
tamara
tamara não olhava como as outras. como nenhuma outra.
alguns se apressavam em ressaltar a impossibilidade daqueles olhos
cinza-rosados olharem como os outros. outros insistiam que toda a
diferença residia mesmo no seu modo de olhar e não apenas no seu
colorido.
e o comparavam ao olhar de um telescópio que, através da noite mais
escura, procurava galáxias desconhecidas, ruídos ancestrais e buracos
infindáveis.
mas quando tamara se sentava à porta da rua e se punha a olhar os
passantes, a noite ficava suspensa, o girar do mundo em torno de seus
desastres eternos se detinha e os únicos sons vinham do roçar rosado de
seus cílios miúdos.
in: As Mulheres Invisíveis (inédito)
Adair Carvalhais Júnior
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