Os mortos da praça
Pablo Neruda
Eu não venho chorar aqui onde tombaram:
Venho a vós, acudo aos que vivem.
Acudo a ti e a mim e em teu peito bato.
Antes outros tombaram. Lembras? Sim, lembras?
Outros que os mesmos nomes e sobrenomes tiveram.
Em San Gregório, em Lonquimay chuvoso,
Em Ranquil, derramados pelo vento,
Em Iquime, enterrados na areia,
Ao longo do mar e do deserto
Ao longo da fumaça e da chuva,
Dos pampas aos arquipélagos,
Foram assassinados outros homens,
Outros que se chamavam Antonio como tu
E que eram como tu pescadores ou ferreiros
Carne do Chile, rostos
Cicatrizados pelo vento,
Martirizados pelo pampa,
Firmados pelo sofrimento.
Encontrei pelos muros da pátria,
Junto à neve e sua cristalaria,
Atrás do rio de ramagem verde,
Debaixo do nitrato e da espiga,
Uma gota de sangue de meu povo
E cada gota, como o fogo, ardia. (Canto General – V- A Areia Traída – III , p. 200-1)
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