quarta-feira, outubro 24, 2007

A Poesia no Teatro - Cleise Mendes


Cleise Mendes
A Poesia no Teatro
Bocas, buchichos, bilhetes,
o beijo, o banzo, o batuque,
bispos, beatos, blasfêmias,
as conversas cavernosas,
cavando caos e castigo,
cartas cárceres carrascos,
cruzes, quilombos, capoeira,
denúncias, depoimentos,
devassas e desventuras,
a danação do degredo.
E a liberdade tecendo
o fio de sua renda:
navegar é preciso
que se aprenda.
Filetes deferimentos,
ferros, feitores, fidalgos,
(afã de fazer feitiço!)
garras, garrotes, gadanhos,
galhofas e galicismos,
o gosto das gargalhadas,
o gozo, o guizo, a gandaia,
a justiça justaposta,
gerando jeito, jeitinho
e gente jeremiando.
E a liberdade tecendo
o fio de sua renda:
navegar é preciso
que se aprenda.
Lágrimas lavam as leis
e as legiões de lacaios,
os livros em labaredas,
a luz, o lume, a legenda,
iluminismos letais...
masmorras, mortes, miséria,
meirinhos, maçons, muzenza,
o Nordeste, a novembrada,
novidades e novenas,
Napoleão e novelas.
E a liberdade tecendo
o fio de sua renda:
navegar é preciso
que se aprenda.
Os póstumos patriotas,
padres, peões, parasitas,
os poderes paralelos,
réus, rebeldes renitentes,
raças, revoltas, revides,
o real e a realeza,
os sambas e as assembléias,
selos, sigilos, segredos,
a sedição e seus sonhos,
o sangue e o suor descendo.
E a liberdade tecendo
o fio de sua renda:
navegar é preciso
que se aprenda.
Traidores e titulares,
o trono, a taxa, o tributo,
o tronco, a tortura, a tropa,
velas, vasos e vitrais,
os vassalos e os valentes,
(a vida à vazar das veias)
o xodó e o xingamento,
zona, zunzum, zombaria,
o zumbir da zurzidela,
zoeiras, zangas e zelos.
E a liberdade tecendo
o fio de sua renda:
navegar é preciso
que se aprenda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário