segunda-feira, julho 30, 2007

A moça de Goiatuba - Afonso Félix de Sousa

A moça de Goiatuba
Afonso Félix de Sousa

Em Goiatuba
tem uma moça.
Que coração grande
ela tem.
A moça de lá
é só chamar vem.
José Godoy Garcia

Mal rompeu o dia - a moça
foi levar café com leite
para o filho do patrão.
Sentada à beira da cama,
como fez sempre, esperava,
como fez sempre, que o moço
lhe reclamasse mais pão.
Mas o moço não queria
nem pão nem café com leite.
Queria - e com que paixão
dentro dos olhos! - queria-lhe
os peitinhos em botão.
Daí o moço pediu-lhe
que se deitasse com ele
um pouco ... que assim veria
como era bom o colchão.
Mas a moça riu e disse
que não tinha precisão.
pois era dia, e de noite
já tinha dormido um tantão.
Daí o moço pediu-lhe
que ela tirasse o vestido,
depois a combinação,
depois deitasse na cama,
que era bem quente o colchão.
Mas a moça riu e disse
não estar com frio não,
que o vestido que vestia,
tirar não podia não,
que a patroa foi quem disse
que devia ter vergonha
e cobrir-se com vestido,
calcinha e combinação ...
E se foi, deixando o moço
a se torcer de paixão.
E quando foram chamá-lo,
o moço tinha dormido
e não acordou mais não.
No outro dia, antes do enterro,
mal rompeu o dia - a moça
foi colher flores no mato
para enfeitar o caixão.
e a cada flor que apanhava
dizia à Virgem Maria,
ao seu bentinho e a São João
que tantas flores bonitas
o moço ao céu levaria,
mas a troco do perdão.
Pois uma das quatro velhas
que deram banho no morto,
disse que viu nos seus olhos,
quando os fecharam, o Sujo
a dançar com danação.
E a cada flor, uma lágrima
descia pelo seu rosto,
que morrer assim tão moço
como o filho do patrão
e ainda ter de curtir pena
sera mais que judiação.
Enquanto apanhava flores
encontrou o pai do moço,
que também a buscar flores
foi colher consolação.
A moça, como fez sempre,
ao vê-lo estendeu a mão.
para assim, como fez sempre,
tomar bênção do patrão.
Ele tinha havia tempo
a mocinha em sua casa,
mas só agora é que dava
com seus seios em botão.
Sem largar a mão da moça
lhe pediu que ela tirasse
seu vestido de chitão,
que depois ia lhe dar
muitos de seda e sapatos
mais bonitos que os das outras
moças de todo o sertão.
Mas a moça riu e disse
que não tinha precisão.
que era até muito bonito
seu vestido de chitão.
Sem largar a mão da moça
o patrão lhe suplicava
que ela tirasse o vestido,
depois a combinação,
depois a calça, e depois
deitasse nua no chão.
Mas a moça riu e disse
que o vestido que vestia
tirar não podia não,
que a patroa foi quem disse
que devia ter vergonha
e cobrir-se com vestido,
calcinha e combinação ...
E daí se foi, deixando-o
a se torcer de paixão.
E quando foram buscá-lo
mais tarde, estava dormindo
e não acordou mais não.
"Que coisa, gente! Que coisa!
Mais parece mangação ...
De primeiro morre o filho,
depois vai, morre o patrão
de tanto pedir a gente
o que não posso dar não
A gente quer ter vergonha,
a gente quer ter razão
e bota o vestido novo
feito para a procissão
- os homens mandam tirar,
me mandam deitar no chão.
Esses trens são mesmo uns bobos!
Chega dói no coração.
Mas não quero que eles morram,
'tadinhos! - como o patrão.
Vou fazer tudo o que pedem
na primeira ocasião.
"E como as fontes que a todos
de beber sempre lhes dão
e como as plantas que os frutos
dão como consolação
e como o céu que as estrelas
dá a toda escuridão,
a moça de Goiatuba
se dava como se davama
o sol as ervas do chão.
E os caixeiros-viajantes
e o vigário e o sacristão
e o revoltoso de trinta
e o promotor e o escrivão
e o juiz e o médico e os loucos
e o boiadeiro e o peão
e os polícias e os meninos
e o dia todo e de noite
não parava a procissão.
Era só chamar - e vinha
como se dar o seu corpo
fosse a sua religião ...
Uma vez mal se deitava
no quintal, atrás da cerca
de moita de são-caetano,
com um peão de boiadeiro
das bandas de Catalão,
sentiu uma dor doída
que lhe subia do ventre
para o peito e o coração.
Foi andando e entrou na igreja,
pois sabia que as doenças
tão feias como era a sua
não saram, mas Deus as tira
a troco de uma oração.
Ao ver que Deus era um homem
foi levantando o vestido,
mas Cristo não a quis não.
Dor tão grande que sofria
seu corpinho tamanino
nu bem no meio da igreja
como em terna adoração!
Dor tão grande! Ela só via
o Cristo, que nem os homens,
a se torcer de paixão,
e largando o crucifixo
lhe pedir, que nem os homens,
que ela deitasse no chão.
E como as fontes que à terra
as águas da terra dão
e como as plantas que os frutos
dão a quem estende a mão
e como o céu que em estrelas
se dá de noite ao sertão,
a moça de Goiatuba
deitou ... em pouco dormia
- e não acordou mais não.

7 comentários:

  1. Anônimo3:43 AM

    eu nao gosto muito de poesias,
    mas achei essa perfeita.

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  2. Anônimo12:37 AM

    vai te lasca
    gtba faz frio karai!

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  3. Anônimo12:38 AM

    terrivel...
    esse autor e doente... e de goias e nem conhece o estado em que vive!!
    ridiculo

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  4. Anônimo1:43 PM

    o tom critico de Afonso Félix de Souza acabou por ironizar e deixar a poesia com um ar pejorativo.

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  5. Anônimo3:30 PM

    nossa estes comentarios feitos a cima não tem nenhuma coerencia,todo poema fala de algo cabe ao leitor conhecer a historia do autor para entender o que ele espera nos passar....

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  6. Anônimo9:49 PM

    Que poema!!!!!
    Bem!!!!! A poesia é isso imaginação e criação!!!!
    Este poeta é goiano é usa a linguagem dos goianos e tranmite bem seus ideáis

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  7. Anônimo8:39 PM

    Poema interessante, to fazendo um trabalho sobre ele.Sobre o leigo ai de cima q fala de Goias, so tenho pena dele.

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