3/9/2006 16:50:00
O Púcaro Búlgaro
Por Campos de Carvalho
Explicação Necessária
Se a Bulgária existe, então a cidade de Sófia terá que fatalmente existir. Este o único ponto no qual parecem assentir os que negam e os que defendem intransigentemente a existência daquele país, desde os tempos antediluvianos até os dias pré-diluvianos de hoje.
Neste livro não se pretende firmar nenhuma verdade definitiva sobre essa imortal controvérsia, em que pese ao número crescente de pseudoviajantes e outros aventureiros que, munidos de documentos irrefutáveis, provam ou tentam provar a cada passo o seu respeitável ponto de vista – escudados muitas vezes no prestígio de assembléias ou conferências as mais internacionais. O autor pessoalmente, e é o que se verá, já teve oportunidade de conhecer e mesmo de entabular conversação com mais de um relutante búlgaro, e até mesmo com uma búlgara, todos de uma reputação acima de ilibada e merecedores da maior estima e simpatia: mas como também já viu de perto alguns fantasmas e até o próprio Diabo, reserva-se o direito de só opinar definitivamente sobre o assunto depois que outros mais abalizados ou afortunados o tenham feito, à luz das novas ciências ou das que porventura ainda estejam por surgir.
Aqui o que se procura é apenas relatar, com o máximo de fidelidade, a experiência pessoal que – quase a contragosto e com o espírito sempre o mais elevado – teve o autor a oportunidade de empreender em torno dessa mirífica e cada vez mais nebulosa disputa geográfica: ou, para dizer com mais exatidão, em torno desse espanto geonomástico, como tão bem o definiu um famoso historiador búlgaro. Se bem ou malsucedida essa experiência, face aos pouco prováveis resultados que dela possam advir para o progresso da astrofísica ou da astrologia, este já é um assunto que por sua natureza escapa aos limites da presente obra, embora sejam eles tão evanescentes e imaginários quanto os do próprio reino da Bulgária. Entende o autor, apenas, que muito mais importante do que ir à Lua é ir ou pelo menos tentar ir à Bulgária – ou, quando menos, descobri-la.
Os Prolegômenos
No verão de 1958 o autor visitava tranqüilamente o Museu Histórico e Geográfico de Filadélfia quando, ao voltar-se um pouco para a direita, avistou de repente um púcaro búlgaro. A impressão causada pelo estranho acontecimento foi tamanha que no dia seguinte ele embarcava de volta no primeiro avião, deixando a mulher no hotel sem dinheiro ao menos para pagar as despesas.
Não falou o autor sobre o caso com ninguém, nem mesmo na ação de desquite que lhe moveram a mulher e todos os seus parentes consangüíneos ou colaterais, até que ano e meio mais tarde resolveu escrever ao próprio diretor do museu indagando, após muitos circunlóquios, se na sala x à direta, e à luz do meio-dia, podia inequivocamente ser visto um – e disse o nome. A resposta veio pronta e sem evasivas:
Prezado Senhor.
Respondendo a sua insólita e despropositada carta de 18 do corrente, venho informar que, após minuciosa diligência efetuada por pessoal altamente técnico e de reputação acima de qualquer suspeita, chegou-se à constatação de que na sala 304-B (ala direita) deste museu existe, sem a menor sombra de dúvida, um precioso exemplar de PÚCARO BÚLGARO, provavelmente do início do século 13 a.C. – sob a dinastia Lovtschajik.
Atenciosamente.
Isso veio decidir, de uma vez por todas, sobre o destino do autor.
Como toda gente, também ele sempre ouvira falar, desde a mais tenra infância, sobre púcaros e sobre búlgaros – mas sempre achando que se tratava apenas de um jogo de palavras ou, na melhor das hipóteses, de personagens de contos de fadas, tão reais quanto as aventuras do barão de Münchhausen.
Nunca lhe passara pela cabeça que, numa esquina qualquer do mundo, de repente lhe pudesse aparecer pela frente um búlgaro segurando um púcaro, ou então um púcaro com um búlgaro dentro, ou ainda e muito menos um púcaro simplesmente búlgaro – com data, etiqueta e tudo, e sob a proteção da bandeira dos Estados Unidos da América. Afeito a indagações altamente filosóficas, sem falar das metafísicas e das metapsíquicas, além das que vêm de Nostradamus e de outros planetas – dispôs-se o autor a, passado o primeiro instante de surpresa que durou exatamente 18 meses, vir a campo e aceitar o desafio que acintosamente lhe ativara a poderosa máquina de propaganda ianque, armando-se se preciso fosse até os dentes, sobretudo os caninos, em defesa de seus princípios e conseqüentemente de seus fins. Outros 18 meses levou o autor nessa luta desigual com o imperialismo norte-americano, ele e mais ninguém – que todos se recusavam cinicamente a discutir sequer de longe o assunto, pretextando a hora do chá ou outros afazeres semelhantes sempre que se aventava a hipótese de os céus de Filadélfia estarem acobertando uma deslavada impostura. Em vão se tentou chamar à realidade os espíritos mais pragmáticos, para os quais a Wall Street e o Vaticano sempre se constituíram na última palavra, esquecidos eles de que as últimas palavras sempre foram as dos mortos, dos que já morreram há milênios e ainda estão se putrefazendo de pé, como as múmias e as ruínas ditas clássicas – como se também isso fosse possível, uma coisa ser clássica e ruína ao mesmo tempo.
Nada tinha como nada tem o autor, evidentemente, contra nenhum búlgaro em carne e osso, desde que ele se dispusesse a exibir a sua carne e os seus ossos a quem os quisesse ver, como terá que fatalmente exibi-los no Dia do Juízo. Nada tem igualmente contra os púcaros na sua simples condição de púcaros, uma vez que não se metam a búlgaros e saiam para a praça pública a gritar – SOU UM PÚCARO BÚLGARO, SOU UM PÚCARO BÚLGARO – sem que se possa examiná-los de perto e mesmo tocá-los com os dedos, como acontece nos museus. Nos dicionários eles lá estão, um e outro, com os seus verbetes – mas isso é fácil, Deus também lá está: queria é vê-los o autor aqui fora, resplandecentes de luz solar e não de luz elétrica ou gás neón, e sem os canhões de Tio Sam para lhes garantir a pucaricidade ou a bulgaricidade.
O autor tentou honestamente imaginar-se um púcaro ou um búlgaro e não conseguiu, e ainda menos um púcaro búlgaro ou um búlgaro com púcaros na mão, na cabeça ou debaixo das axilas. Imaginou-se sem dificuldade um cavalo ou um guarda-chuva, e até mesmo um cavalo com um guarda-chuva – chegando ao extremo de imaginar-se um dia o próprio Museu Histórico e Geográfico de Filadélfia, mas sem púcaro búlgaro dentro. Essa experiência, também ela, lhe foi decisiva.
E como o que existe, ou dizem existir, é o reino dos búlgaros e não o reino dos púcaros, entendeu o autor que o mais prudente seria organizar uma expedição que fosse logo à procura daquele e não deste – o que fez ou se pôs a fazer no verão de 1961, exatamente três anos após aquele infausto acontecimento que lhe valeu quando menos a liberdade de dormir sozinho, embora não dormindo.
Do que se passou e sobretudo do que não se passou nessa expedição já famosa é o relato que se vai ler em seguida, o mais pormenorizado e o mais honesto possível, embora tenha sido reduzido ao mínimo para que pudesse caber num só volume e mesmo num só século – o que afinal se conseguiu.
[...]
Leia texto de Nelson de Oliveira sobre Campos de Carvalho em www.revista.agulha.nom.br/ag9carvalho.htm
“Em meados de abril de 1998, depois de passear, tomando sorvete, pelas alamedas de um tradicional bairro paulistano, Campos de Carvalho, o último dos moicanos da santíssima trindade de nossa prosa - ao lado de Guimarães Rosa e Clarice Lispector - aos 83 anos decidiu que já era hora de morrer. Não se reconhecia mais em parte alguma, muito menos na fala excitada dos poucos admiradores que esporadicamente o procuravam. Enfarto, enquanto dormia. Quem há de recriminá-lo? Pior pra nós. Perdemos um mau-humorado, que, descrente da lógica, de Deus e da existência da Bulgária, escolheu justamente a Semana Santa pra bater as botas.
Moral da história: "Quatro pessoas no velório. Quatro! Nenhum amigo, ninguém da imprensa. Não tinha gente pra carregar o caixão, gente!" desabafa Mário Prata, cuja mãe era prima do falecido. [...]”
Leia, também, texto do grande Cláudio Willer sobre Campos de Carvalho em www.revista.agulha.nom.br/ag4willer.html:
Por Campos de Carvalho
Explicação Necessária
Se a Bulgária existe, então a cidade de Sófia terá que fatalmente existir. Este o único ponto no qual parecem assentir os que negam e os que defendem intransigentemente a existência daquele país, desde os tempos antediluvianos até os dias pré-diluvianos de hoje.
Neste livro não se pretende firmar nenhuma verdade definitiva sobre essa imortal controvérsia, em que pese ao número crescente de pseudoviajantes e outros aventureiros que, munidos de documentos irrefutáveis, provam ou tentam provar a cada passo o seu respeitável ponto de vista – escudados muitas vezes no prestígio de assembléias ou conferências as mais internacionais. O autor pessoalmente, e é o que se verá, já teve oportunidade de conhecer e mesmo de entabular conversação com mais de um relutante búlgaro, e até mesmo com uma búlgara, todos de uma reputação acima de ilibada e merecedores da maior estima e simpatia: mas como também já viu de perto alguns fantasmas e até o próprio Diabo, reserva-se o direito de só opinar definitivamente sobre o assunto depois que outros mais abalizados ou afortunados o tenham feito, à luz das novas ciências ou das que porventura ainda estejam por surgir.
Aqui o que se procura é apenas relatar, com o máximo de fidelidade, a experiência pessoal que – quase a contragosto e com o espírito sempre o mais elevado – teve o autor a oportunidade de empreender em torno dessa mirífica e cada vez mais nebulosa disputa geográfica: ou, para dizer com mais exatidão, em torno desse espanto geonomástico, como tão bem o definiu um famoso historiador búlgaro. Se bem ou malsucedida essa experiência, face aos pouco prováveis resultados que dela possam advir para o progresso da astrofísica ou da astrologia, este já é um assunto que por sua natureza escapa aos limites da presente obra, embora sejam eles tão evanescentes e imaginários quanto os do próprio reino da Bulgária. Entende o autor, apenas, que muito mais importante do que ir à Lua é ir ou pelo menos tentar ir à Bulgária – ou, quando menos, descobri-la.
Os Prolegômenos
No verão de 1958 o autor visitava tranqüilamente o Museu Histórico e Geográfico de Filadélfia quando, ao voltar-se um pouco para a direita, avistou de repente um púcaro búlgaro. A impressão causada pelo estranho acontecimento foi tamanha que no dia seguinte ele embarcava de volta no primeiro avião, deixando a mulher no hotel sem dinheiro ao menos para pagar as despesas.
Não falou o autor sobre o caso com ninguém, nem mesmo na ação de desquite que lhe moveram a mulher e todos os seus parentes consangüíneos ou colaterais, até que ano e meio mais tarde resolveu escrever ao próprio diretor do museu indagando, após muitos circunlóquios, se na sala x à direta, e à luz do meio-dia, podia inequivocamente ser visto um – e disse o nome. A resposta veio pronta e sem evasivas:
Prezado Senhor.
Respondendo a sua insólita e despropositada carta de 18 do corrente, venho informar que, após minuciosa diligência efetuada por pessoal altamente técnico e de reputação acima de qualquer suspeita, chegou-se à constatação de que na sala 304-B (ala direita) deste museu existe, sem a menor sombra de dúvida, um precioso exemplar de PÚCARO BÚLGARO, provavelmente do início do século 13 a.C. – sob a dinastia Lovtschajik.
Atenciosamente.
Isso veio decidir, de uma vez por todas, sobre o destino do autor.
Como toda gente, também ele sempre ouvira falar, desde a mais tenra infância, sobre púcaros e sobre búlgaros – mas sempre achando que se tratava apenas de um jogo de palavras ou, na melhor das hipóteses, de personagens de contos de fadas, tão reais quanto as aventuras do barão de Münchhausen.
Nunca lhe passara pela cabeça que, numa esquina qualquer do mundo, de repente lhe pudesse aparecer pela frente um búlgaro segurando um púcaro, ou então um púcaro com um búlgaro dentro, ou ainda e muito menos um púcaro simplesmente búlgaro – com data, etiqueta e tudo, e sob a proteção da bandeira dos Estados Unidos da América. Afeito a indagações altamente filosóficas, sem falar das metafísicas e das metapsíquicas, além das que vêm de Nostradamus e de outros planetas – dispôs-se o autor a, passado o primeiro instante de surpresa que durou exatamente 18 meses, vir a campo e aceitar o desafio que acintosamente lhe ativara a poderosa máquina de propaganda ianque, armando-se se preciso fosse até os dentes, sobretudo os caninos, em defesa de seus princípios e conseqüentemente de seus fins. Outros 18 meses levou o autor nessa luta desigual com o imperialismo norte-americano, ele e mais ninguém – que todos se recusavam cinicamente a discutir sequer de longe o assunto, pretextando a hora do chá ou outros afazeres semelhantes sempre que se aventava a hipótese de os céus de Filadélfia estarem acobertando uma deslavada impostura. Em vão se tentou chamar à realidade os espíritos mais pragmáticos, para os quais a Wall Street e o Vaticano sempre se constituíram na última palavra, esquecidos eles de que as últimas palavras sempre foram as dos mortos, dos que já morreram há milênios e ainda estão se putrefazendo de pé, como as múmias e as ruínas ditas clássicas – como se também isso fosse possível, uma coisa ser clássica e ruína ao mesmo tempo.
Nada tinha como nada tem o autor, evidentemente, contra nenhum búlgaro em carne e osso, desde que ele se dispusesse a exibir a sua carne e os seus ossos a quem os quisesse ver, como terá que fatalmente exibi-los no Dia do Juízo. Nada tem igualmente contra os púcaros na sua simples condição de púcaros, uma vez que não se metam a búlgaros e saiam para a praça pública a gritar – SOU UM PÚCARO BÚLGARO, SOU UM PÚCARO BÚLGARO – sem que se possa examiná-los de perto e mesmo tocá-los com os dedos, como acontece nos museus. Nos dicionários eles lá estão, um e outro, com os seus verbetes – mas isso é fácil, Deus também lá está: queria é vê-los o autor aqui fora, resplandecentes de luz solar e não de luz elétrica ou gás neón, e sem os canhões de Tio Sam para lhes garantir a pucaricidade ou a bulgaricidade.
O autor tentou honestamente imaginar-se um púcaro ou um búlgaro e não conseguiu, e ainda menos um púcaro búlgaro ou um búlgaro com púcaros na mão, na cabeça ou debaixo das axilas. Imaginou-se sem dificuldade um cavalo ou um guarda-chuva, e até mesmo um cavalo com um guarda-chuva – chegando ao extremo de imaginar-se um dia o próprio Museu Histórico e Geográfico de Filadélfia, mas sem púcaro búlgaro dentro. Essa experiência, também ela, lhe foi decisiva.
E como o que existe, ou dizem existir, é o reino dos búlgaros e não o reino dos púcaros, entendeu o autor que o mais prudente seria organizar uma expedição que fosse logo à procura daquele e não deste – o que fez ou se pôs a fazer no verão de 1961, exatamente três anos após aquele infausto acontecimento que lhe valeu quando menos a liberdade de dormir sozinho, embora não dormindo.
Do que se passou e sobretudo do que não se passou nessa expedição já famosa é o relato que se vai ler em seguida, o mais pormenorizado e o mais honesto possível, embora tenha sido reduzido ao mínimo para que pudesse caber num só volume e mesmo num só século – o que afinal se conseguiu.
[...]
Leia texto de Nelson de Oliveira sobre Campos de Carvalho em www.revista.agulha.nom.br/ag9carvalho.htm
“Em meados de abril de 1998, depois de passear, tomando sorvete, pelas alamedas de um tradicional bairro paulistano, Campos de Carvalho, o último dos moicanos da santíssima trindade de nossa prosa - ao lado de Guimarães Rosa e Clarice Lispector - aos 83 anos decidiu que já era hora de morrer. Não se reconhecia mais em parte alguma, muito menos na fala excitada dos poucos admiradores que esporadicamente o procuravam. Enfarto, enquanto dormia. Quem há de recriminá-lo? Pior pra nós. Perdemos um mau-humorado, que, descrente da lógica, de Deus e da existência da Bulgária, escolheu justamente a Semana Santa pra bater as botas.
Moral da história: "Quatro pessoas no velório. Quatro! Nenhum amigo, ninguém da imprensa. Não tinha gente pra carregar o caixão, gente!" desabafa Mário Prata, cuja mãe era prima do falecido. [...]”
Leia, também, texto do grande Cláudio Willer sobre Campos de Carvalho em www.revista.agulha.nom.br/ag4willer.html:
“Aos 16 anos, matei meu professor de lógica. (…) e fui morar sob uma ponte do Sena, embora nunca tenha estado em Paris.À noite a lua vem da Ásia, mas pode não vir, o que demonstra que nem tudo neste mundo é perfeito.Mesmo morto, continuarei dando meu testemunho de morto. Esta chuva imóvel, serei eu que a estarei cuspindo.Estou lírico como um teatro de ópera, e é bom que assim seja, que assim esteja, nesta noite tão rica em presságios, tão próxima do abismo dos céus e dos abismos do mar.Saí para matar o tempo e matei-o.Copacabana é um bairro onde se pode viver tranqüilamente, desde que se seja louco.
Essas frases fazem parte de enredos lacunares, feitos de cenas e situações que parecem não levar a lugar algum, e que, em O púcaro búlgaro, seu último livro, compõem a viagem a lugar algum. Campos de Carvalho seduz o leitor pela leveza e naturalidade. Talvez isso ocorra pelo modo como escrevia, espontaneamente (O púcaro búlgaro teria sido realizado em 24 dias), movido por um rigor que o obrigava a proibir-se de refazer seus textos. Deixou-nos, por isso, uma prosa fluente em sua descontinuidade.”
Em 1995 a Editora José Olympio relançou os quatro principais romances de Campos de Carvalho num único volume intitulado Obra Reunida.
Livro - Obra Reunida - Campos De Carvalho
Campos De Carvalho
Em Falta
Campos de Carvalho morreu em 1998, aos 81 anos. FONTE: LITERATURA E ARTE NO PLURAL - CRONOCÓPIOS
Campos de Carvalho morreu em 1998, aos 81 anos. FONTE: LITERATURA E ARTE NO PLURAL - CRONOCÓPIOS
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