Entrevista / Antonio Naud Júnior
CONFISSÕES DE UM POETA GRAPIÚNA
por Dagmar Leão
Às vésperas de lançar livro na Bahia, escritor-viajante diz que a maturidade dá a certeza que não compreendemos nada
Nascido no Sul da Bahia, Antonio Naud Júnior estreou em 1993, com o volume independente de poemas “O Aprendiz do Amor”. Desde então publicou sete livros de poesia, narrativa e entrevista. Nos próximos dias, o autor cigano lança “Suave é o Coração Enamorado” (Via Litterarum, 176 págs.) em três cidades baianas: Ilhéus (UESC, durante o VII Seminário Internacional de Literaturas Luso-Afro-Brasileira, na última semana de outubro), Itabuna (Quiosque Cultural, 26 de outubro, às 20h) e Salvador (Casa da Mãe, Rio Vermelho, 01 de novembro). Antes, o livro de poesia foi lançado em Natal (Rio Grande do Norte) e João Pessoa (Paraíba), sempre prestigiado por um bom público, performances e show musical.
O poeta discorre aqui sobre vários temas numa linguagem sincera e poética - e por isso completamente próxima à sua obra. As respostas de Naud são quase fábulas, falas um tanto comovidas com a existência. “A minha vida daria boa poesia”, garante ele.
ABENÇOADO
“Sou um homem de sorte. Mesmo sem grandes recursos financeiros, vivo perfeitamente satisfeito, já que não sou ambicioso. Diferente de muita gente dominada pelo consumismo, nunca senti cobiça por carros último modelo ou mansões em condomínios fechados. Faz-me muito bem a consciência de que da vida nada se leva. A futilidade que alimento não é caso para tratamento psiquiátrico: gosto de morar confortavelmente, vestir-se com requinte, perfumes franceses e livros. Nada disso me falta. Por onde passo, encontro gente amável, inteligente e bem intencionada. Talvez por não ter nenhum complexo de inferioridade, correr todos os riscos e me oferecer inteiro. São anjos de carne-e-osso suavizando meus caminhos. Como sei que a vida não tem pena de ninguém, sou grato por essa gentileza, gerando uma total descrença na inveja, ira, vingança ou rancor. Ódio, nem falo, é uma doença amaldiçoada. Tô fora. Sou feliz por conseguir sobreviver do meu ofício. Ou seria da bondade alheia? Creio que é exatamente isso: sou um homem de sorte, abençoado. Um homem que terminou por compreender que a maturidade dá a certeza que não compreendemos nada”
AMOR
“Acredito no poder transformador do amor. A literatura que escrevo se alimenta dele. Ao longo da vida tive quatro ou cinco relacionamentos apaixonantes, inesquecíveis. Casei certa vez e gostei da experiência. Aprendi muitas coisas, inclusive que a solidão a dois não me interessa. Por meus braços passaram mais de mil amores, homens ou mulheres. Se todos eles fossem meus leitores, seria candidato a best-seller. Entretanto, não me considero promíscuo, pois sinto atração por determinada criatura crendo que é o amor que tanto espero. Não sou de caça, de ansiedade carnal, os meus encontros acontecem naturalmente. Afinal não existe nada mais incomodo do que acordar com alguém que não temos interesse romântico. O importante é amar e não se angustiar ou sofrer com a impossibilidade de união. Amei atores, músicos, enfermeiras, escritores, surfistas, anônimos, drogados, prostitutas, casados, professoras, modelos, feministas, jornalistas, marinheiros e até políticos. Um deles acaba de se eleger para deputado federal em São Paulo. O engraçado é que nunca fui essa beleza toda e jamais banquei o Don Juan, porém cultivo algum magnetismo e nunca zombei dos sentimentos alheios. Algumas dessas histórias estão nos meus diários. Se um dia forem publicados muita gente ficará de boca aberta. Um escândalo digno das Suicides Notes, de Gerald Thomas. Entretanto, nos últimos dois anos, depois de um romance bombástico, venho evitando novos relacionamentos. Ando preferindo me deixar seduzir pela natureza, a literatura e o invisível”
BRASIL
“O Brasil já foi um país de grande vivacidade intelectual. Basta lembrar dos tempos do Movimento Modernista, da poesia concreta, Bossa Nova, Cinema Novo, Tropicália, Arena, de publicações como Realidade e Pasquim. Até alguns anos atrás era possível ler o new journalism de Paulo Francis, Pepe Escobar ou Sérgio Augusto, hoje nos resta a estupidez oportunista de Diogo Mainardi. A inteligência brasileira foi silenciada. É o besteirol que comanda. A elite semi-analfabeta gasta seu dinheiro em shows bestas e vaquejadas. Os escritores aceitos pela opinião pública não desfrutam de competência literária. No Brasil, a voz do povo é o futebol, a música, a dança. Se voz do povo é voz de Deus talvez Deus goste muito de dançar. A miséria cultural é uma das facetas trágicas da nossa vida tupiniquim. Não importa o que sejamos, mas presenciar este estado de coisas tristes nos humilha, nos ofende e por isso nos desanimamos. Eu sempre reavalio o que aconteceu comigo e com o meu país. Não há como não pensar no passado. Estou contente com tudo que fui e fiz. Não me arrependo de nada. Por que me arrependeria de alguma coisa? Estou contente com a vida que levei e que ainda levo. Ela me deu mais do que pedi e mais do que mereci. Aliás, prefiro sempre falar da vida com olhos de esperança. Meus planos, afinal, são viver ou seja aprender, escrever, amar. Pretendo continuar lançando minha alma no espaço, gritando por liberdade e, lembrando Raul Seixas, não ter aquela velha opinião formada sobre tudo”
CICATRIZES
“Tenho um convívio conflituoso com Itabuna. Ela nem sempre gosta de mim. Na primeira juventude fui perseguido nesta cidade, mesmo sendo um legítimo papa-jaca. Tentaram arruinar minha reputação. Acusaram-me por debaixo dos panos de atos ilegais, de maledicência, de cartas anônimas, plágio etc. Houve um tempo em que fui persona non grata em determinadas festas burguesas. Até espalharam o boato de que eu havia morrido na Europa vitimado pela Aids. Como o meu santo é forte tais infelizes caluniadores morreram subitamente um a um ou estão decadentes, desacreditados. Ainda assim não guardo rancor de ninguém, só que algo se partiu na cumplicidade com Itabuna. Hoje em dia nem tenho vontade de lançar livros em terras grapiúnas, pois talvez essas cicatrizes sejam responsáveis por lançamentos insossos, ao contrário do que acontece em outros lugares. O lançamento em Natal, no Rio Grande do Norte, no mês passado, agregou quase 150 pessoas. Foi uma festa da palavra. Não vejo possibilidade disso se repetir em Itabuna. Espero que esteja enganado e eu e ela se entregue um ao outro sem restrições”
CIDADES
“Cansei das grandes cidades impessoais e aterradoras. Voltei às origens. Sou um animal do mato. Já vivi tudo o que tinha de viver nas metrópoles. Chega de correria, poluição e exploração em todos os sentidos. Como diz Zé Rodrix: quero uma casa no campo. Ou numa cidadezinha litorânea. As grandes cidades brasileiras estão caindo aos pedaços. Não quero sair outra vez da minha terra, mas não posso ficar aqui vendo que as pessoas não mudam de mentalidade. Simplesmente institucionalizou a falta de respeito pela realidade, pelo próximo, pela legalidade. Voltei da Europa pensando em viver em Salvador, mas ela está numa situação difícil, acho que cresceu demais. Ficou estranha, distante. Passa por um terrível processo de descaracterização. A encantadora Natal, embora muito menor, tem problemas graves: não convive bem com pedestres, despreza o verde e colabora com um turismo sórdido, além do calor sufocante. Estive recentemente em João Pessoa e fiquei enamorado: gente amável, provincianismo poético e ruas planas embelezadas pela natureza. Moraria tranquilamente nessa terra de poetas como Lau Siqueira, Antônio Mariano, Astier Basílio e Linaldo Guedes. É uma maravilha. Habito atualmente a potiguar Pium, na Vila Feliz, entre cajueiros, mangueiras e orquídeas. Já no próximo verão estarei na bucólica Barra do Cunhaú. Farei saraus poéticos para pescadores e bordadeiras”
ESTRÉIA
“O Aprendiz do Amor, livro de estréia, não dá fulgor a minha poesia. No ano de 1993, eu era apenas um rapaz que se aventurava a traduzir em versos a solidão que sentia. Antes eu havia xerocado dois pequenos atentados poéticos – recordando Jomard Muniz de Britto - com tiragem em torno de cinqüenta exemplares cada. Um deles, A Vida é Pássaro Negro, exibia na capa imagem dramática de Sebastião Salgado. Uma brincadeira de adolescente. Renego sem piedade. Já O Aprendiz do Amor não deixa de ser interessante, mesmo com toda a sua imaturidade e influências vistosas. Ele fala muito sobre a ausência. Eu já me preocupava em fazer algum sentido na escrita. Não um sentido convencional. Mas era apenas um protesto juvenil sem muitas conseqüências. O Aprendiz do Amor é o primeiro livro de um iniciante, inegavelmente influenciado pela literatura de Hilda Hilst e Virgínia Woolf. Esta, a verdade. Era louco por Virgínia, desculpe, retifico, sou louco por Virgínia. A minha voz própria começa a surgir com Ficar Aqui sem Ser Ouvido por Ninguém, em 1996, publicado em Portugal”
FAMA
“Não me importa ser celebrado. Não levo a fama a sério. O escritor que tem a fama como meta escolheu a profissão errada. Desejo somente continuar escrevendo com independência, sensibilidade e combatividade. Se desejasse a fama teria me vendido, puxado o saco de poderosos ou participado de panelinhas literárias. Nunca topei nada disso. No Rio de Janeiro, o escritor argentino Manuel Puig, autor de O Beijo da Mulher Aranha, pediu-me para que fosse viver com ele no México e eu não fui, mesmo bastante tentando em conhecer a terra de Frida Kahlo. Já em São Paulo, Pedro Paulo de Senna Madureira, na época o editor mais famoso do Brasil, mandava buquês de rosas vermelhas e, indiferente, eu apenas comia a mais formosa flor com mel. No final dos anos 90, uma rica açoriana ofereceu casa, comida e pequena editora para que eu fosse viver perto dela nos Açores. Fiquei lá um tempinho, terminando por enjoar da carência piegas. Ao me apaixonar por uma idosa poeta não planejava utilizá-la com proveitos oportunistas, como alguns amigos dela insinuaram, apenas saboreava seu extraordinário encanto. A verdade é que a minha vida daria boa poesia. Se eu fosse mulher seria concubina, uma deliciosa cortesã, uma Cicarelli ou Luana Piovani com neurônios, mas felizmente sou homem, um poeta que acredita na liberdade impossível e nas coisas simples da vida. O importante é estar com o coração sereno, fazer o que gosto e mandar os caretas plantarem batatas”
HILDA HILST
“Fui protegido por ela durante dois anos. Hilda lia meus poemas e contos, aconselhando um mergulho interior sem barreiras, destacando versos, oferecendo livros. Lia John Donne, Jorge de Sena e Henri Michaux para mim. Enamorado, eu me deixava embalar por sua voz única de dicção perfeita. À noite, juntos, víamos a telenovela das oito, acompanhados por um bom uísque escocês e muitas confissões. Estive ao seu lado durante a criação do soberbo Do Desejo. Fiz inúmeras fotografias, guardo suas cartas e bilhetinhos. Sei detalhes de sua vida íntima nunca publicados. Costumava ligar para as redações de jornais e revistas, pedindo que ela fosse entrevistava, mesmo consciente de seu horror a entrevistas. Por minha insistência, topou fazer algumas. Um dia, Hildinha deixou de falar comigo. Fiquei em pânico, chorei, não sabia como sobreviver sem a sua companhia. Terminei por aniquilar a dor através da escrita. Quando morreu, não me abalei, pois a sua morte estava anunciada há muitos anos. Hilda morria a cada dia desde os anos oitenta. Ela é o maior poeta que já tivemos. O meu Suave é o Coração Enamorado é dedicado ao seu ser iluminado”
NOVO LIVRO
“Suave é o Coração Enamorado ainda não é a grande obra que pretendo escrever antes de partir para o outro lado. Até agora, o meu melhor momento literário aconteceu com Se um Viajante numa Espanha de Lorca, tristemente só publicado em Portugal. Sei que não sou um poeta excepcional, minha prosa tem mais vigor. Tenho consciência disso, mas não me envergonho da poética que faço, pois ela é mais viva e sincera do que a de muita gente que se diz poeta. Existe muito gato vendido por lebre no mercado literário. Realmente contamos com um número reduzido de brilhantes escritores e poetas para um País tão gigantesco. A literatura não é produto visceral nas terras brasilis. Antes de tudo, a nossa sensibilidade é musical. Tem muita celebridade literária fruto de marketing ou da desinformação. Alguém escreve que tal figura é genial e essa invenção passa de boca em boca, tornando a lenda realidade, como nos filmes de John Ford. Não cito nomes porque os mortos merecem ser deixados em paz e os vivos devem fazer o que acreditam que sabem fazer melhor, mesmo que pratiquem apenas a imitação da literatura”
POESIA
“A poesia, desde os gregos, jamais mudou nada no mundo. Mas ela é um luxo necessário, uma profusão de sentimentos, palavras e coisas que avança misturando as suas vozes. Privilegiados são aqueles que acreditam na sua beleza. Quando escrevo poesia ou prosa, minha vontade é sempre dar um passo além. Como deu Auden, Cummings, Clarice Lispector e tantos outros, só que é muito difícil dar esse passo, ser original. Por meio da poesia, compartilho com outras pessoas muitos dos meus delírios. Nela eu não tenho limites. Jogo-me de corpo e alma, sem censura. Eu não me escondo atrás das máscaras das palavras. Estou lá, na primeira pessoa, completamente nu e indomável, apenas preocupado com o sentido da vida. Procuro o poema em linha reta, como dizia Fernando Pessoa. Procuro a rebeldia dos personagens mais famosos de Paul Newman. Escrever poesia – ou prosa – é uma catarse. O fundamental é não mentir e procurar entender a fúria dos homens. Estou sempre de olho na poesia do passado e de hoje. Fico feliz com o reconhecimento alheio. Ao contrário de muita gente, que se corrói de inveja, creio que o reconhecimento do outro não nos diminui, não apaga a nossa trajetória, não fecha nossas chances. Muito pelo contrário. E inveja é areia movediça”
RELIGIÃO
“Sei muito pouco sobre Deus e não tenho formação religiosa, mesmo nascido numa família católica. Os rituais e dogmas me aborrecem. Não acredito em nada e acredito em tudo. Sou devoto de São Sebastião somente por sua história libidinosa e imagem erótica flechada. Gosto também da simplicidade revolucionária de São Francisco de Assis. Ao mesmo tempo, beijo os pés de Oxóssi e Dona Janaína. Se eu tivesse temperamento para me dedicar a uma religião, ficaria com o candomblé. Acho mágica essa idéia de unificar deuses com a própria natureza. Também tenho uma queda pela espiritualidade oriental. Costumo meditar, entoar mantras e cânticos budistas. Sou totalmente místico. Como Shakespeare, acredito que há muita coisa entre o céu e a terra que nem sonha a nossa vã filosofia. Certa vez fiz regressão e, entre outras vidas, vi-me como jovem curandeira germânica que acabava na fogueira. Talvez venha daí a repulsa e atração que sinto pelo fogo”
SONHOS
“Mesmo escrevendo desde menino, eu queria mesmo era ser artista plástico. Porém, não pintava nada decente, era uma loucura. Meti na cabeça que seria Henri Matisse. Fiz exposições coletivas e individuais, ganhei prêmios regionais, vendi umas quarenta telas. Numa das exposições, A Morte do Futuro, deixei-me fotografar acorrentado e pintado com a palidez e as olheiras de Rodolfo Valentino. Um dia, de frente a telas de Cézanne e Gauguin no Masp, disse para mim mesmo: “Você não pinta nada. Acorde pra vida, Antonio”. Foi o fim da carreira pictórica, pouco antes dos 20 anos. Nos anos seguintes, passei a comprar ou pedir de volta minhas próprias pinturas e queimá-las. No entanto, não foi possível resgatar todas elas. Hoje sei que foi a opção acertada e que a literatura estava destinada para preencher o meu vazio. Cada macaco no seu galho, e o meu galho não é a pintura. Por mais dedicado que fui, era entretenimento. Por fim, mesmo realizado por escrever, não tenho uma meta literária, não tenho nada programado, nada espero. Tanto que nunca envio o que escrevo para editoras, não participo de concursos literários e os poucos leitores fiéis surgiram sem qualquer planejamento”
VIDA INTENSA
“Amar, ler, escrever e viajar são hábitos fundamentais na minha vida. Vivo intensamente cada segundo da existência. É o principal obstáculo para o meu desenvolvimento literário. Entretanto não me arrependo. Essa é a vida que escolhi. Mesmo escrevendo praticamente todos os dias, acato mil e uma outras aventuras: a boêmia, vejo três ou quatro filmes semanalmente, vou ao teatro, exposições, museus e shows, cuido de plantas e insetos, jogo tarot, medito e oro, viajo muitíssimo, tenho uma rotina doméstica – resultando em moradias impecáveis – e não deixo de ir à praia ou contemplar rios, árvores, a lua e estrelas. Além disso, converso banalidades com idosos solitários e sobre cidadania com os mais humildes. Se eu bancasse o senhor do castelo, como outros escritores, talvez escrevesse mais ou melhor. Diferentes deles, sou hóspede de uma alma libertária, sem preconceitos e comunicativa. Tanto que tenho inúmeras obras inacabadas por absoluta falta de tempo. Eu nem sei quem sou. Talvez meio maluco, uma criatura discutível, uma metamorfose ambulante. A minha biografia é interessante, meio cinematográfica, e assim é como se eu não tivesse feito outra coisa além de procurar viver intensamente. Por vezes, noto que alguns leitores prestam atenção na minha pessoa e não na obra. Não me incomodo. Intencionalmente confundo vida e obra, já que não vejo diferença entre elas”
PRÓXIMOS LANÇAMENTOS
DE “SUAVE É O CORAÇÃO ENAMORADO”
Ilhéus:
Outubro de 2006, na Universidade de Santa Cruz (UESC), durante o VII Seminário Internacional de Literaturas Luso-Afro-Brasileira;
Itabuna:
26 de outubro de 2006, às 20h, no Quiosque Cultural (em frente ao Banco do Brasil);
Salvador:
01 de novembro de 2006, às 21h, na Casa da Mãe (Rio Vermelho).
SUAVE É O CORAÇÃO ENAMORADO (Poesia).
(Editora Via Litterarum, 2006)
de Antonio Naud Júnior
Prefácio de José Inácio Vieira de Melo
Ilustrações de Igor Souza
Dedicado a Hilda Hilst
176 págs.
R$ 24,00
COMO FAZER O SEU PEDIDO
Escrever para:editora@vialitterarum.com.br
Ou
vleditora@veloxmail.com.brhttp://www.vialitterarum.com.br/http://www.quiosquecultural.com.br/
OUTRAS INFORMAÇÕES
antonio_junior2@yahoo.com
(71) 99721302
TODA A OBRA PUBLICADA
DE ANTONIO NAUD JÚNIOR
1993 – O APRENDIZ DO AMOR (Poesia);
1996 – RETRATOS EM PRETO & BRANCO – CONTOS GÓTICOS DE MADRID (Ficções);
1998 – FICAR AQUI SEM SER OUVIDO POR NINGUÉM (Ficções);
1998 – CAPRICHOS (Poesia);
2003 – ARTEPALAVRA – CONVERSAS NO VELHO MUNDO (Entrevistas);
2004 – UM SENTIDO PARA A VIDA – UMA BIOGRAFIA DE DIÓGENES DA CUNHA LIMA (Biografia);
2005 – SE UM VIAJANTE NUMA ESPANHA DE LORCA (Crônicas);
2006 – SUAVE É O CORAÇÃO ENAMORADO (Poesia).
DOIS POEMAS
(Pág.75)
por tua causa vi a noite azul
tudo turquesa no meu coração
tudo cor de topázio
tudo luz e sombra
por tua causa
lembrei de outros tempos
em que lidava com inocências
cores azuladas
aromas
de paixões insensatas
(Pág. 103)
tua lembrança
posso tocá-la de tão próxima
nesta noite de sutilezas e argúcias
em que não consigo dormir
caminhando na lassidão
da aragem fresca da campina
a monótona coleção de sombras
provoca-me indolência
afundando olhos decaídos
na miragem envolta em vapor
na claridade súbita
ondulações
espasmos
retorcimentos
- tua lembrança
CONFISSÕES DE UM POETA GRAPIÚNA
por Dagmar Leão
Às vésperas de lançar livro na Bahia, escritor-viajante diz que a maturidade dá a certeza que não compreendemos nada
Nascido no Sul da Bahia, Antonio Naud Júnior estreou em 1993, com o volume independente de poemas “O Aprendiz do Amor”. Desde então publicou sete livros de poesia, narrativa e entrevista. Nos próximos dias, o autor cigano lança “Suave é o Coração Enamorado” (Via Litterarum, 176 págs.) em três cidades baianas: Ilhéus (UESC, durante o VII Seminário Internacional de Literaturas Luso-Afro-Brasileira, na última semana de outubro), Itabuna (Quiosque Cultural, 26 de outubro, às 20h) e Salvador (Casa da Mãe, Rio Vermelho, 01 de novembro). Antes, o livro de poesia foi lançado em Natal (Rio Grande do Norte) e João Pessoa (Paraíba), sempre prestigiado por um bom público, performances e show musical.
O poeta discorre aqui sobre vários temas numa linguagem sincera e poética - e por isso completamente próxima à sua obra. As respostas de Naud são quase fábulas, falas um tanto comovidas com a existência. “A minha vida daria boa poesia”, garante ele.
ABENÇOADO
“Sou um homem de sorte. Mesmo sem grandes recursos financeiros, vivo perfeitamente satisfeito, já que não sou ambicioso. Diferente de muita gente dominada pelo consumismo, nunca senti cobiça por carros último modelo ou mansões em condomínios fechados. Faz-me muito bem a consciência de que da vida nada se leva. A futilidade que alimento não é caso para tratamento psiquiátrico: gosto de morar confortavelmente, vestir-se com requinte, perfumes franceses e livros. Nada disso me falta. Por onde passo, encontro gente amável, inteligente e bem intencionada. Talvez por não ter nenhum complexo de inferioridade, correr todos os riscos e me oferecer inteiro. São anjos de carne-e-osso suavizando meus caminhos. Como sei que a vida não tem pena de ninguém, sou grato por essa gentileza, gerando uma total descrença na inveja, ira, vingança ou rancor. Ódio, nem falo, é uma doença amaldiçoada. Tô fora. Sou feliz por conseguir sobreviver do meu ofício. Ou seria da bondade alheia? Creio que é exatamente isso: sou um homem de sorte, abençoado. Um homem que terminou por compreender que a maturidade dá a certeza que não compreendemos nada”
AMOR
“Acredito no poder transformador do amor. A literatura que escrevo se alimenta dele. Ao longo da vida tive quatro ou cinco relacionamentos apaixonantes, inesquecíveis. Casei certa vez e gostei da experiência. Aprendi muitas coisas, inclusive que a solidão a dois não me interessa. Por meus braços passaram mais de mil amores, homens ou mulheres. Se todos eles fossem meus leitores, seria candidato a best-seller. Entretanto, não me considero promíscuo, pois sinto atração por determinada criatura crendo que é o amor que tanto espero. Não sou de caça, de ansiedade carnal, os meus encontros acontecem naturalmente. Afinal não existe nada mais incomodo do que acordar com alguém que não temos interesse romântico. O importante é amar e não se angustiar ou sofrer com a impossibilidade de união. Amei atores, músicos, enfermeiras, escritores, surfistas, anônimos, drogados, prostitutas, casados, professoras, modelos, feministas, jornalistas, marinheiros e até políticos. Um deles acaba de se eleger para deputado federal em São Paulo. O engraçado é que nunca fui essa beleza toda e jamais banquei o Don Juan, porém cultivo algum magnetismo e nunca zombei dos sentimentos alheios. Algumas dessas histórias estão nos meus diários. Se um dia forem publicados muita gente ficará de boca aberta. Um escândalo digno das Suicides Notes, de Gerald Thomas. Entretanto, nos últimos dois anos, depois de um romance bombástico, venho evitando novos relacionamentos. Ando preferindo me deixar seduzir pela natureza, a literatura e o invisível”
BRASIL
“O Brasil já foi um país de grande vivacidade intelectual. Basta lembrar dos tempos do Movimento Modernista, da poesia concreta, Bossa Nova, Cinema Novo, Tropicália, Arena, de publicações como Realidade e Pasquim. Até alguns anos atrás era possível ler o new journalism de Paulo Francis, Pepe Escobar ou Sérgio Augusto, hoje nos resta a estupidez oportunista de Diogo Mainardi. A inteligência brasileira foi silenciada. É o besteirol que comanda. A elite semi-analfabeta gasta seu dinheiro em shows bestas e vaquejadas. Os escritores aceitos pela opinião pública não desfrutam de competência literária. No Brasil, a voz do povo é o futebol, a música, a dança. Se voz do povo é voz de Deus talvez Deus goste muito de dançar. A miséria cultural é uma das facetas trágicas da nossa vida tupiniquim. Não importa o que sejamos, mas presenciar este estado de coisas tristes nos humilha, nos ofende e por isso nos desanimamos. Eu sempre reavalio o que aconteceu comigo e com o meu país. Não há como não pensar no passado. Estou contente com tudo que fui e fiz. Não me arrependo de nada. Por que me arrependeria de alguma coisa? Estou contente com a vida que levei e que ainda levo. Ela me deu mais do que pedi e mais do que mereci. Aliás, prefiro sempre falar da vida com olhos de esperança. Meus planos, afinal, são viver ou seja aprender, escrever, amar. Pretendo continuar lançando minha alma no espaço, gritando por liberdade e, lembrando Raul Seixas, não ter aquela velha opinião formada sobre tudo”
CICATRIZES
“Tenho um convívio conflituoso com Itabuna. Ela nem sempre gosta de mim. Na primeira juventude fui perseguido nesta cidade, mesmo sendo um legítimo papa-jaca. Tentaram arruinar minha reputação. Acusaram-me por debaixo dos panos de atos ilegais, de maledicência, de cartas anônimas, plágio etc. Houve um tempo em que fui persona non grata em determinadas festas burguesas. Até espalharam o boato de que eu havia morrido na Europa vitimado pela Aids. Como o meu santo é forte tais infelizes caluniadores morreram subitamente um a um ou estão decadentes, desacreditados. Ainda assim não guardo rancor de ninguém, só que algo se partiu na cumplicidade com Itabuna. Hoje em dia nem tenho vontade de lançar livros em terras grapiúnas, pois talvez essas cicatrizes sejam responsáveis por lançamentos insossos, ao contrário do que acontece em outros lugares. O lançamento em Natal, no Rio Grande do Norte, no mês passado, agregou quase 150 pessoas. Foi uma festa da palavra. Não vejo possibilidade disso se repetir em Itabuna. Espero que esteja enganado e eu e ela se entregue um ao outro sem restrições”
CIDADES
“Cansei das grandes cidades impessoais e aterradoras. Voltei às origens. Sou um animal do mato. Já vivi tudo o que tinha de viver nas metrópoles. Chega de correria, poluição e exploração em todos os sentidos. Como diz Zé Rodrix: quero uma casa no campo. Ou numa cidadezinha litorânea. As grandes cidades brasileiras estão caindo aos pedaços. Não quero sair outra vez da minha terra, mas não posso ficar aqui vendo que as pessoas não mudam de mentalidade. Simplesmente institucionalizou a falta de respeito pela realidade, pelo próximo, pela legalidade. Voltei da Europa pensando em viver em Salvador, mas ela está numa situação difícil, acho que cresceu demais. Ficou estranha, distante. Passa por um terrível processo de descaracterização. A encantadora Natal, embora muito menor, tem problemas graves: não convive bem com pedestres, despreza o verde e colabora com um turismo sórdido, além do calor sufocante. Estive recentemente em João Pessoa e fiquei enamorado: gente amável, provincianismo poético e ruas planas embelezadas pela natureza. Moraria tranquilamente nessa terra de poetas como Lau Siqueira, Antônio Mariano, Astier Basílio e Linaldo Guedes. É uma maravilha. Habito atualmente a potiguar Pium, na Vila Feliz, entre cajueiros, mangueiras e orquídeas. Já no próximo verão estarei na bucólica Barra do Cunhaú. Farei saraus poéticos para pescadores e bordadeiras”
ESTRÉIA
“O Aprendiz do Amor, livro de estréia, não dá fulgor a minha poesia. No ano de 1993, eu era apenas um rapaz que se aventurava a traduzir em versos a solidão que sentia. Antes eu havia xerocado dois pequenos atentados poéticos – recordando Jomard Muniz de Britto - com tiragem em torno de cinqüenta exemplares cada. Um deles, A Vida é Pássaro Negro, exibia na capa imagem dramática de Sebastião Salgado. Uma brincadeira de adolescente. Renego sem piedade. Já O Aprendiz do Amor não deixa de ser interessante, mesmo com toda a sua imaturidade e influências vistosas. Ele fala muito sobre a ausência. Eu já me preocupava em fazer algum sentido na escrita. Não um sentido convencional. Mas era apenas um protesto juvenil sem muitas conseqüências. O Aprendiz do Amor é o primeiro livro de um iniciante, inegavelmente influenciado pela literatura de Hilda Hilst e Virgínia Woolf. Esta, a verdade. Era louco por Virgínia, desculpe, retifico, sou louco por Virgínia. A minha voz própria começa a surgir com Ficar Aqui sem Ser Ouvido por Ninguém, em 1996, publicado em Portugal”
FAMA
“Não me importa ser celebrado. Não levo a fama a sério. O escritor que tem a fama como meta escolheu a profissão errada. Desejo somente continuar escrevendo com independência, sensibilidade e combatividade. Se desejasse a fama teria me vendido, puxado o saco de poderosos ou participado de panelinhas literárias. Nunca topei nada disso. No Rio de Janeiro, o escritor argentino Manuel Puig, autor de O Beijo da Mulher Aranha, pediu-me para que fosse viver com ele no México e eu não fui, mesmo bastante tentando em conhecer a terra de Frida Kahlo. Já em São Paulo, Pedro Paulo de Senna Madureira, na época o editor mais famoso do Brasil, mandava buquês de rosas vermelhas e, indiferente, eu apenas comia a mais formosa flor com mel. No final dos anos 90, uma rica açoriana ofereceu casa, comida e pequena editora para que eu fosse viver perto dela nos Açores. Fiquei lá um tempinho, terminando por enjoar da carência piegas. Ao me apaixonar por uma idosa poeta não planejava utilizá-la com proveitos oportunistas, como alguns amigos dela insinuaram, apenas saboreava seu extraordinário encanto. A verdade é que a minha vida daria boa poesia. Se eu fosse mulher seria concubina, uma deliciosa cortesã, uma Cicarelli ou Luana Piovani com neurônios, mas felizmente sou homem, um poeta que acredita na liberdade impossível e nas coisas simples da vida. O importante é estar com o coração sereno, fazer o que gosto e mandar os caretas plantarem batatas”
HILDA HILST
“Fui protegido por ela durante dois anos. Hilda lia meus poemas e contos, aconselhando um mergulho interior sem barreiras, destacando versos, oferecendo livros. Lia John Donne, Jorge de Sena e Henri Michaux para mim. Enamorado, eu me deixava embalar por sua voz única de dicção perfeita. À noite, juntos, víamos a telenovela das oito, acompanhados por um bom uísque escocês e muitas confissões. Estive ao seu lado durante a criação do soberbo Do Desejo. Fiz inúmeras fotografias, guardo suas cartas e bilhetinhos. Sei detalhes de sua vida íntima nunca publicados. Costumava ligar para as redações de jornais e revistas, pedindo que ela fosse entrevistava, mesmo consciente de seu horror a entrevistas. Por minha insistência, topou fazer algumas. Um dia, Hildinha deixou de falar comigo. Fiquei em pânico, chorei, não sabia como sobreviver sem a sua companhia. Terminei por aniquilar a dor através da escrita. Quando morreu, não me abalei, pois a sua morte estava anunciada há muitos anos. Hilda morria a cada dia desde os anos oitenta. Ela é o maior poeta que já tivemos. O meu Suave é o Coração Enamorado é dedicado ao seu ser iluminado”
NOVO LIVRO
“Suave é o Coração Enamorado ainda não é a grande obra que pretendo escrever antes de partir para o outro lado. Até agora, o meu melhor momento literário aconteceu com Se um Viajante numa Espanha de Lorca, tristemente só publicado em Portugal. Sei que não sou um poeta excepcional, minha prosa tem mais vigor. Tenho consciência disso, mas não me envergonho da poética que faço, pois ela é mais viva e sincera do que a de muita gente que se diz poeta. Existe muito gato vendido por lebre no mercado literário. Realmente contamos com um número reduzido de brilhantes escritores e poetas para um País tão gigantesco. A literatura não é produto visceral nas terras brasilis. Antes de tudo, a nossa sensibilidade é musical. Tem muita celebridade literária fruto de marketing ou da desinformação. Alguém escreve que tal figura é genial e essa invenção passa de boca em boca, tornando a lenda realidade, como nos filmes de John Ford. Não cito nomes porque os mortos merecem ser deixados em paz e os vivos devem fazer o que acreditam que sabem fazer melhor, mesmo que pratiquem apenas a imitação da literatura”
POESIA
“A poesia, desde os gregos, jamais mudou nada no mundo. Mas ela é um luxo necessário, uma profusão de sentimentos, palavras e coisas que avança misturando as suas vozes. Privilegiados são aqueles que acreditam na sua beleza. Quando escrevo poesia ou prosa, minha vontade é sempre dar um passo além. Como deu Auden, Cummings, Clarice Lispector e tantos outros, só que é muito difícil dar esse passo, ser original. Por meio da poesia, compartilho com outras pessoas muitos dos meus delírios. Nela eu não tenho limites. Jogo-me de corpo e alma, sem censura. Eu não me escondo atrás das máscaras das palavras. Estou lá, na primeira pessoa, completamente nu e indomável, apenas preocupado com o sentido da vida. Procuro o poema em linha reta, como dizia Fernando Pessoa. Procuro a rebeldia dos personagens mais famosos de Paul Newman. Escrever poesia – ou prosa – é uma catarse. O fundamental é não mentir e procurar entender a fúria dos homens. Estou sempre de olho na poesia do passado e de hoje. Fico feliz com o reconhecimento alheio. Ao contrário de muita gente, que se corrói de inveja, creio que o reconhecimento do outro não nos diminui, não apaga a nossa trajetória, não fecha nossas chances. Muito pelo contrário. E inveja é areia movediça”
RELIGIÃO
“Sei muito pouco sobre Deus e não tenho formação religiosa, mesmo nascido numa família católica. Os rituais e dogmas me aborrecem. Não acredito em nada e acredito em tudo. Sou devoto de São Sebastião somente por sua história libidinosa e imagem erótica flechada. Gosto também da simplicidade revolucionária de São Francisco de Assis. Ao mesmo tempo, beijo os pés de Oxóssi e Dona Janaína. Se eu tivesse temperamento para me dedicar a uma religião, ficaria com o candomblé. Acho mágica essa idéia de unificar deuses com a própria natureza. Também tenho uma queda pela espiritualidade oriental. Costumo meditar, entoar mantras e cânticos budistas. Sou totalmente místico. Como Shakespeare, acredito que há muita coisa entre o céu e a terra que nem sonha a nossa vã filosofia. Certa vez fiz regressão e, entre outras vidas, vi-me como jovem curandeira germânica que acabava na fogueira. Talvez venha daí a repulsa e atração que sinto pelo fogo”
SONHOS
“Mesmo escrevendo desde menino, eu queria mesmo era ser artista plástico. Porém, não pintava nada decente, era uma loucura. Meti na cabeça que seria Henri Matisse. Fiz exposições coletivas e individuais, ganhei prêmios regionais, vendi umas quarenta telas. Numa das exposições, A Morte do Futuro, deixei-me fotografar acorrentado e pintado com a palidez e as olheiras de Rodolfo Valentino. Um dia, de frente a telas de Cézanne e Gauguin no Masp, disse para mim mesmo: “Você não pinta nada. Acorde pra vida, Antonio”. Foi o fim da carreira pictórica, pouco antes dos 20 anos. Nos anos seguintes, passei a comprar ou pedir de volta minhas próprias pinturas e queimá-las. No entanto, não foi possível resgatar todas elas. Hoje sei que foi a opção acertada e que a literatura estava destinada para preencher o meu vazio. Cada macaco no seu galho, e o meu galho não é a pintura. Por mais dedicado que fui, era entretenimento. Por fim, mesmo realizado por escrever, não tenho uma meta literária, não tenho nada programado, nada espero. Tanto que nunca envio o que escrevo para editoras, não participo de concursos literários e os poucos leitores fiéis surgiram sem qualquer planejamento”
VIDA INTENSA
“Amar, ler, escrever e viajar são hábitos fundamentais na minha vida. Vivo intensamente cada segundo da existência. É o principal obstáculo para o meu desenvolvimento literário. Entretanto não me arrependo. Essa é a vida que escolhi. Mesmo escrevendo praticamente todos os dias, acato mil e uma outras aventuras: a boêmia, vejo três ou quatro filmes semanalmente, vou ao teatro, exposições, museus e shows, cuido de plantas e insetos, jogo tarot, medito e oro, viajo muitíssimo, tenho uma rotina doméstica – resultando em moradias impecáveis – e não deixo de ir à praia ou contemplar rios, árvores, a lua e estrelas. Além disso, converso banalidades com idosos solitários e sobre cidadania com os mais humildes. Se eu bancasse o senhor do castelo, como outros escritores, talvez escrevesse mais ou melhor. Diferentes deles, sou hóspede de uma alma libertária, sem preconceitos e comunicativa. Tanto que tenho inúmeras obras inacabadas por absoluta falta de tempo. Eu nem sei quem sou. Talvez meio maluco, uma criatura discutível, uma metamorfose ambulante. A minha biografia é interessante, meio cinematográfica, e assim é como se eu não tivesse feito outra coisa além de procurar viver intensamente. Por vezes, noto que alguns leitores prestam atenção na minha pessoa e não na obra. Não me incomodo. Intencionalmente confundo vida e obra, já que não vejo diferença entre elas”
PRÓXIMOS LANÇAMENTOS
DE “SUAVE É O CORAÇÃO ENAMORADO”
Ilhéus:
Outubro de 2006, na Universidade de Santa Cruz (UESC), durante o VII Seminário Internacional de Literaturas Luso-Afro-Brasileira;
Itabuna:
26 de outubro de 2006, às 20h, no Quiosque Cultural (em frente ao Banco do Brasil);
Salvador:
01 de novembro de 2006, às 21h, na Casa da Mãe (Rio Vermelho).
SUAVE É O CORAÇÃO ENAMORADO (Poesia).
(Editora Via Litterarum, 2006)
de Antonio Naud Júnior
Prefácio de José Inácio Vieira de Melo
Ilustrações de Igor Souza
Dedicado a Hilda Hilst
176 págs.
R$ 24,00
COMO FAZER O SEU PEDIDO
Escrever para:editora@vialitterarum.com.br
Ou
vleditora@veloxmail.com.brhttp://www.vialitterarum.com.br/http://www.quiosquecultural.com.br/
OUTRAS INFORMAÇÕES
antonio_junior2@yahoo.com
(71) 99721302
TODA A OBRA PUBLICADA
DE ANTONIO NAUD JÚNIOR
1993 – O APRENDIZ DO AMOR (Poesia);
1996 – RETRATOS EM PRETO & BRANCO – CONTOS GÓTICOS DE MADRID (Ficções);
1998 – FICAR AQUI SEM SER OUVIDO POR NINGUÉM (Ficções);
1998 – CAPRICHOS (Poesia);
2003 – ARTEPALAVRA – CONVERSAS NO VELHO MUNDO (Entrevistas);
2004 – UM SENTIDO PARA A VIDA – UMA BIOGRAFIA DE DIÓGENES DA CUNHA LIMA (Biografia);
2005 – SE UM VIAJANTE NUMA ESPANHA DE LORCA (Crônicas);
2006 – SUAVE É O CORAÇÃO ENAMORADO (Poesia).
DOIS POEMAS
(Pág.75)
por tua causa vi a noite azul
tudo turquesa no meu coração
tudo cor de topázio
tudo luz e sombra
por tua causa
lembrei de outros tempos
em que lidava com inocências
cores azuladas
aromas
de paixões insensatas
(Pág. 103)
tua lembrança
posso tocá-la de tão próxima
nesta noite de sutilezas e argúcias
em que não consigo dormir
caminhando na lassidão
da aragem fresca da campina
a monótona coleção de sombras
provoca-me indolência
afundando olhos decaídos
na miragem envolta em vapor
na claridade súbita
ondulações
espasmos
retorcimentos
- tua lembrança
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