( partido renovador democrático).
    Em 1997-1998 é diagnosticado cancro.

    A 11 de Maio de 2000 morre Azancot de Menezes, figura mítica da historia Angolana.

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  2. Anônimo8:28 AM

    O PERCURSO De DR HUGO JOSÉ AZANCOT DE MENEZES

    Hugo de Menezes nasceu na cidade de São Tomé a 02 de fevereiro de 1928, filho do Dr Ayres Sacramento de Menezes.

    Aos três anos de idade chegou a Angola onde fez o ensino primário.
    Nos anos 40, fez o estudo secundário e superior em Lisboa, onde concluiu o curso de medicina pela faculdade de Lisboa.
    Neste pais, participou na fundação e direcção de associações estudantis, como a casa dos estudantes do império juntamente com Mário Pinto de Andrade ,Jacob Azancot de Menezes, Manuel Pedro Azancot de Menezes, Marcelino dos Santos e outros.
    Em janeiro de 1959 parte de Lisboa para Londres com objectivo de fazer uma especialidade, e contactar nacionalistas das colónias de expressão inglesa como Joshua Nkomo( então presidente da Zapu, e mais tarde vice-presidente do Zimbabué),George Houser ( director executivo do Américan Commitee on África),Alão Bashorun ( defensor de Naby Yola ,na Nigéria e bastonário da ordem dos advogados no mesmo pais9, Felix Moumié ( presidente da UPC, União das populações dos Camarões),Bem Barka (na altura secretário da UMT- União Marroquina do trabalho), e outros, os quais se tornou amigo e confidente das suas ideias revolucionárias.
    Uns meses depois vai para Paris, onde se junta a nacionalistas da Fianfe ( políticos nacionalistas das ex. colónias Francesas ) como por exemplo Henry Lopez( actualmente embaixador do Congo em Paris),o então embaixador da Guiné-Conacry em Paris( Naby Yola).
    A este último pediu para ir para Conacry, não só com objectivo de exercer a sua profissão de médico como também para prosseguir as actividades políticas iniciadas em lisboa.
    Desta forma ,Hugo de Menezes chega ao já independente pais africano a 05-de agosto de 1959 por decisão do próprio presidente Sekou -Touré.
    Em fevereiro de 1960 apresenta-se em Tunes na 2ª conferência dos povos africanos, como membro do MAC , com ele encontram-se Amilcar Cabral, Viriato da Cruz, Mario Pinto de Andrade , e outros.
    Encontram-se igualmente presente o nacionalista Gilmore ,hoje Holden Roberto , com o qual a partir desta data iniciou correspondência e diálogo assíduos.
    De regresso ao pais que o acolheu, Hugo utiliza da sua influência junto do presidente Sekou-touré a fim de permitir a entrada de alguns camaradas seus que então pudessem lançar o grito da liberdade.

    Lúcio Lara e sua família foram os primeiros, seguindo-lhe Viriato da Cruz e esposa Maria Eugénia Cruz , Mário de Andrade , Amílcar Cabral e dr Eduardo Macedo dos Santos e esposa Maria Judith dos Santos e Maria da Conceição Boavida que em conjunto com a esposa do Dr Hugo José Azancot de Menezes a Maria de La Salette Guerra de Menezes criam o primeiro núcleo da OMA ( fundada a organização das mulheres angolanas ) sendo cinco as fundadoras da OMA ( Ruth Lara ,Maria de La Salete Guerra de Menezes ,Maria da Conceição Boavida ( esposa do Dr Américo Boavida), Maria Judith dos Santos (esposa de um dos fundadores do M.P.L.A Dr Eduardo dos Santos) ,Helena Trovoada (esposa de Miguel Trovoada antigo presidente de São Tomé e Príncipe).
    A Maria De La Salette como militante participa em diversas actividades da OMA e em sua casa aloja a Diolinda Rodrigues de Almeida e Matias Rodrigues Miguéis .


    Na residência de Hugo, noites e dias árduos ,passados em discussões e trabalho… nasce o MPLA ( movimento popular de libertação de Angola).
    Desta forma é criado o 1º comité director do MPLA ,possuindo Menezes o cartão nº 6,sendo na realidade Membro fundador nº5 do MPLA .
    De todos ,é o único que possui uma actividade remunerada, utilizando o seu rendimento e meio de transporte pessoal para que o movimento desse os seus primeiros passos.
    Dr Hugo de Menezes e Dr Eduardo Macedo dos Santos fazem os primeiros contactos com os refugiados angolanos existentes no Congo de forma clandestina.

    A 5 de agosto de 1961 parte com a família para o Congo Leopoldville ,aí forma com outros jovens médicos angolanos recém chegados o CVAAR ( centro voluntário de assistência aos Angolanos refugiados).

    Participou na aquisição clandestina de armas de um paiol do governo congolês.
    Em 1962 representa o MPLA em Accra(Ghana ) como Freedom Fighters e a esposa tornando-se locutora da rádio GHANA para emissões em língua portuguesa.

    Em Accra , contando unicamente com os seus próprios meios, redigiu e editou o primeiro jornal do MPLA , Faúlha.

    Em 1964 entrevistou Ernesto Che Guevara como repórter do mesmo jornal, na residência do embaixador de Cuba em Ghana , Armando Entralgo Gonzales.
    Ainda em Accra, emprega-se na rádio Ghana juntamente com a sua esposa nas emissões de língua portuguesa onde fazem um trabalho excepcional. Enviam para todo mundo mensagens sobre atrocidades do colonialismo português ,e convida os angolanos a reagirem e lutarem pela sua liberdade. Estas emissões são ouvidas por todos cantos de Angola.

    Em 1966´é criada a CLSTP (Comité de libertação de São Tomé e Príncipe ),sendo Hugo um dos fundadores.

    Neste mesmo ano dá-se o golpe de estado, e Nkwme Nkruma é deposto. Nesta sequência ,Hugo de Menezes como representante dos interesses do MPLA em Accra ,exilou-se na embaixada de Cuba com ordem de Fidel Castro. Com o golpe de estado, as representações diplomáticas que praticavam uma política favorável a Nkwme Nkruma são obrigadas a abandonar Ghana .Nesta sequência , Hugo foge com a família para o Togo.
    Em 1967 Dr Hugo José Azancot parte com esposa para a república popular do Congo - Dolisie onde ambos leccionam no Internato de 4 de Fevereiro e dão apoio aos guerrilheiros das bases em especial á Base Augusto Ngangula ,trabalhando paralelamente para o estado Congolês para poder custear as despesas familhares para que seu esposo tivesse uma disponibilidade total no M.P.L.A sem qualquer remuneração.

    Em 1968,Agostinho Neto actual presidente do MPLA convida-o a regressar para o movimento no Congo Brazzaville como médico da segunda região militar: Dirige o SAM e dá assistência médica a todos os militantes que vivem a aquela zona. Acompanha os guerrilheiros nas suas bases ,no interior do território Angolano, onde é alcunhado “ CALA a BOCA” por atravessar essa zona considerada perigosa sempre em silêncio.

    Hugo de Menezes colabora na abertura do primeiro estabelecimento de ensino primário e secundário em Dolisie ,onde ele e sua esposa dão aulas.

    Saturado dos conflitos internos no MPLA ,aliado a difícil e prolongada vida de sobrevivência ,em 1972 parte para Brazzaville.

    Em 1973,descontente com a situação no MPLA e a falta de democraticidade interna ,foi ,com os irmãos Mário e Joaquim Pinto de Andrade , Gentil Viana e outros ,signatários do « Manifesto dos 19», que daria lugar a revolta activa. Neste mesmo ano, participa no congresso de Lusaka pela revolta activa.
    Em 1974 entra em Angola ,juntamente com Liceu Vieira Dias e Maria de Céu Carmo Reis ( Depois da chegada a Luanda a saída do aeroporto ,um grupo de pessoas organizadas apedrejou o Hugo de tal forma que foi necessário a intervenção do próprio Liceu Vieira Dias).

    Em 1977 é convidado para o cargo de director do hospital Maria Pia onde exerce durante alguns anos .

    Na década de 80 exerce o cargo de presidente da junta médica nacional ,dirige e elabora o primeiro simpósio nacional de remédios.

    Em 1992 participa na formação do PRD ( partido renovador democrático).
    Em 1997-1998 é diagnosticado cancro.

    A 11 de Maio de 2000 morre Azancot de Menezes, figura mítica da historia Angolana.

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  3. Anônimo8:31 AM

    O PERCURSO De DR HUGO JOSÉ AZANCOT DE MENEZES

    Hugo de Menezes nasceu na cidade de São Tomé a 02 de fevereiro de 1928, filho do Dr Ayres Sacramento de Menezes.

    Aos três anos de idade chegou a Angola onde fez o ensino primário.
    Nos anos 40, fez o estudo secundário e superior em Lisboa, onde concluiu o curso de medicina pela faculdade de Lisboa.
    Neste pais, participou na fundação e direcção de associações estudantis, como a casa dos estudantes do império juntamente com Mário Pinto de Andrade ,Jacob Azancot de Menezes, Manuel Pedro Azancot de Menezes, Marcelino dos Santos e outros.
    Em janeiro de 1959 parte de Lisboa para Londres com objectivo de fazer uma especialidade, e contactar nacionalistas das colónias de expressão inglesa como Joshua Nkomo( então presidente da Zapu, e mais tarde vice-presidente do Zimbabué),George Houser ( director executivo do Américan Commitee on África),Alão Bashorun ( defensor de Naby Yola ,na Nigéria e bastonário da ordem dos advogados no mesmo pais9, Felix Moumié ( presidente da UPC, União das populações dos Camarões),Bem Barka (na altura secretário da UMT- União Marroquina do trabalho), e outros, os quais se tornou amigo e confidente das suas ideias revolucionárias.
    Uns meses depois vai para Paris, onde se junta a nacionalistas da Fianfe ( políticos nacionalistas das ex. colónias Francesas ) como por exemplo Henry Lopez( actualmente embaixador do Congo em Paris),o então embaixador da Guiné-Conacry em Paris( Naby Yola).
    A este último pediu para ir para Conacry, não só com objectivo de exercer a sua profissão de médico como também para prosseguir as actividades políticas iniciadas em lisboa.
    Desta forma ,Hugo de Menezes chega ao já independente pais africano a 05-de agosto de 1959 por decisão do próprio presidente Sekou -Touré.
    Em fevereiro de 1960 apresenta-se em Tunes na 2ª conferência dos povos africanos, como membro do MAC , com ele encontram-se Amilcar Cabral, Viriato da Cruz, Mario Pinto de Andrade , e outros.
    Encontram-se igualmente presente o nacionalista Gilmore ,hoje Holden Roberto , com o qual a partir desta data iniciou correspondência e diálogo assíduos.
    De regresso ao pais que o acolheu, Hugo utiliza da sua influência junto do presidente Sekou-touré a fim de permitir a entrada de alguns camaradas seus que então pudessem lançar o grito da liberdade.

    Lúcio Lara e sua família foram os primeiros, seguindo-lhe Viriato da Cruz e esposa Maria Eugénia Cruz , Mário de Andrade , Amílcar Cabral e dr Eduardo Macedo dos Santos e esposa Maria Judith dos Santos e Maria da Conceição Boavida que em conjunto com a esposa do Dr Hugo José Azancot de Menezes a Maria de La Salette Guerra de Menezes criam o primeiro núcleo da OMA ( fundada a organização das mulheres angolanas ) sendo cinco as fundadoras da OMA ( Ruth Lara ,Maria de La Salete Guerra de Menezes ,Maria da Conceição Boavida ( esposa do Dr Américo Boavida), Maria Judith dos Santos (esposa de um dos fundadores do M.P.L.A Dr Eduardo dos Santos) ,Helena Trovoada (esposa de Miguel Trovoada antigo presidente de São Tomé e Príncipe).
    A Maria De La Salette como militante participa em diversas actividades da OMA e em sua casa aloja a Diolinda Rodrigues de Almeida e Matias Rodrigues Miguéis .


    Na residência de Hugo, noites e dias árduos ,passados em discussões e trabalho… nasce o MPLA ( movimento popular de libertação de Angola).
    Desta forma é criado o 1º comité director do MPLA ,possuindo Menezes o cartão nº 6,sendo na realidade Membro fundador nº5 do MPLA .
    De todos ,é o único que possui uma actividade remunerada, utilizando o seu rendimento e meio de transporte pessoal para que o movimento desse os seus primeiros passos.
    Dr Hugo de Menezes e Dr Eduardo Macedo dos Santos fazem os primeiros contactos com os refugiados angolanos existentes no Congo de forma clandestina.

    A 5 de agosto de 1961 parte com a família para o Congo Leopoldville ,aí forma com outros jovens médicos angolanos recém chegados o CVAAR ( centro voluntário de assistência aos Angolanos refugiados).

    Participou na aquisição clandestina de armas de um paiol do governo congolês.
    Em 1962 representa o MPLA em Accra(Ghana ) como Freedom Fighters e a esposa tornando-se locutora da rádio GHANA para emissões em língua portuguesa.

    Em Accra , contando unicamente com os seus próprios meios, redigiu e editou o primeiro jornal do MPLA , Faúlha.

    Em 1964 entrevistou Ernesto Che Guevara como repórter do mesmo jornal, na residência do embaixador de Cuba em Ghana , Armando Entralgo Gonzales.
    Ainda em Accra, emprega-se na rádio Ghana juntamente com a sua esposa nas emissões de língua portuguesa onde fazem um trabalho excepcional. Enviam para todo mundo mensagens sobre atrocidades do colonialismo português ,e convida os angolanos a reagirem e lutarem pela sua liberdade. Estas emissões são ouvidas por todos cantos de Angola.

    Em 1966´é criada a CLSTP (Comité de libertação de São Tomé e Príncipe ),sendo Hugo um dos fundadores.

    Neste mesmo ano dá-se o golpe de estado, e Nkwme Nkruma é deposto. Nesta sequência ,Hugo de Menezes como representante dos interesses do MPLA em Accra ,exilou-se na embaixada de Cuba com ordem de Fidel Castro. Com o golpe de estado, as representações diplomáticas que praticavam uma política favorável a Nkwme Nkruma são obrigadas a abandonar Ghana .Nesta sequência , Hugo foge com a família para o Togo.
    Em 1967 Dr Hugo José Azancot parte com esposa para a república popular do Congo - Dolisie onde ambos leccionam no Internato de 4 de Fevereiro e dão apoio aos guerrilheiros das bases em especial á Base Augusto Ngangula ,trabalhando paralelamente para o estado Congolês para poder custear as despesas familhares para que seu esposo tivesse uma disponibilidade total no M.P.L.A sem qualquer remuneração.

    Em 1968,Agostinho Neto actual presidente do MPLA convida-o a regressar para o movimento no Congo Brazzaville como médico da segunda região militar: Dirige o SAM e dá assistência médica a todos os militantes que vivem a aquela zona. Acompanha os guerrilheiros nas suas bases ,no interior do território Angolano, onde é alcunhado “ CALA a BOCA” por atravessar essa zona considerada perigosa sempre em silêncio.

    Hugo de Menezes colabora na abertura do primeiro estabelecimento de ensino primário e secundário em Dolisie ,onde ele e sua esposa dão aulas.

    Saturado dos conflitos internos no MPLA ,aliado a difícil e prolongada vida de sobrevivência ,em 1972 parte para Brazzaville.

    Em 1973,descontente com a situação no MPLA e a falta de democraticidade interna ,foi ,com os irmãos Mário e Joaquim Pinto de Andrade , Gentil Viana e outros ,signatários do « Manifesto dos 19», que daria lugar a revolta activa. Neste mesmo ano, participa no congresso de Lusaka pela revolta activa.
    Em 1974 entra em Angola ,juntamente com Liceu Vieira Dias e Maria de Céu Carmo Reis ( Depois da chegada a Luanda a saída do aeroporto ,um grupo de pessoas organizadas apedrejou o Hugo de tal forma que foi necessário a intervenção do próprio Liceu Vieira Dias).

    Em 1977 é convidado para o cargo de director do hospital Maria Pia onde exerce durante alguns anos .

    Na década de 80 exerce o cargo de presidente da junta médica nacional ,dirige e elabora o primeiro simpósio nacional de remédios.

    Em 1992 participa na formação do PRD ( partido renovador democrático).
    Em 1997-1998 é diagnosticado cancro.

    A 11 de Maio de 2000 morre Azancot de Menezes, figura mítica da historia Angolana.

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  4. Anônimo6:43 PM

    (CARTA PERTENCENTE AO ESPOLIO DO DR HUGO JOSÉ AZANCOT DE MENEZES,UM DOS FUNDADORES DO MPLA).

    Ao Comité Director do M.P.L.A.

    BRAZZAVILLE


    Brazzaville,11 de Agosto de 1972


    Prezados camaradas


    Durante os últimos quatro anos, procurei dar a minha modesta
    Contribuição à luta de libertação do povo Angolano ,como militante
    Médico do MPLA. Mas a usura ( Física e sobretudo Psíquica ) provocada por estes quatro anos de permanência em DOLISIE, talvez de
    Certo modo aliada aos 45anos que se aproximam , reduziram em muito a
    Minha capacidade de luta e de trabalho; presentemente ,sinto-me incapaz
    De dar ao MPLA toda a contribuição que a luta exige de um militante activo.
    Continuando - Se a isso for autorizado pela Direcção do Movimento - como membro do MPLA, ao qual gostaria de poder dar uma contribuição
    ,ainda que ,de agora em diante limitada ,procurarei trabalhar como médico ,fora da organização ,retomando contactos de há muito perdidos com a medicina.

    Queiram aceitar ,prezados camaradas ,as minhas melhores saudações.


    HUGO DE MENEZES

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