terça-feira, agosto 29, 2006


Outros terão
um lar, quem sabe,
amor, paz, um amigo.
A inteira, negra e fria solidão
está comigo.

A outros talvez
Ha' alguma coisa quente, igual,
afim no mundo real.
Não chega nunca a vez
para mim.

"Que importa?" Digo,
mas só Deus sabe
que o não creio.
Nem um casual mendigo
`a minha porta sentar-se veio.

"Quem tem de ser?"
Não sofre menos quem o reconhece.
Sofre quem finge desprezar sofrer
pois não esquece.

Isto até quando?
Só tenho por consolação
que os olhos se me vão
acostumando à escuridão.

Fernando Pessoa, 13-1-1920.

Nenhum comentário:

Postar um comentário