quarta-feira, outubro 24, 2007

Colóquio flácido para acalentar bovinos - Cláudio Portella

Cláudio Portella
Colóquio flácido para acalentar bovinos

Agora entendo porquê Arthur Rimbaud parou de escrever aos
[dezenove
Não porquê tivesse escrito tudo que tinha para escrever
Mas porquê não podia
Era impossível escrever
mais Poesia e Morte têm os mesmos carrascos
Eu também não consigo mais escrever poemas
Minha pena foi trocada por um microcomputador
Transformei-me num reprodutor premiado
um Aberdeen Angus cuja única possibilidade de existência é
procriar
Encher a cozinha de meninas
O país de cidadões
As ruas de trombadinhas
Portanto, meu caro bovídeo
Para que impacientar-se com a ausência do suicídio
Renegue-o
Ele nunca, nunca mesmo, tem razão
Aliás, a razão é a primeira a abandonar o navio
Seja um homicida em potencial
Doe-se no Bridge segundas, terças e quartas
Engaje-se no Xadrez quintas, sextas e sábados
Destabilize-se na Sinuca aos domingos
No final do mês
durma em paz
ao ninar da mãe Portuguesa:
“Poesia, Poesia, Poesia da cara preta
pega esse zebu
que tem medo de ficar nu”

Nenhum comentário:

Postar um comentário